Uma metáfora ensolarada, assim como Kate Winslet

Para ver no cinema: RODA GIGANTE (Wonder Wheel)
Nota 8

O título original deste filme de Woody Allen, em cartaz nos cinemas, é muito mais interessante que a tradução simplista para o português. Wonder Wheel não é apenas uma roda gigante, é uma roda das maravilhas, admirações, assombros e perplexidades da vida. Que calha de acontecer no cenário de um parque de diversões, com uma grande roda-gigante ao fundo. Esta roda é boa metáfora para o sobe-e-desce da vida, para nossos ápices e quedas, para os momentos em que nos sentimos no topo do mundo e aqueles outros em que parecemos soterrados por uma imensa estrutura de ferro cheia de pessoas sobre nossas cabeças.

Pois bem, podemos simplificar mais ainda dizendo que esta metáfora cobre bem a trama do filme. Como em outros filmes de Woody Allen, há um pequeno fator inusitado na trama, mas, de resto, trata-se de uma rotina que conhecemos de outras tramas, ou de outros humanos com que convivemos. É o quarteto que envolve marido e mulher, pai e filha e o forasteiro, o amante. Que pode envolver também um triângulo amoroso. Enfim, o quarteto que, sozinho, já constituiu milhares de tramas na literatura e no cinema (e nas telenovelas etc).

Que luz maravilhosa!

Essa trama, em si, não é sensacional. Nem mesmo os diálogos — ponto forte de Woody Allen — estão muito brilhantes neste 77º roteiro escrito por ele. Dois ingredientes, no entanto, tornaram este filme muito gostoso de ver: a atuação espetacular da sempre excelente atriz Kate Winslet (e também de Jim Belushi, que interpreta seu marido; Justin Timberlake não está mal, mas é ofuscado pelos dois), e a fotografia ensolarada do italiano Vittorio Storaro (que já fotografou também clássicos como Apocalypse Now, O Último Imperador e Último Tango em Paris), que deixa tudo com um tom de fim de tarde, com aquela iluminação ensolarada maravilhosa, colorida, bem própria dos verões em um parque de diversões em Coney Island.

A fotografia cheia de sol e luz e de cenas externas, aliada a uma trilha sonora divertida, do início do século passado, como esta canção abaixo, que aparece em vários momentos, ajuda a deixar o filme leve, apesar de tratar de dilemas pesados da vida, como a infelicidade no casamento. Uma daquelas mágicas que Allen sabe tão bem fazer, um mestre da comédia dramática que é.

Enfim, é um autêntico filme de Woody Allen. Há os que o detestam, há aqueles que não perderam nenhum dos 54 filmes dirigidos por ele. Eu me coloco entre os dois opostos, e encaixo a produção mais recente no hall dos melhores, onde também estão, por exemplo, Meia-Noite em Paris, Vicky Cristina Barcelona, Scoop, Match Point e Dirigindo no Escuro (e não dos piores, como os esquecíveis Blue Jasmine, Homem Irracional, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos e Tudo Pode Dar Certo).

Assista ao trailer do filme:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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