Vale ver no cinema: A Ordem do Tempo (L’ordine del tempo)
2023 | 1h53 de duração | Classificação: 14 anos | nota 8
Este filme é sobre nove amigos que se conhecem há décadas e costumam se reunir de vez em quando. Desta vez, a ocasião especial, em uma casa à beira-mar, era a celebração do aniversário de 50 anos de Elsa. Estão presentes seu marido Pietro, a filha adolescente Anna, os casais de amigos Greta e Jacob e Paola e Viktor, além de Jasmine e Giulia.
Enrico chega atrasado, trazendo uma grande instabilidade ao ambiente festivo. Seja porque ele é um caso de amor mal resolvido de Paola, seja por ser um físico famoso, que está em contato com um observatório, que analisa, naquele exato momento, a aproximação bastante perigosa de um asteroide de grandes proporções, que viaja pelo Sistema Solar em alta velocidade.
A partir do momento que ele revela essa informação, cuja magnitude ainda não tinha sido divulgada pela imprensa, passamos a acompanhar esse grupo de amigos lidando com a perspectiva não só de talvez morrerem em breve, mas de toda a vida humana poder ser extinta do planeta abruptamente.
A tensão que vai sendo costurada na história é muito boa, facilitada pela presença de um punhado de atores e atrizes veteranos da Itália (alguns já conhecidos de Hollywood, como Richard Sammel).
Mas não se trata de mais um filme de fim de mundo, ou não apenas isso. O que o diferencia de outros do gênero é que Enrico não tem certeza sobre a colisão do astro vindo do espaço com a Terra. Ele diz que existe uma possibilidade de 1%, que depois sobe para 2%, e que tinha uma tendência de subir ainda mais.
Ou seja, existe um risco muito grande de que, no fim do dia, toda a vida humana – inclusive a desses amigos – não existirá mais. Mas existe uma possibilidade de que isso não ocorra.
E é a incerteza que os mantém de pé.
Muitos dos personagens do filme são físicos (pelo menos quatro, pelo que percebi), então existe toda uma discussão e uma explicação científica entremeando os diálogos. O roteiro, aliás, se inspira no livro “A Ordem do Tempo”, do físico teórico italiano Carlo Rovelli – que também prestou consultoria técnica para o filme.
Então existe toda uma profundidade científica e filosófica embasando a história.
Achei um pouco inverossímil a calma com que todos lidam com essa incerteza pairando sobre suas cabeças. Bom, cada um age de um jeito, na verdade. Há o que vai embora, há a que vai se consultar com uma amiga freira. E todos se encharcam de álcool e maconha para tolerar o medo. Mas ninguém chega a perder a cabeça. Vão tocando as rotinas como se houvesse amanhã, no máximo deixando de colocar o pijama ou de escovar os dentes antes de dormir.
Por outro lado, é notável a vontade de todos de acertarem ponteiros, pedirem desculpas, fazerem declarações de amor, dizerem o ainda não dito. “Essa enorme rocha pairando sobre nossa cabeças… isso nos faz falar”, disse uma personagem.
Ou, como constata outra: “Achamos que temos uma quantidade infinita de tempo. Então, de repente, percebemos que não resta mais tempo“.
Talvez os 2% de chance de extinção da espécie sejam um bom empurrãozinho para dar nova perspectiva para a vida, para o que é grave e o que é simplesmente humano… Ou, talvez, o mesmo ocorra com a aproximação da morte – de qualquer morte –, seja ela meteórica ou mais banal.
Será que essa vontade de acertar ponteiros e de ser o mais sincero possível não ataca (ou deveria atacar) todos que chegam a uma certa idade mais avançada? Algum dia, em nossas vidas, percebemos que não temos um tempo infinito.
Não vou dar spoiler, contando se houve ou não a colisão. O que posso dizer é que este filme me fez pensar um bocado. Me senti em casa, junto com aqueles cinquentões, parte da vida e da agonia presente deles. Em menos de duas horas, ficamos todos íntimos. E, já na minha casa, continuei pensando e sonhando a respeito.
Quantos filmes conseguem abalar desta forma a nossa ordem do tempo?
Assista ao trailer de A Ordem do Tempo:
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