Uma margarida para Dilma

Marcha das Margaridas em 2000.

Texto escrito por José de Souza Castro:

Recebi hoje notícias de Frei Gilvander Luís Moreira, pároco do Carmo-Sion, um dos bairros importantes de Belo Horizonte, porque habitado por pessoas influentes na cidade. Cris e eu conhecemos esse frade quando ajudávamos, há alguns anos, a editar “O Carrilhão”, jornal paroquiano. Ele é coautor do livro “O Bom Samaritano ontem e hoje”, editado no mês passado pelo Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI).

Acho que a mensagem era para divulgar, principalmente, este livro. Não me interessei. Mas ele lembrou, num “Em tempo”, que no último domingo completaram-se 29 anos do assassinato, aos 50 anos de idade, de uma mulher importante na história da luta pela reforma agrária na Paraíba. Como nenhum dos cinco denunciados como mandantes do crime foi punido até hoje e a imprensa já se esqueceu do caso – o que não causa qualquer surpresa – transcrevo abaixo trechos da mensagem:

“Margarida Maria Alves foi a primeira mulher a ocupar a presidência de um Sindicato de Trabalhadores Rurais no Estado da Paraíba. Sempre muito atuante na luta pela reforma agrária, ela fundou ainda o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural em Alagoa Grande.

Em uma gestão que durou mais de 10 anos, Margarida Alves, como líder sindical e como boa samaritana, moveu mais de 70 ações trabalhistas contra usineiros e senhores de engenhos da região. Tanto incomodou que no dia 12 de agosto de 1983 foi morta a tiros por pistoleiros em sua própria casa.

O assassinato de Margarida continua impune. Dos cinco acusados de serem mandantes do crime, ligados ao Grupo Várzea, apenas dois foram julgados e absolvidos: Antônio Carlos Coutinho e José Buarque de Gusmãos Neto, conhecido como Zito Buarque. Dos outros mandantes, Agnaldo Veloso Borges já faleceu e os irmãos Amaro e Amauri José do Rego estão foragidos.

O assassinato de Margarida Alves permanece entre os grandes crimes de repercussão nacional e internacional impunes no país, tendo sido encaminhado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA).”

Dessa história quase esquecida, surgiu a Marcha das Margaridas. Ela reúne de vez em quando mulheres camponesas de todo o Brasil que marcham para Brasília para exigir seus direitos. Direitos que também andam bem esquecidos pelo governo da primeira mulher – e não uma mulher qualquer, uma ex-guerrilheira – a se eleger presidente do Brasil.

Acorda, Dilma!


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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