Pérez Esquivel divulga carta em que indica Lula para o Prêmio Nobel da Paz

Manifestantes a favor de Lula protestam na Esplanada dos Ministérios no dia do julgamento do habeas corpus pelo STF. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Texto escrito por José de Souza Castro:

Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Pérez Esquivel divulgou um dia após a condenação do ex-presidente pelo Supremo Tribunal Federal, a carta que vai entregar em setembro ao Comitê Nobel Norueguês, indicando Luiz Inácio Lula da Silva ao prêmio, aquele concedido em 2009 a Barack Obama por motivos outros. O autor lançou também uma campanha na internet pedindo apoio à indicação. E Lula tem até cinco da tarde desta sexta-feira para apresentar-se, preso, à Polícia Federal em Curitiba.

Na carta, que pode ser lida aqui em espanhol, Pérez Esquivel cita as políticas públicas criadas durante o governo do ex-presidente para combater a desigualdade social e a fome e que estão sendo abandonados progressivamente desde o golpe de 2016.

Dificilmente, o governo Temer apoiará esse, que seria o primeiro Prêmio Nobel para um brasileiro.

O Comitê do Nobel é formado por cinco noruegueses, tendo como presidente Berit Reiss-Andersen. O espanhol não será empecilho ao entendimento da carta. E nem o português seria, pois o Nobel de Literatura foi entregue em 1998 a José Saramago, portuguesíssimo da gema.

Verdade que até hoje nenhum brasileiro foi premiado, em qualquer área, pelo comitê norueguês. Mas, desde outubro do ano passado, a Statoil, empresa controlada pelo governo norueguês, se tornou dona de um pedaço importante do pré-sal brasileiro, no Campo de Carcará. Ou seja, agora o Brasil é importante para a Noruega e a carta de Esquivel não deve ser descartada de cara. A menos que não queira se indispor com Temer e correr o risco de perder outras fatias ricas de nosso petróleo que tem sido vendido na bacia das almas às petroleiras estrangeiras.

Bem, veremos. Enquanto isso, vamos ao que diz Esquivel.

Ao governar o Brasil entre os anos de 2003 e 2010, mediante seu compromisso social, sindical e político, Lula desenvolveu políticas públicas para superar a fome e a pobreza em seu país, um de maior desigualdade estrutural no mundo.

“Como vocês bem sabem, a Paz não é só a ausência da guerra, nem evitar a morte de uma ou muitas pessoas, a Paz é também dotar de esperança de futuro aos povos, em especial aos setores mais vulneráveis vítimas da ‘cultura de descarte’ de que nos fala o Papa Francisco. A Paz é incluir e proteger a quem este sistema econômico condena à morte e a múltiplas violências”, diz Esquivel, acrescentando:

“Segundo o último informe de 2017 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a fome afeta a mais de 815 milhões de pessoas no mundo. Trata-se de um flagelo e um crime que sofrem povos submetidos à pobreza e à marginalidade, aos que se lhe roubam a vida e a esperança por gerações. Por esta razão, se um governo nacional se converte num exemplo mundial de luta contra a pobreza e a desigualdade, contra a violência estrutural que nos aflige como humanidade, merece um reconhecimento por seu apoio à Paz na humanidade.”

Em seguida, Esquivel faz um breve resumo dos compromissos de Lula nessa área, durante seus oito anos de governo. “Com efeito”, diz o Nobel da Paz, “os programas Fome Zero e Bolsa Família tiraram da pobreza extrema mais de 30 milhões de pessoas, convertendo o Brasil num modelo de sucesso mundialmente reconhecido por organismos internacionais como a FAO, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial”. Acrescenta alguns números para reforçar sua argumentação, e atesta: “O governo de Lula foi uma construção democrática e participativa com meios não violentos”.

Lamenta que essa política do PT não tenha sido continuada por outros partidos no governo. “Assim, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou que em 2017 o Brasil teve mais de 3 milhões de novos pobres devido às políticas do atual governo”.

E conclui dizendo que “somos muitos os que acreditam que o Prêmio Nobel da Paz para Lula da Silva ajudará a fortalecer a esperança de poder seguir construindo um novo amanhecer para dignificar a árvore da vida”.

Será um espanto se Lula ganhar o Nobel da Paz na cadeia, como querem o juiz Moro e os seis ministros do Supremo, cada qual mais apressado para vê-lo longe das urnas, neste ano. Moro foi rápido no gatilho. Faltando três horas para o Jornal Nacional da TV Globo, nesta quinta feita, o juiz expediu a ordem de prisão. A decisão do Supremo fora anunciada no início da madrugada.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

3 comentários

  1. ATUALIZAÇÃO DO ABAIXO-ASSINADO
    Outro Nobel da Paz indica Lula para o prêmio
    O egípcio Mohamed El-Bardei, que em 2005 recebeu o Prêmio Nobel da Paz em nome da Agência Internacional de Agência Atômica, aderiu à campanha internacional para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva receba o Prêmio Nobel da Paz. Este movimento foi lançado pelo argentino Adolfo Perez Esquivel, Nobel da Paz em 1980.

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  2. Mais uma adesão importante à indicação do nome de Lula ao Prêmio Nobel da Paz, o do linguista, filósofo e ativista dos Estados Unidos Noam Chomsky, internacionalmente conhecido. Mais de 240 mil pessoas já assinaram na campanha lançada por Esquivel, como se lê aqui: https://www.change.org/p/13101510/u/22670312?utm_medium=email&utm_source=petition_update&utm_campaign=311784&sfmc_tk=846M29qXEfZHMcaQgwdcqLHVGgoJyFivmbERwV1TQ0MOiXiatTksv7nNgIyLgRM5&j=311784&sfmc_sub=626200720&l=32_HTML&u=56220407&mid=7259882&jb=421

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    1. Aderiu à campanha iniciada pelo Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel a indígena guatemalteca Rigoberta Menchú, vencedora do prêmio em 1992 por sua campanha pelos direitos humanos, especialmente dos povos indígenas. Atualmente, Rigoberta é Embaixadora da Boa-Vontade da Unesco. Sua adesão é importante, pois os Prêmios Nobel são uma das poucas pessoas que podem apresentar uma postulação formal frente ao Comitê Nobel da Noruega.

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