O circo de mil palhaços

Nesta semana, começou o horário eleitoral. Ainda pretendo assistir, muito mais para anotar coisas engraçadas para um bom post para este blog do que por interesse político real — inclusive porque eu não voto em São Paulo.

Mas o que mais me interessa com o começo do horário eleitoral é em perceber como a corrida eleitoral muda radicalmente a partir de agora. Sou capaz de apostar que o Russomanno, que disparou nas pesquisas sobre a prefeitura de São Paulo, vai cair brutalmente frente aos tempos de televisão bem maiores de José Serra (que tem um potencial de crescimento pequeno, já que tem um percentual de rejeição imenso e já consolidado) e Fernando Haddad (que afagou Maluf para igualar até em segundos com o candidato tucano, mas provavelmente vai dar uma guinada para cima quando transformar esses tempos em poses ao lado do guru Lula. Ou seja, como eu escrevi antes, aquela aparição com o Maluf não fará a menor diferença negativa na vida dos petistas e deve trazer benefícios). Isso para não falar de Chalita, que me parece um sujeito com grande potencial eleitoral e também tem um tempo de TV respeitável.

Muitos minimizam a importância das propagandas eleitorais obrigatórias (“ninguém assiste”), mas as pesquisas de eleições anteriores mostraram o quanto elas são fundamentais e decisivas em uma eleição. Marcio Lacerda (PSB) só foi alçado da condição de poste para a de prefeito de Beagá depois de aparecer insistentemente ao lado de Aécio Neves e Lula. Leonardo Quintão (PMDB) só chegou ao segundo turno naquelas eleições porque tinha uma campanha televisiva extremamente simples e bem feita (e perdeu porque era um fracasso nos debates e seu conhecimento sobre política é profundo como um pires). E Jô Moraes (PCdoB), que começou bombando nas pesquisas, como o Russomanno, foi varrida da lembrança do povo porque mal tinha tempo de se apresentar no programa eleitoral.

A mesma virada aconteceu nas eleições de 2004 e 2008 em São Paulo, com Serra e Kassab com tempos bem maiores de TV — e vencedores nos pleitos.

Teremos oportunidade de ver, em breve, se minha análise está correta. Lá para outubro, poderemos pegar os tempos de TV abaixo e comparar com os resultados finais:

  • Fernando Haddad (PT) – 7’39 e 15 inserções ao dia
  • José Serra (PSDB) – 7’39 e 15 inserções ao dia
  • Gabriel Chalita (PMDB) – 4’22 e 9 inserções ao dia
  • Celso Russomanno (PRB) – 2’11 e 4 inserções ao dia
  • Paulinho da Força (PDT) – 1’43 e 3 inserções ao dia
  • Soninha Francine (PPS) – 1’11 e 2 inserções ao dia

Por enquanto, tudo o que se diz é especulação.

Mas permitam-me especular mais um pouquinho. Se a veiculação das propagandas eleitorais obrigatórias é tão essencial assim, por que dar preferência a determinadas coligações e candidatos em detrimento de outros — sempre lembrando que tudo é custeado pelo milionário dinheiro público?

O cálculo do tempo de tevê é dividido da seguinte maneira: 1/3 do tempo total é dividido igualmente entre todos os partidos. Os outros 2/3 são proporcionais à representação do partido (ou partidos, em caso de coligação) na Câmara dos Deputados.

Ou seja, o partido que tem maior força em nível nacional também obtém vantagem para se manter mais forte nas eleições locais.

Existem mil argumentos a favor dessa lógica, mas penso em ao menos um contrário: estamos formando um círculo vicioso, em que apenas os partidos já poderosos conseguem destaque para colocar mais pessoas no poder. Isso me parece antidemocrático por princípio. Mesmo que surgisse um nanico com excelentes propostas, ele seria massacrado desde o processo eleitoral. É por isso que nanicos, como já foi o Enéas, têm que apelar para bizarrices e bordões ridículos de toda sorte, para chamarem a atenção do eleitor.

E o horário eleitoral vira um circo de mil palhaços e dois ou três privilegiados com alguma chance real de vencer.


Descubra mais sobre blog da kikacastro

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Avatar de Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

Deixe um comentário

Descubra mais sobre blog da kikacastro

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue lendo