Brasil em crise e bancos lucram como nunca

Não descobri quem é o autor da charge :(
Não descobri quem é o autor da charge 😦

Texto de José de Souza Castro:

No dia 19 de outubro escrevi artigo mostrando, com base em levantamento da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, que 22 bancos estavam na lista dos 500 maiores devedores da União. Eles deviam um total de R$ 14,4 bilhões, dos quais R$ 4,8 bilhões pelo Bradesco, de cuja diretoria fazia parte o atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O valor, soube-se na semana passada, é quase equivalente ao lucro do Bradesco (R$ 4,12 bilhões) em um único trimestre: o terceiro deste ano.

O Itaucard estava também na lista de devedores, com R$ 1,3 bilhão. E o Banco Itaú Unibanco, do qual faz parte, divulgou nesta terça-feira (3) um lucro líquido contábil no terceiro trimestre de R$ 5,945 bilhões. É um valor 10% maior que no terceiro trimestre de 2014, quando o ministro da Fazenda chamava-se Guido Mantega.

Desde então, o dólar disparou em relação ao real. Só no último trimestre deste ano, subiu cerca de 28%. Se alguém acha que só os exportadores brasileiros lucraram, engana-se. O jornal “Valor Econômico” foi claro na notícia divulgada nesta terça-feira. Diz que a carteira de crédito do Itaú Unibanco “cresceu sob efeito da variação cambial, a exemplo do ocorrido em outros bancos”.

O estoque de créditos desse banco alcançou R$ 590,7 bilhões. Aumentou 4,3% no trimestre e 10,1% nos últimos 12 meses. “Sem o efeito da variação cambial, a carteira teria encolhido 1,1% no trimestre e 0,4% em 12 meses”, acrescenta o jornal.

Não há informação sobre a influência da alta expressiva da Taxa Selic sobre o lucro do banco, um tema que parece tabu na grande imprensa. Poucos se preocupam em explicar por que bancos estão lucrando tanto, se a economia brasileira, tal como se propala diariamente, sobretudo na televisão, está em queda.

Talvez haja exagero nesse diagnóstico. Se é tão grave a crise brasileira, por que a inadimplência de pessoas físicas no Itaú Unibanco acima de 90 dias manteve-se em 3,3%, mesma taxa do segundo trimestre? E por que só teve aumento de 0,1 ponto percentual em comparação com o terceiro trimestre de 2014, ou seja, antes da reeleição da presidente Dilma? Ainda, por que o calote de empresas registrado pelo banco caiu 0,2 ponto percentual, ficando em 2%, entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano?

E o banco prevê que sua carteira de crédito vai aumentar neste ano entre 3% e 7%!

Afinal, é grave a crise para quem?

Talvez para o BNDES, que tem socorrido empresa de amigo do Lula? Mas o BNDES divulgou nota para desmentir o jornal que divulgou a notícia com grande destaque no domingo. Em que conclui: “Prova disso é que foi o BNDES que entrou com o pedido de falência da empresa, após esta não ter cumprido o acordo de recuperação judicial. A estruturação rigorosa de garantias exigidas pelo BNDES para realizar a operação torna exequível que o banco recupere seu crédito.”

Sim, a nota diz ainda que “o rigor aplicado na análise de operações e na estruturação de garantias faz com que o BNDES tenha inadimplência de apenas 0,05%, a menor que todo o Sistema Financeiro Nacional, público e privado”.

É só comparar com a do Itaú Unibanco, digo eu. Acho que nunca foi tão verdadeiro o que eu ouvia quando adolescente, antes das crises bancárias do final do século passado: “Não há negócio melhor do que um banco bem administrado; e o segundo melhor negócio do mundo é um banco mal administrado.”

O banco Santander lucrou no Brasil, no terceiro trimestre deste ano, R$ 1,266 bilhão, mais do dobro do lucro de um ano atrás (R$ 537 milhões). Com sede na Espanha, também em crise, o Santander talvez não estivesse tão bem, não fosse a filial do Brasil – um país em crise, mas que trata muito bem os bancos, quaisquer que sejam suas origens.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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