‘Até o Último Homem’: um personagem extraordinário em meio a mais um filme de guerra

Cena do filme 'Até o Último Homem'
Cena do filme 'Até o Último Homem'

Para ver no cinema: ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (Hacksaw Ridge)
Nota 7

Já perdi as contas de quantos filmes de Segunda Guerra Mundial já assisti. Todos eles, narrados pelo ponto de vista de Hollywood, ou seja, dos norte-americanos. Assim, mesmo que se diferenciassem pelos roteiros, por uma ou outra mudança de perspectiva, acabavam apenas reforçando o que eu já tinha visto num filme anterior.

Essa era minha preguiça com “Até o Último Homem”, de Mel Gibson, por isso fiquei adiando o momento de ver este filme por muito tempo. Até o dia em que escrevi isso na crítica sobre “A Chegada” e a leitora Janaína Castro comentou o seguinte: “O que vi foi um filme incrível. Lindo! Que história. E que maneira boa de contá-la, sem maniqueísmos, com um realismo tocante e que nos faz enxergar e refletir sobre tantos pontos de vistas da guerra. Amei! Pra mim, Mel Gibson está de parabéns!”

Claro que fiquei curiosíssima e passei o filme para o topo da fila. Assisti com menos preconceitos e talvez isso tenha contribuído para eu ter gostado tanto do resultado final. Não sei se concordo com Janaína quanto à falta de maniqueísmos. Isso é difícil em qualquer filme de guerra, quando somos instados a escolher um lado para torcer. Mas concordo que esta é uma baita história.

E, melhor: uma história real!

Aqui, temos um personagem que foge do senso-comum das guerras. Um sujeito extravagante e bastante obstinado (para não usar o termo mais pejorativo, “fanático”), que se recusa a pegar em uma arma, mas quer ter o direito de participar da guerra, para ajudar os companheiros na função de médico. Ele não apenas não atira: nem sequer toca num rifle. É um objetor de consciência que, apesar disso, quer estar na guerra.

O filme mostra os primeiros momentos daquele jovem magricela, interpretado (muito bem) por Andrew Garfield, quando ele era tratado como covarde dentro de um batalhão do Exército. Vocês podem imaginar o que ele pode ter passado… Mas também mostra como adquiriu o respeito e o título de “herói” por conseguir salvar dezenas de soldados, mesmo sem disparar um único tiro.

(Não se preocupem, não contei nada além do que já mostra o trailer.)

“Até o Último Homem” concorre ao Oscar nas categorias de melhor direção, edição, mixagem de som, edição de som, melhor ator e melhor filme do ano. Acho que tem boas chances com os prêmios técnicos e (ainda sem ver a interpretação de Denzel Washignton e Casey Affleck) de melhor atuação. A construção do personagem de Desmond Doss que Andrew Garfield fez foi fundamental para este filme de personagem, afinal.

Reparem que o roteiro ficou de fora, e concordo com o lapso. Apesar do baita personagem, o filme acabou repetindo muitas das fórmulas dos outros filmes de guerra, com cenas bem longas no campo de batalha e alguns clichês na narrativa do homem-que-vai-à-guerra (a mulher esperando, a prenda que a mulher deixa para o herói, a disputa na caserna, o cara malzão que depois reconsidera etc). Tivesse ousado mais, este filme arrancaria reflexões mais poderosas dos espectadores. Ou, pelo menos, desta que vos escreve 🙂

Assista ao trailer do filme:

Leia também:

 

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

4 comentários

  1. Uau! Quando vi que tinha saído a resenha de “Até o Último Homem” fui correndo ler. E que surpresa boa ver meu nome lá. Engraçado isso: já vi tantos filmes motivada e super empolgada pelos seus comentários. E de repente você escreve que também se motivou com um comentário meu! Fiquei bem feliz, obrigada!

    Quanto ao meu ponto de vista, só para “defender” um pouco: há sim o “hollywoodianismo” de colocar os norte-americanos como heróis e os japoneses como demônios. E essa é a parte ruim do filme. (Também me cansei um pouco com as cenas de guerra longas demais. Mas… É um filme de guerra, né?).
    Quando disse que não vi maniqueísmos (talvez devesse ter acrescentado “exagerados”) foi porque achei que o filme não “santifica” demais o Doss nem “demoniza” demais o comandante, o soldado malvadão e os demais companheiros de exércitos. Acredito que o filme valoriza ambas as posições e mostra a importância das duas para o sucesso da batalha. E, de novo, com um Doss humano, apesar de ser ao mesmo tempo um personagem extraordinário. Ele tem uma dignidade encantadora.

    Esse personagem, essa história, que não acreditaria ser real – se não fosse mesmo – me conquistou. Me emocionou, me fez tremer, chorar, torcer, vibrar e ter tantas outras sensações na poltrona do cinema.

    Por isso, com todos os “clichês” do roteiro que você bem observou, mantenho minha “avaliação” de que Até o Último Homem é um filmaço e tem minha nota 10.

    E fiquei muito feliz também com a sua nota 7 e indicação para ver no cinema. Que bom que gostou também, apesar do olhar diferente do meu.

    Aliás, acho que aconteceu o exato inverso do que foi comigo com o La La Land. Fui para o cinema empolgadíssima com a sua resenha, esperando sentir o mesmo que você sentiu. Acho que a expectativa foi alta demais… Rs… Desculpe se elevei demais sua expectativa com esse filme, hehehehe…

    Mas gostei muito dessa troca opiniões. De novo: pra quem sempre só leu o blog, foi legal opinar um pouco também. Obrigada!

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    1. Pois eu A-D-O-R-O quando os leitores tão incríveis e qualificados que este blog tem resolvem opinar-opinar-opinar! Fique à vontade para escrever sempre, inclusive enviar textos para eu publicar por aqui, viu?
      Entendi seu ponto de vista sobre o maniqueísmo e, seguindo essa linha de raciocínio, concordo com ele. No quadro mais geral, quando se compara americanos e japoneses, aí achei maniqueísta mesmo. Como era de se prever, até…
      Isso de criar expectativa é um perigo, rs! Mas não tem jeito: a gente assenta na sala de cinema já com alguns preconceitos e convicções que influenciam totalmente em nossa “nota” particular. Até o estado de espírito impacta, né? E, ultimamente, no meu caso, até o sono! rs
      Beijos e comente sempre 🙂

      Curtido por 1 pessoa

      1. Ficaria muito feliz em ter um texto meu publicado aqui! Quem sabe um dia? Obrigada pelo convite.

        Por falar em texto, acabei de ler um muito bom sobre os candidatos a melhor filme, que destaca o “algo a mais” que a arte nos traz em especial na lista deste ano. Se quiser dar uma olhada, é este aqui:

        http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2017/02/22/postulantes-ao-oscar-de-melhor-filme-colocam-espectador-para-pensar-na-vida-e-nos-outros/?cmpid=newsfolha

        Abraço!

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