Minha homenagem a B.B. King, o rei do blues

Obrigada por tudo, B.B. King!
Obrigada por tudo, B.B. King!

Hoje acordei com a notícia de que o rei do blues havia morrido, enquanto dormia. Apesar da tristeza, não me surpreendi. Não por ele ter 89 anos de idade — até muito recentemente, B.B. King ainda mantinha seu ritmo frenético de um show a cada dois ou três dias, como ele fazia desde a juventude. (Outros astros do rock e do blues, depois que se consolidam no sucesso, preferem parar com essa maratona de turnês, que é tão desgastante. Mas B.B. amava fazer shows!). Não me surpreendi por causa de uma foto que a filha de B.B. divulgou há 15 dias, mostrando um velhinho tão abatido que nem parecia aquele que eu vi nos palcos apenas cinco anos atrás. Como acontece com outros astros, no caso de B.B. parece que há uma disputa judicial entre família e empresário, uma daquelas coisas nojentas envolvendo dinheiro e herança.

Foi lendo sua autobiografia (escrita em coautoria com David Ritz), que aprendi um pouco sobre a história do Blues Boy King, nascido Riley Ben King. Como tantos outros negros de sua geração, ele nasceu e cresceu em uma plantação de algodão — local onde vários blues foram cunhados, worksongs cantadas pelos negros escravos e semiescravos para amenizar o árduo trabalho que tinham que desempenhar. Assim como B.B. King, Magic Slim (morto em 2013) passou pelos “cotton fields”. Também passaram por esta “escola” forçada os bluesmen T-Model Ford (morto em 2013), Pinetop Perkins (morto em 2011) e o incrível Muddy Waters (morto em 1983), dentre vários outros do Delta do Mississippi.

O que aprendi em outubro de 2007, com essa leitura, coloquei no sétimo programa de rádio da Barbearia de Blues, todo dedicado ao rei do blues, que já abre com a estonteante guitarra de “Everyday I have the blues”. Contei, por exemplo, que os dois grandes ídolos de King eram Blind Lemon Jefferson e Lonnie Johnson — que fecha o programa com “Me and my crazy self”. No programa número 8, falo sobre a guitarra Lucille e como ela foi batizada assim por King. E ainda dediquei o último programa da Barbearia, o mais importante e especial, à parceria entre B.B. e o “deus da guitarra” Eric Clapton, com a maravilhosa “Three O’Clock Blues”. CLIQUE AQUI para baixar e ouvir gratuitamente todos os programas da Barbearia 😉

Em 2010, já morando em São Paulo, fiquei sabendo que B.B. voltaria a se apresentar na cidade, com seus 84 anos de idade. Os ingressos para o show no Bourbon Street eram, como sempre, escandalosamente caros (algo como R$ 1.500) e, na Via Funchal, estavam por R$ 300 pra cima. E eu, naqueles tempos mais do que nunca, estava totalmente dura. Provavelmente não teria conseguido ir ao show, se não fosse por uma promoção da rádio Eldorado, daquelas que pedem que a gente envie uma frase com as palavras X e Y. Se não me engano, as palavras tinham que ser B.B. King, Eldorado e Bourbon Street. Fiz uma frase despretensiosa e quase caí da cadeira quando recebi o email dizendo que havia sido uma das escolhidas! Ganhei dois ingressos para a plateia premium, bem pertinho do palco, e chamei a amiga Maná para ir comigo, principalmente como agradecimento por ela ter sido a pessoa que me avisou sobre a promoção.

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Gravei o show inteirinho no meu gravador de áudio, mas, infelizmente, não consigo achar o arquivo em nenhum lugar mais. Mas ainda ficaram dois pequenos vídeos, que hoje divulgo pela primeira vez. Um mostrando a entrada triunfal do rei do blues, aplaudidíssimo, e já procurando sua cadeirinha em que tocaria sentado durante as duas horas seguintes:

E outro mostrando como ele era conversador e adorava contar piadas e fazer gracinhas antes de começar a tocar uma música. Ficou papeando o show todinho! 😀

Não filmei as músicas porque eu queria estar 100% concentrada em ver B.B. King tocando guitarra. Mas isso foi uma pena, porque não tenho nenhum registro meu daquele show. Felizmente, várias outras pessoas fizeram filmagens daquele show, que podem ser encontradas em uma busca simples no Youtube.

No final do show, B.B. King, com toda a sua simpatia indescritível, ainda ficou uns 30 minutos sentadinho em seu trono, diante de uma fila gigante de fãs com vinis e CDs, autografando um a um e posando para fotos! Quantos ídolos da música fazem o mesmo por seus fãs?

Eu tinha o hábito de enviar emails semanais para a família e os amigos mais chegados de Beagá, contando como estava sendo a vida na Terra Cinza. Naquela semana, a mensagem foi assim:

“Nem me lembro mais o que aconteceu no resto da semana, depois da noite de ontem. Fui ao show do BB King, um dos meus grandes heróis da música (e ainda vivo, aos 84 anos, com o mesmo vozeirão que tinha aos 40). (…) Ontem vi o melhor show da minha vida! Ele ainda toca e canta como ninguém, a banda é toda maravilhosa e ele não pára de conversar com o público, contar piadas etc. Anexo algumas fotos pra vocês verem.”

Pra fechar este post, então, coloco algumas dessas imagens que enviei naquele email. Para sempre lembrarmos de um B.B. King impressionante em sua alegria, simpatia, talento, bom humor, e todos os outros requisitos, musicais e pessoais, que o coroaram como rei do blues!

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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