Dilma Rousseff e o complexo de vira-latas

Foto tirada do site da Jovem Pan.

Texto de José de Souza Castro:

No dia 27 de dezembro do ano passado, escrevi um artigo que intitulei “O Rolls-Royce da mãe dos pobres”, sobre o automóvel que desde os anos 50 fazem parte de nosso complexo de vira-latas. Complexo ao avesso, quando se trata da Presidência da República.

Volto ao tema caro a Nelson Rodrigues para comentar notícia divulgada nesta semana pela “Folha de S. Paulo”, dando conta de que a reforma e os eletrodomésticos da casa em que Dilma Rouseff vai passar com a família as férias no litoral baiano custaram aos contribuintes, pelas mãos generosas de nossa Marinha, cerca de R$ 650 mil.

Somos ainda a sexta economia mais desenvolvida do mundo, pelo que se noticiou nesta semana, mas a Presidência da República do Brasil já se comporta como a primeira – os Estados Unidos.

Passamos a Grã-Bretanha em Produto Interno Bruto. É o que nos faz crer um estudo do CEBR (Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios), instituição londrina, mas temos 11 milhões de pessoas vivendo “clandestinamente” em favelas, pois sem uma residência que possam chamar de sua.

Mas temos uma Presidência da República e uma Marinha – aquela mesma que há apenas um século ainda castigava a chibatadas os pobres marinheiros – que não se avexam de comprar para a casa em que Dilma Rousseff está gozando suas férias, os seguintes itens, segundo dados levantados pela ONG Contas Abertas e reproduzidos pelo jornal: oito TVs de LCD, sete DVDs e um home theater. “Outros R$ 37 mil foram destinados a comprar cortinas de tecido linho misto e blackouts. A compra incluiu ainda espreguiçadeiras (R$ 5.599), uma chaise longue dupla (R$ 4.212), três guarda-sóis (R$ 426 cada) e seis frigobares (R$ 4.885)”, detalha o jornal.

E o ritmo da reforma da casa da Marinha é bem um retrato do Brasil eficiente. Informação do mesmo jornal paulista: “A residência já havia passado por uma reforma avaliada em R$ 800 mil, em 2009, quando hospedou o então presidente Lula. A nova restauração custou ao governo R$ 195.427,40. O restante do valor [ou cerca de 455 mil reais] é para a compra de eletrônicos e móveis.”

A casa fica na Praia de Irema, privativa da Marinha, situada no litoral baiano. A presidente está acompanhada, nas curtas férias, da filha Paula, da mãe Dilma Jane, do neto Gabriel, do genro Rafael Covolo, do ex-marido Carlos Araújo e de uma tia cujo nome não foi revelado pelos repórteres Márcio Falcão, Lúcio Vaz, Andreza Matais e Graciliano Rocha, que contaram a história aos leitores da “Folha”.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, certamente não vai comentar tais gastos cobertos pelos impostos que o governo nos obriga a recolher, mas ele se prontificou a falar sobre a pesquisa do CEBR, que põe o Brasil entre as seis maiores economias do mundo – atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França – e reconheceu que o país pode demorar de 10 a 20 anos para atingir o padrão de vida europeu.

Otimista, o Mantega!

O Brasil ocupa hoje a 84ª posição entre 187 países no ranking de desenvolvimento humano da ONU, divulgado em novembro passado. Tenho por mim que os gastos exorbitantes e injustificados da Presidência da República não contribuem para apressar o processo de nosso desenvolvimento humano. E não há como contê-los, pois quem o poderia fazer – o Legislativo e o Judiciário – só fazem por aumentar seus próprios gastos e mordomias… e o povo que se dane!


