Aí vai mais um trechinho de “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, que tirei da página 421:

“À margem de uma vala de irrigação, um velho pregador gesticulava, e o povo gritava. O pregador corria para lá e para cá com a fúria de um tigre e fustigava o povo com suas palavras, e o povo arrastava-se pelo chão, a chorar e a uivar. Ele media aquela gente com o olhar; calculava-lhe a disposição, tocava-a como se toca um instrumento. E quando toda aquela gente serpenteava pelo chão, ele se inclinava e erguia, revelando grande força, um por um nos braços, e gritando ‘Tome-os, Jesus’, atirava-os na água. Quando já todos estavam dentro da vala, com água até a cintura, a olhar o mestre com olhares assustados, ele se ajoelhava na margem e rezava por eles. Rezava implorando que todos eles, homens e mulheres, rastejassem pelo chão, a chorar e a uivar. E os homens e as mulheres observavam-no com a roupa colada ao corpo a pingar água. Voltavam depois para o acampamento, os sapatos chapinhando, falando baixinho, cheios de assombro.
Estamos redimidos, diziam. Temos a alma branca como neve. Nunca mais vamos pecar.
E as crianças, molhadas e assustadas, cochichavam entre si: estamos redimidos. Não vamos pecar, nunca mais.
Só queria era saber o que eram esses pecados todos, pra eu cometer eles.”
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