Para não dizer que não dei uma dica a Bolsonaro
Texto escrito por José de Souza Castro:
Eu estava caminhando numa manhã destas com o guarda-chuva na mão à espera de o céu nublado não me decepcionar e, ao mesmo tempo, preferindo que em vez desse objeto incômodo eu estivesse com a mão ocupada por umas goiabinhas. Sim, goiabinhas. Era com elas que, nos primeiros anos da ditadura de 1964, Stanislaw Ponte Preta descia a rua mordiscando e a meditar sobre o Festival de Besteiras que Assola o País (Febeapá).
Meu pensamento é interrompido ao ouvir uma voz alta, bem à frente:
– Sabe da última? O Bolsonaro vai dar televisor e conversor para todos os moradores dos bairros pobres!
Não foi difícil descobrir quem falava com tanta animação: é uma pedinte negra de uns 40 anos, com uma menininha, que sempre vejo por ali, sentada num ressalto em frente à agência do Banco do Brasil, quando desço a rua da Bahia para fazer uma caminhada.
Ela contava a novidade para outro pedinte mais ou menos de sua idade, sentado no chão, do outro lado da calçada.
– Oh!!! – ele exclamou feliz, e estendeu-me a mão pedindo uma moeda.
Mordi a língua para não retrucar, “pede ao Bolsonaro”. Mordi, mas poupei dessa vez uma moeda. Sempre que vou caminhar, levo moedas – e não goiabas – para que caminhadas nessas circunstâncias de hoje não me façam mais mal à saúde do que bem.
De volta ao apartamento, fui procurar na Internet alguma notícia para confirmar o que ouvira. Nada!

De onde terá surgido essa fake que tanto animou aqueles pobres? Se Bolsonaro não pensou ainda nisso, se tivesse ouvido a expressão de contentamento dos dois, pensaria. Para quem gosta tanto de ditadura, nada melhor do que a ditadura Vargas para inspirar Bolsonaro, que, mesmo governando para sacanear os pobres, poderia ilustrar sua biografia com essa distribuição de televisores e se candidatar a ser o novo Pai dos Pobres.
Com mais televisores e mais dinheiro para as televisões do bispo Edir Macedo e de Sílvio Santos – sem contar que ele pode ainda converter para sua causa a TV dos Marinho, que deve estar se sentindo órfã, gerada que foi numa ditadura e que cresceu e se agigantou com a generosidade de todos os governos –, e mais as legiões de apoiadores aguerridos pela Internet, por que não termos até 2022 um Bolsonaro Pai dos Pobres?
Vejo num verbete da Fundação Getúlio Vargas que o ditador ganhou esse apelido porque suas realizações “foram sistematicamente divulgadas por um aparato de propaganda de massas que prestaram (sic) um verdadeiro ‘culto à personalidade’ do então ditador.”
A propaganda recorria a realizações de Vargas, que “implementou, pela 1ª vez na História do país, uma abrangente política de direitos sociais e trabalhistas, alguns destes antigas reivindicações das classes populares brasileiras”.
Nada delas que se compare, a julgar pelas reações até agora, à realização gigantesca de dar aos pobres uma TV colorida… e, quem sabe, um celular 5G chinês para se alegrar com as fake news divulgadas pela família Bolsonaro.
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro
A luz no fim do túnel, para escritor, está na mobilização das ruas como resposta à crise: ‘Governo é como feijão, só funciona na pressão’Publicado por Redação RBA
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| | | | Redação RBA, Autor em Rede Brasil Atual
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Sem 5g frei Beto …esse , ah leia se
04/05/2015 14:48
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