Uma defesa das caronas

Cena do filme “On The Road”, com sua fartura de caronas.

Há exatamente uma semana, uma conhecida que é de Beagá e mora em São Paulo postou o seguinte comentário em seu Facebook: “Não está chovendo, não é sexta-feira, são OITO da noite, e mesmo assim a Marginal parece um estacionamento. Alguém me explica a lógica dessa cidade??”

Respondi: “Explico: média de 1,4 passageiros por veículo + IPI reduzido + lógica das pessoas e dos governos só voltada para a idolatria dos carros.” E indiquei a leitura DESTE post.

Essa média de 1,4 passageiros por veículo era a informada pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) sempre que perguntada sobre a situação de São Paulo e também me foi informada aqui em Beagá por um engenheiro de transportes mineiro. Ao que parece, é a média de ocupação de veículos em todas as capitais brasileiras, se não for no mundo todo.

Hoje resolvi fazer um pequeno teste, embora não científico, pelo tamanho da amostra. Durante 20 minutos da minha viagem de ônibus de uma região a outra de Beagá, passando pelo centro, anotei quantos carros passaram por mim e qual era a ocupação de cada um. Apenas excluí aqueles que não consegui enxergar com certeza e os que transportam passageiros, como táxis e escolares, que são pontos fora da curva.

O resultado foi o seguinte:

  • 192 carros no período,
  • dos quais 128 tinham APENAS UM PASSAGEIRO (ou seja, só o motorista),
  • 60 tinham DOIS PASSAGEIROS (motorista e mais um),
  • 2 tinham três passageiros e
  • 2 tinham 4 passageiros. Totalizando 262 passageiros distribuídos nos 192 carros.

A média nessa amostra foi, portanto, de 1,36 passageiros por veículos — ou seja, bem próximo da tal média histórica.

O que isso nos diz? Que, muito embora possamos culpar com folga os administradores públicos pela precariedade dos transportes coletivos, pela falta de opções de metrô, trem e ônibus, pela falta de corredores exclusivos que agilizem esse transporte, pelas más condições dentro dos coletivos etc, boa parte da culpa por essa situação caótica em que se encontram as cidades, com suas verdadeiras ruas-estacionamento, diz respeito à cultura de amor ao automóvel em que estamos inseridos e que muitos de nós adotam com prazer (e um certo masoquismo).

Por isso, para conter esse processo,  são válidas medidas restritivas, como rodízio, pedágio urbano, restrição do uso de faixas de rolamento apenas para coletivos ou para carros com caronas etc.

Enquanto elas não são tomadas, podemos fazer nossa parte. ESTE premiado site é uma das iniciativas bacanas que surgiram nesse sentido, que podem ser adotadas pela empresa em que você trabalha, garantindo caronas seguras*. Já até fiz uma materinha sobre ele. Se cada motorista der duas ou três caronas em seu percurso diário, serão duas ou três vezes menos carros nas ruas. Já é alguma coisa 😉

* Numa rápida busca no Google, achei outras opções de sites, que prometem facilitar as caronas seguras: Carona Brasil, Caroneiros, Carona Segura, Caronas, e-Carona, Unicaronas e O Carona.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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