‘Jojo Rabbit’, uma sátira anti-ódio: é fundamental conhecermos a história, e rirmos na cara dos lunáticos

Vale a pena assistir: JOJO RABBIT
Nota 9

Vira e mexe reclamo aqui no blog de filmes que se levam a sério demais. Ao abordarem um assunto árduo, optam pelo excesso de drama, sem nenhum respiro para a leveza. No caso de “Jojo Rabbit”, o que ocorre é o contrário. O filme inteiro (com exceção de duas ou três breves cenas) é uma piada sarcástica, uma tentativa bem-sucedida de ridicularizar o nazismo, Hitler e seus fanáticos seguidores.

Hitler é ridicularizado

A começar pelo amigo invisível de Jojo, que é o próprio Hitler, na pele do ator-roteirista-diretor judeu Taika Waititi. É um Hitler infantilizado – o que faz sentido, já que está dentro da cabeça de uma criança de 10 anos de idade. Mas isso é dúbio: será que ele é bobão assim e fala aquelas coisas ridículas por ser imaginado por um menino ou o contrário, e o menino é que se encanta facilmente por um discurso simplório e infantil?

Aquele Hitler e todos os outros personagens nazistas do filme são, curiosamente, os mais alegres, joviais, coloridos, falantes. Isso numa Alemanha já no início de 1945, prestes a cair para seus inimigos e perder a guerra. Por outro lado, a personagem mais séria do filme é a jovem Elsa, a judia que está escondida num armário na casa de Jojo, ajudada pela mãe do garoto. Outras características a diferenciam dos boçais que pintam os judeus como monstros: sua cultura, sua refinação, sua inteligência.

É interessante como até uma criança é capaz de distinguir a loucura da sanidade, se lhe for dada a oportunidade para isso. Infelizmente, como o filme destaca, muitas das crianças alemãs naquele período foram cooptadas para lutar pelo exército nazista e aprenderam as coisas mais cretinas, que contribuíram para seu fanatismo. O mesmo acontece em outros regimes autoritários ao redor do mundo.

Não faltam cenas de comédia

Ao mesmo tempo que o filme é recheado de todo tipo de absurdos para ridicularizar o nazismo, numa comédia capaz até de nos fazer rir, apesar do assunto tão dramático, os diálogos entre mãe e filho têm momentos muito tocantes. O grande mérito deste filme é saber equilibrar as duas coisas, para não cair no vazio de ser apenas um pastelão, quando a morte de milhares de judeus merece um mínimo de seriedade. É o que eu sempre digo: que haja leveza na dureza, mas um pouco de dureza na leveza também se faz necessário num tema como este. Tirei um ponto da minha nota final porque achei que poderia ter tido um pouquinho menos de pastelão em alguns momentos. Exageros irritam, e enfraquecem o filme, o rebaixam à categoria de “Sessão da Tarde”, quando são muitos.

Scarlett está sensacional

Mas, no geral, é um roteiro incrível, que merecidamente concorre ao Oscar e contribui muito para a indicação de “Jojo Rabbit” a melhor filme do ano. O figurino e o design de produção são eficazes ao nos transportar para aquela época da História com um olhar bem diferente do que estamos acostumados a ver em filmes de guerra. A edição também foi indicada ao Oscar, além da atuação brilhante de Scarlett Johansson, que também está no páreo por seu papel em “História de um Casamento”. São as primeiras duas indicações ao Oscar da carreira de Scarlett, que é uma baita atriz, com mais de 60 filmes no currículo, e torço muito para que ela leve por seu papel neste filme.

O pequeno Roman mandou muito bem

Outros atores, embora não tenham sido indicados ou premiados, merecem menção: o pequeno britânico Roman Griffin Davis, que interpretou Jojo aos 11 anos de idade e mandou muito bem. Archie Yates, em sua estreia no cinema, que faz seu amiguinho sensato. Sam Rockwell, sempre excelente, mesmo num papel menor. A jovem Thomasin McKenzie, que faz a judia Elsa. E o próprio Taika, que interpreta Hitler…

Li no IMDB que Taika Waititi, que é judeu, foi questionado sobre o porquê de ter escolhido interpretar Adolf Hitler no filme. A resposta dele diz tudo sobre sua filosofia com este filme: “A resposta é simples, que melhor ‘foda-se’ com o cara?”. No cartaz do filme, está estampado seu objetivo maior: “Uma sátira anti-ódio”.

“An anti-hate satire”

Que todos possam assistir a este filme com o espírito de que é fundamental conhecermos nossa história para que suas partes mais podres nunca mais se repitam e o ódio possa ser combatido. É só assim que podemos nos livrar de maçãs podres como um Roberto Alvim e um governo Bolsonaro da vida. Mas é também essencial sabermos relegar os causadores dos grandes desastres da História, tal como Hitler e seus seguidores, a seu devido lugar: que se fodam e que suas ideias nunca mais tenham ou mereçam qualquer importância!

 

Assista ao trailer do filme:

Ouça a trilha sonora espetacular do filme, com Beatles, David Bowie, Roy Orbinson, Tom Waits, Glenn Miller, Ella Fitzgerald e outros:

 


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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