A Fifa varre – mas não pune – suas vergonhas

Havelange e Ricardo Teixeira, seu ex-genro. (Foto: Patrícia Santos - 8.jun.1999/Folhapress)
Havelange e Ricardo Teixeira, seu ex-genro. (Foto: Patrícia Santos – 8.jun.1999/Folhapress)

Texto escrito por José de Souza Castro:

Segunda maior organização internacional em número de associados, mais que a ONU e o Comitê Olímpico, a Fédération Internationale de Football Association (Fifa) deixou de ter como presidente de honra o brasileiro João Havelange. Ele renunciou ao cargo há 12 dias, mas a decisão só foi revelada hoje ao mundo, com a divulgação do relatório do Comitê de Ética da Fifa.

O relatório afirma que Havelange agiu com uma “conduta moralmente e eticamente reprovável”. Mas enfatiza que aceitar propina não era considerado um crime na Suíça na época do ocorrido. Cita também o ex-genro de Havelange e seu sucessor na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que renunciou em 2012 a esse cargo e ao Comitê Executivo da Fifa, depois que a entidade começou a apurar as denúncias de suborno pago pela empresa de marketing esportivo ISL, entre 1992 e 2000, totalizando US$ 22 milhões, para ganhar os direitos de transmissão de várias Copas do Mundo.

Não há qualquer punição prevista para os dois brasileiros. A suíça ISL teve sua falência decretada em 2001. Na década anterior, a empresa ficou mundialmente conhecida por sua parceria com a Fifa, que era presidida por Havelange desde 1974, até ser substituído em junho de 1998 por Joseph Blatter, um economista suíço. O Código de Conduta da entidade só foi criado em 2004. Recentemente, documento divulgado pela Justiça da Suíça sugeriu que Blatter, que tinha cargos na diretoria da Fifa desde 1975, sabia sobre um pagamento de 1 milhão de francos suíços a Havelange em 1997.

O relatório assinado pelo presidente do Comitê de Ética da Fifa, o juiz alemão Hans-Joachim Eckert, livra Blatter, ao afirmar que não há elementos que indiquem que ele foi responsável ou esteve ligado aos pagamentos feitos aos dois brasileiros e ao paraguaio Nicolás Leoz. Este deixou na semana passada a presidência da Confederação Sul-Americana de Futebol e renunciou a seu cargo no Comitê Executivo da Fifa. O paraguaio é acusado de receber suborno de US$ 700 mil.

A Fifa foi fundada em Paris em 1904, mas tem sede em Zurique, na Suíça. Ao contrário deste país, no Brasil é crime receber suborno, conforme o Código Penal de 1940, quando se é funcionário público. Não é o caso de dirigentes de federações e confederações esportivas, embora tenham influência política. Talvez seja hora de rever essa questão, quando o país se prepara para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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