Já deu alguma carona nesta semana?

carona

Sempre gostei de dar carona.

Quando eu não tinha carro, vivia pegando carona com meus amigos para todos os cantos. Ou, mais nova, com os pais e mães de amigos. Quase nunca pegava táxi ou ônibus para sair à noite: alguém sempre passava perto da minha casa e depois me deixava de volta, na hora “encomendada” por minha mãe. Por isso, eu prometia a mim mesma que, quando tivesse meu próprio carro, também sempre retribuiria a boa ação com os outros.

Durante toda a parte motorizada da faculdade, levei meus amigos e um vizinho caladão para a aula. Quando saía à noite, sempre dava carona para os amigos, mesmo os que moravam mais longe, totalmente fora do meu caminho. Já cheguei a deixar um amigo em outra cidade, depois de um show de blues, em plena madrugada. E, agora, que trabalho num jornal que também fica em outra cidade da Grande BH, sempre que posso dou carona para alguém que esteja saindo na mesma hora que eu.

Penso que, se as empresas se organizassem, seria muito fácil todos os motorizados darem carona para os não motorizados, pelo menos de um certo trecho. E isso é bom para todos: aumenta a segurança, com mais pessoas no carro, contribui para diminuir o trânsito, dá para fazer uma economia na gasolina ou na passagem de ônibus, aumenta a agilidade para quem dependeria de vários transportes coletivos e, de quebra, todos ganham uma companhia.

Já existem vários sites hoje que ajudam as empresas a fazerem essa organização, integrando colegas de setores diferentes, para facilitar a negociação por caronas. Um deles é o Caronetas, que só aceita negociar caronas entre funcionários de uma mesma empresa, o que aumenta a segurança de todos. Outro é o Carona Solidária. Outros são mais voltados para quem vai viajar de uma cidade a outra, como o Carona Segura e o Caronas.

Se a prática fosse mais comum no Brasil (como é em outros países), acho que teríamos menos medo de dar caronas a pessoas desconhecidas. Mas, mesmo aqui, às vezes eu me arrisco.

Outro dia, fui contratada para dar uma palestra em uma escola pública do bairro Primeiro de Maio, região norte de BH. Eu conheço muito pouco as regiões norte e leste da cidade e estava morrendo de medo de me perder. Olhei no Google Maps e fui. No meio do caminho, parei para pedir uma informação a um senhor, que estava perto de um hospital. Ele me explicou, acrescentando: “Olha, eu ia pegar o metrô para ir justamente para lá, mas, se você quiser, eu te deixo na porta da escola e pego o metrô na estação em frente, continuando o caminho para casa”. Hesitei por uns cinco segundos, mas fui pela minha intuição e aceitei a proposta. No trajeto, ele me contou que estava no hospital fazendo um exame e teria que voltar naquele dia mesmo, para fazer uma cirurgia nos olhos. A carona ia poupar um tempo danado para ele, que só teria que andar mais uma estação até a própria casa.

Já na avenida Cristiano Machado, vi uma placa que dizia para virar à direita se eu quisesse ir ao Primeiro de Maio. Eu COM CERTEZA teria entrado nela, seguindo a lógica. O moço me alertou: para ir à escola, você precisa ir reto. Se virasse na placa, iria entrar a fundo numa parte perigosa do bairro, onde, segundo ele, sua mulher já tinha até presenciado um assassinato.

Cinco minutos depois, ele me deixou em segurança na porta da escola e foi até o metrô. Desejei-lhe boa sorte na cirurgia e cheguei a tempo para a palestra, faltando apenas cinco minutos para o horário combinado. E pensando: ainda bem que este anjo da guarda tinha aparecido para sugerir uma carona — sem ele, eu teria entrado num lugar errado, me perdido para sair de lá e, com certeza, chegado atrasada para o compromisso!

E foi aí que me dei conta do tanto de prejuízo que temos por termos perdido a fé na humanidade. Por termos tanto medo e tanta desconfiança, perdemos a oportunidade de conhecer novas pessoas, ajudá-las e até de sermos ajudados por elas. E milhares de pessoas perdem a chance de pegarem uma boa e velha carona, ajudando a desafogar o trânsito das grandes cidades.

