Este foi o primeiro livro que li da imortal Conceição Evaristo, mineira de BH que migrou para o Rio, recém-empossada como primeira mulher negra na Academia Mineira de Letras.
São 15 contos bem curtos, alguns com apenas quatro páginas, que têm em comum o protagonismo de personagens negros – principalmente mulheres.
As histórias abordam situações de desigualdade social, preconceitos diversos, racismo, sexismo, homofobia, miséria, penúrias, violência. O cenário, quase sempre, é nas favelas.
Não espere nenhum sopro de respiro ou leveza: é tudo extremamente duro por estas poucas páginas. Como dura é a vida de boa parte da população negra no Brasil.
Uma coisa que gostei bastante foi da narrativa de Conceição, de sua capacidade de nos fazer entrar rapidamente na cabeça das personagens, com um texto muitíssimo bem escrito, uma prosa cheia de poesia e uma certa medida de suspense, ao ir entregando a solução da história aos pouquinhos, e não de uma tacada só.
Só os desfechos me pareceram demasiadamente (e por vezes desnecessariamente) amargos, como nas histórias Lumbiá, Zaíta Esqueceu de Guardar os Brinquedos, Di Lixão e até Os Amores de Kimbá.
A leitura requer estômago forte, porque sobram mortes e tristezas.
Mas isso é um lembrete válido de que a vida tem esse lado para o qual não queremos olhar. Mas que está lá, sempre esteve.
A obra ganhou o prêmio Jabuti em 2015 e já está em sua vigésima reimpressão.
“Olhos D’Água”
Conceição Evaristo
ed. Pallas
114 páginas
R$ 27,20 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
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