- Texto escrito por Cristina Moreno de Castro
Eu nunca tinha ouvido falar na escritora Virginie Grimaldi, até que um dia a capa de um dos livros dela me chamou a atenção na livraria e descobri, na contracapa, que ela é a autora mais lida da França. Eu tinha acabado de ler um dos ótimos livros da conterrânea Valérie Perrin, gostei da sinopse, outras capas e outras sinopses também me cativaram e fiquei com muita vontade de conhecer esta outra autora francesa.
(Descobri depois que as ilustrações de capa que tanto me despertaram a atenção são todas da pernambucana Paula de Aguiar, maravilhosas!)
O problema é que os livros custavam uns R$ 70 naquela livraria, eu nem sabia se eram mesmo bons, então não me arrisquei a comprar. Fiz melhor: sugeri à biblioteca que frequento que adquirisse alguns exemplares da autora e, meses depois, fiquei na maior alegria ao ver o bibliotecário Rafa Mussolini compartilhando que tinham comprado logo quatro.
Assim que pude, peguei para ler um dos livros, O Que Resta de Nós, com um pouco de medo de ser ruim e eu ter levado a biblioteca a entrar numa fria. Mas, desde a primeira noite, em que só consegui ler o pequeno prólogo, de sete páginas, já fiquei cativada pela narrativa e, principalmente, pelos personagens.
São três principais: Jeanne, uma mulher de 74 anos que tinha acabado de ficar viúva; Iris, uma mulher de 33 anos; e Théo, um garoto de 18. Eles aparentam não ter nada em comum, a começar pela distância geracional, mas têm. Os três são solitários, os três carregam muitas dores, os três mantêm um certo humor apesar dessas dores, e os três vão acabar morando juntos em uma mesma casa, em Paris.
O livro alterna essas três histórias de vida, um capítulo curto para cada personagem, costurando as situações e personalidades de modo que a gente vá conhecendo cada um aos pouquinhos, e não queira parar de ler de jeito nenhum. Não por acaso, devorei este livro em três dias, e teria lido mais rápido ainda se tivesse tido oportunidade.
Achei interessante que os capítulos sobre Jeanne estão sempre em terceira pessoa, enquanto os reservados à perspectiva da Iris e do Théo são narrados com suas vozes em primeira pessoa. Essa alternância de olhares, histórias, pontos de vista e formas de contar o mundo (e às vezes contar até um mesmo episódio) enriquece muito o livro, e torna a leitura ainda mais fácil e interessante.
E, embora as três histórias sejam cheias de situações de tristeza, como já falei, seus personagens não perderam o bom humor, sabe? São, aliás, personagens muito legais, daqueles que a gente sente prazer em acompanhar e torcer por eles, e que sabem rir até das maiores desgraças. Não foi raro eu ter vontade de chorar em uma página e, de repente, soltar uma gargalhada com uma comparação absurda que o narrador da vez soltou.
É um livro que nos faz rir e chorar, às vezes tudo ao mesmo tempo.
As histórias em si não são inusitadas ou surpreendentes, pelo contrário, são histórias comuns. São casos de abandono, violência, abusos, doenças ou morte e luto como já vimos centenas de vezes na literatura. E também histórias felizes, claro. De encontros, amizades inesperadas, velhas amizades, doces lembranças, companheirismo.
O que torna este livro precioso e especial é a forma como são costuradas essas histórias, e como essas vidas vão se entrelaçando, e como vamos nos aproximando dos personagens na mesma medida em que os três também se aproximam, e ganham intimidade.
Vemos uma amizade surgir e se desenvolver de um jeito muito delicado e bonito, em poucos meses. Mostrando que “o que resta de nós”, apesar de todas as dificuldades, ainda pode ser muitíssimo.
Hoje posso dizer, tranquila, que acertei em cheio ao recomendar essa aquisição para a biblioteca. E que fico feliz que tenham acatado minha sugestão. E, sem dúvida nenhuma, que vou ler todos os outros livros de Virginie Grimaldi que chegarem às minhas mãos.
O que resta de nós
Virginie Grimaldi
Ed. Gutenberg
267 páginas
R$ 40,07 na Amazon (preço consultado na data do post, sujeito a alteração)
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É um livro que nos faz rir e chorar. A frase me lembrou um livro que li aos 12 anos: João que chora e João que ri. Não me esqueci da autora, a Condessa de Ségur. Mas, como preciso fazer desde a Covid, precisei reavivar a memória, com a ajuda do Google. E acabei descobrindo que a autora, que eu pensava ser francesa como Virginie Grimaldi, era pseudônimo da russa Sophie Feodorovna Rostopchine, nascida em São Petersburgo em 1799 e falecida em Paris em 1874. Lembrei-me ainda como me emocionei ao ler aquele livro. Vou ler O que resta de nós…
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Mesmo sendo russa, pelo visto ela viveu boa parte da vida na França, onde morreu, né? Daí porque adotou este pseudônimo afrancesado 🙂
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