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

9 comments

  1. Um grande problema nosso, Cris, é que muitos dos oprimidos e injustiçados hoje fariam o mesmo se estivessem no lugar dos opressores. Também, muitos que estão na oposição criticando, quando tiverem uma fatiazinha do bolo sequer, ou virarem situação, terão sua posição de críticos bastante atenuada. Ou talvez nem podemos chamar de críticos, pois um bom crítico é aquele que tenta construir algo em cima dos erros, não apenas destruir o que outros estão fazendo ou tentando fazer – mas como é mais fácil destruir do que construir. 😉 E para colaborarmos entre grupos com pensamentos diferente (se é que temos grupos ou partidos com algum pensamento, hehe), assumir a boa-fé é essencial.

    Um comentário que fiz quando fui num evento a convite da secretaria da presidência da república:

    “Seminário de participação social, tudo muito bom: 1. hotel cinco estrelas, 2. comida de primeiríssima qualidade, 3. super fácil chegar no evento, já que fica no hotel. Sobre 3, tudo bem (apesar que sentir um pouco como seria ter que chegar aqui usando transporte público poderia ser uma boa experiência). Já sobre 1 e 2, é necessário tamanho luxo? Quanto poderíamos baratear o encontro? (tem como eu checar quanto foi gasto?) Estou na oficina de orçamento participativo, gostaria de participar também na minimização dos custos públicos. (Ops, estou aqui como convidado. Se eu falar isso talvez não me convidem mais. : )”

    Foi uma pena quase não ver ninguém dos movimentos sociais estranhando toda aquele mordomia.

    E certo estou que se mostrasse em imagens o que relatou aqui para o povo, seriam poucos os que se indignariam e muitos que se calariam por pouco. Às vezes acho que temos o que “merecemos”.

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      1. Hehe, o evento é recente, então não sei. Verei com o tempo.

        Em geral sou otimista, mas tendo a procurar evidências que confirmem minhas expectativas para evitar frustrações, se não der certo. 🙂

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  2. Do Clóvis Rossi, na Folha Uol:

    Pequena contribuição para a excitação em torno do sexto lugar a que chegou a economia brasileira, derrotando o Reino Unido: dê uma olhadinha na tabela abaixo, “chupada” de “El País”.

    Arte [para ver o quadro e o texto na íntegra: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/1027998-nem-chegamos-perto.shtml%5D

    Duas observações de Clóvis Rossi (há outras lá): 1. O salário mínimo brasileiro, convertido a euros, é de € 225, o mais débil de todos os 21 países listados; 2. O salário mínimo britânico (€ 1.138,50) quintuplica o do Brasil, o que é ainda pior do que a diferença de renda per capita entre os dois países, que é de “apenas” três vezes.

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  3. O Centro de Comunicação Social da Marinha divulgou na noite de ontem (30/12) nota dizendo que a restauração da casa na Base Naval de Aratu foi iniciada em outubro de 2010, não tendo, portanto, relação com a recente agenda da Presidenta da República no estado. As obras foram concluídas este ano, no final de novembro. Antiga residência funcional da MB, a construção estava degradada, com redes de água, esgoto e energia elétrica que não mais ofereciam condições adequadas para operação e manutenção. E conclui: “O projeto de restauração incluiu a substituição de materiais deteriorados e a troca de eletrodomésticos antigos por outros de baixo consumo de energia. O processo de aquisição desses equipamentos e de mobiliário iniciou-se após o encerramento das obras de engenharia civil. Parte desses equipamentos já foi entregue pela contratada e o restante deverá ser entregue até o prazo final estabelecido em contrato, que é de 60 dias.” A nota não explica porque numa casa são necessários, por exemplo,
    oito TVs de LCD e sete DVDs. Na diz, também, da reforma feita em 2009. Ou seja, além de demorar quatro dias para dar as informações solicitadas pelo jornal, há omissões inexplicáveis na nota.

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  4. Hoje em dia quem quiser se informar tem de recorrer ao blogs,que a imprensa só desinforma. E a tal Ana,nova mulher do ex-marido da Dilma,não estava lá não?

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