Nem vai ser eu a pessoa a pregar, neste blog, que todos confiem em todos e deem caronas para qualquer um. Sei dos riscos disso e que há muitas pessoas mal-intencionadas no mundo. Mas deixo, com este post, ao menos uma sugestão: que tal olhar ao redor, entre os colegas da própria empresa, entre os amigos e vizinhos, para tentar descobrir se algum desses rostos conhecidos e amigáveis não estaria precisando da sua carona? 😉

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

12 comentários

  1. Olhando estritamente minha vida profissional não conheço nenhuma empresa que olhe para o lado humano e social dos funcionários. Nem tão pouco o que isso pode gerar, por exemplo, as caronas. Onde trabalho atualmente é proibido o uso de bicicleta para vir ao trabalho, mesmo para quem mora próximo a empresa. Claro algumas atitudes devem vir da própria pessoal mas acho mais interessante quando uma empresa se torna um centro dessas iniciativas. Ainda vivemos na era do resultado acima de tudo. Isso na minha opinião acaba gerando essa falta de humanidade.

    Não sei se entendi direito, mas você disse que o Primeiro de Maio esta na região leste. Como geógrafo e morador do bairro vou te corrigir, estamos ja região norte hehehe. Sendo morador do Primeiro de Maio espero que tenha outras palestras suas aqui e que sejam abertas para quem sabe eu possa assistir pessoalmente e te dar um abraço ou um imã de geladeira.
    Abraço.

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    1. Impressionante: qualquer coisa que eu escrevo sem checar pode saber que tá errado! Não deu outra com o bairro 😦 Desculpa pelo erro, já vou corrigir! hehehe
      Que coincidência você morar lá! Aquela história do assassinato foi exagero do meu caroneiro, né? Essa palestra que eu dei foi para professores de uma escola que fica em frente a uma estação do metrô, na Cristiano Machado. Adoro dar palestras, tomara que surjam mais! 😀
      E concordo com você que o ideal seria que as empresas tomassem a iniciativa de tornar a vida de seus funcionários mais fácil. Uma coisa que gostei naquele site Caronetas é justamente o fato de ele obrigar as empresas a adotar. Os funcionários só negociam as caronas num segundo momento. Quando você sabe que está dando carona a uma pessoa com ficha no RH da sua empresa, mesmo que seja total desconhecida, você se sente muito mais seguro, né?
      abração!

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      1. Deve ser a Escola Estadual Hilton Rocha, não estudei nessa escola mas já joguei muito futebol lá (muito no sentido de quantidade e não de qualidade). Na verdade o bairro (que é uma favela e não me envergonho disso, ao contrario) tem suas épocas que são perigosas. Mas é um perigo “restrito aos bandidos”, moro la a 20 anos e não me lembro de nenhuma pessoa fora do ciclo da “bandidagem” (não encontrei outra palavra) que sofreu com violência. Mas com a construção da nova rodoviária, que vai ser bem do lado, estamos prevendo uma grande mudança no bairro.

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  2. Criatura, se eu te disser que do meu bairro saem 05 pessoas (eu incluída) para o trabalho no mesmissimo lugar, com poucos minutos de diferença, e cada qual no seu carro, você acredita? O menos pior é que não passamos por vias de grande movimento.
    Mas é o cumulo, não?

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  3. Também sou super adepta de caronas, por todos os motivos que você listou.
    Quando estava no primeiro período da faculdade as aulas eram no campus da Pampulha, muito longe da minha casa, e assim que eu punha meus pés para fora do prédio perguntava ao primeiro motorista que estivesse dando partida no carro para onde ele estava indo e se podia me dar uma carona. Quase todo mundo passava pelo centro e eu descia no centro. Cara de pau grau máximo, né? rs
    É uma excelente forma de conhecer pessoas!!!!! Dentro do carro ou as pessoas conversam entre si ou fica aquele silêncio de mil toneladas carregando o ambiente.
    Meu namorado inclusive eu conheci assim. Ele estava sozinho no carro, perguntei para onde ele estava indo e se podia entrar, ele me olhou com uma cara meio irônica e disse que sim. Aí a gente foi conversando etc e um dia ele me perguntou o que me fez entrar no carro dele, e acho que ficou meio decepcionado quando eu disse que sempre que as circunstâncias permitem, eu peço carona. Parece que ele meio que esperava algo como “olhei para você e de imediato soube que era a pessoa da minha vida, por isso pedi a carona” hahaha

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    1. Que demais, Elisa! Eu podia incluir esta na lista de vantagens: se a gente não fosse tão desconfiados e pegasse mais caronas na vida, ainda podíamos conhecer, quem sabe, o grande amor de nossas vidas assim! Bem melhor que ir sozinha ouvindo CBN, né 😉

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  4. Bom, aqui no interior do Paraná… esse negócio de dar carona não funciona muito bom… a última vez que meu Tio deu uma carona para um (aparentemente) trabalhador… acabou tendo sua Hillux roubada e ainda por cima, ficou horas em cativeiro! rsrs

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