Pau que bate em Chico bate em…

Texto escrito por José de Souza Castro:

Muito bom o artigo do veterano jornalista Alberto Dines publicado hoje no Observatório da Imprensa sobre o julgamento, pelo Supremo, do ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, do PT paulista. Melhor ainda, porque ele refresca nossa memória ao republicar dois artigos escritos em 2005 e 2006, nos quais criticou não apenas o comportamento do político que torrou o dinheiro do contribuinte fazendo anúncios em louvor da Câmara, mas sobretudo da imprensa, que se locupletou em silêncio.

O primeiro artigo foi escrito em 15 de fevereiro de 2005, antes da eclosão do escândalo do Mensalão e no dia em que Cunha se despedia da presidência da Câmara. Trecho:

“O deputado foi, sem dúvida, um inovador. Sobre isso não há menor dúvida. No pior sentido da palavra. A sua participação numa mensagem promocional da Rede Globo e a custosa campanha de publicidade nos principais veículos do país para resgatar a péssima imagem da Câmara sob a sua gestão são inéditos. Inéditos e vexatórios. Na história republicana não há muitos exemplos desse tipo de populismo institucional.

O organismo mais representativo da sociedade brasileira não pode comprar espaço na mídia para mostrar que é responsável e está à altura de suas atribuições. Se precisa valer-se deste artifício promocional é porque falhou redondamente.”

No segundo, de 9 de agosto de 2006, quando João Paulo seria julgado pela Comissão de Ética da Câmara – e absolvido – Dines afirma que o contrato irregular com uma agência de Marcos Valério, no valor de R$ 9 milhões, destinava-se àquela campanha publicitária. E acusa:

“O grande ilícito é justamente esse que a grande imprensa teima em não lembrar. Onde já se viu gastar o dinheiro do contribuinte para prestigiar um poder da República e, ainda por cima, tão desprestigiado? (…) A mídia é cúmplice de João Paulo Cunha. Ela veiculou propaganda enganosa e calou diante de uma gritante irregularidade que envergonha qualquer República. Alguém deve pagar por isso – o corruptor ou o corrompido”.

No artigo de hoje, Dines volta a bater na imprensa:

“E por que razão a evidente imoralidade e escancarada falta de ética escaparam do escrutínio e da sagacidade de nossos opinionistas? Simplesmente porque nossa mídia não costuma rejeitar anúncios, reclames, nem questionar os seus termos. É uma das bases da indústria jornalística: você compra o nosso espaço (ou tempo) e nós veiculamos a sua mensagem. Pagou, levou; à breca os escrúpulos.”

Como se vê, passados sete anos, a imprensa e Dines continuam os mesmos. O leitor decide quem bate melhor.


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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