JK foi assassinado pela ditadura militar

Juscelino no dia de sua posse, em 1956. Foto: Arquivo Nacional do Brasil
JK em sua posse, em 1956. Foto: Arquivo Nacional do Brasil

Texto escrito por José de Souza Castro:

Durante os 15 anos que dirigiu o Memorial JK em Brasília, desde sua construção até 1995, o coronel Affonso Heliodoro ouviu de muitos dos mais de 400 visitantes por dia uma pergunta que não soube responder em seu livro “JK Exemplo e Desafio”, publicado há 11 anos. Amigo e auxiliar do ex-presidente, o autor afirma que não há resposta à grande questão: JK morreu num acidente de trânsito ou foi assassinado?

O ex-presidente foi assassinado. É o que garantem os autores do livro “O assassinato de JK pela ditadura” (804 páginas, em dois volumes, R$ 200,00), lançado em agosto passado na Faculdade de Direito da USP, na data em que se completavam os 40 anos do assassinato. Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, divulgada nesta segunda-feira, 7 de novembro, com o título “(Quase) todos os assassinos de JK”, um dos coordenadores das pesquisas que resultaram no livro, Alessandro Octaviani, cita Affonso Heliodoro como uma de suas fontes.

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Aos 100 anos de idade, desinteressado de quase tudo, segundo o filho Affonsinho – o compositor e cantor casado com uma de minhas filhas, Viviane –, o velho coronel da PM mineira que auxiliou o conterrâneo JK desde que ele era prefeito de Belo Horizonte talvez se interesse em saber, finalmente, a resposta à pergunta que todos queríamos ouvir.

“Não temos resposta”, escreveu Affonso Heliodoro em 2005, em seu livro. “Ninguém a tem. Em sã consciência, pessoa alguma pode hoje afirmar ou negar. São tantas as evidências e as não-evidências!…”, lamentou.

A Comissão Nacional da Verdade não se interessou em esclarecer tais evidências. “Não tinha agenda para isso”, ouviu Alessandro Octaviani, quando a procurou. Ele não desanimou. Com os colegas Lea Vidigal Medeiros e Marco Aurélio Braga, coordenou o Grupo de Trabalho, envolvendo cerca de 30 pesquisadores da USP e do Mackenzie, com um propósito bem definido: levantar a nuvem de obscurantismo que “bloqueou a verdade sobre a morte de JK, negando aos brasileiros seu direito à verdade e à memória nacional, que devem ser os fundamentos de nossa República, ainda por construir”, como se lê no resumo publicado pela editora. E conclui:

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“O objetivo da ditadura militar sempre foi o de que o Brasil não soubesse de seus crimes ou de que deles não se falasse mais. (…) A vida e a morte de JK integram o patrimônio da Nação e pertencem a cada um de nós, cidadãos. Não pertence aos militares que o perseguiram, não pertence aos políticos e burocratas que se arvoraram em monopolistas das versões enviesadas, não pertence sequer a seus auxiliares fiéis ou queridos familiares. Pertence ao Brasil, seu povo. O povo amado por Juscelino, como qual sua identificação foi plena, integral. Ao qual deu esperança sem igual e no qual se reconfortou.”

Os autores planejam a continuidade do Grupo de Trabalho Juscelino Kubitschek (GT-JK), para que não restem dúvidas sobre o que levou a ditadura militar, em conluio, possivelmente, com a Operação Condor, a assassinar JK e todos os principais líderes dos que faziam oposição, na década de 1970, aos regimes ditatoriais na América do Sul.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

12 comentários

  1. Será que vão querer exumar o restos mortais de Jk como fizeram com Jango e promover um novo enterro com toda a pompa de praxe. Convenhamos:Jango comprovadamente morreu infartado e JK lamentavelmente foi vítima de um acidente de trânsito como tantos outros que continuam a ocorrer neste país. O Brasil não pode perder tempo com este tipo de coisa mais depois de 13 anos de uma roubalheira que extrapolou todos os limites do imaginário popular. Bola pra frente …

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  2. NO QUE DEU AFINAL O EXAME CADAVÉRICO DE JANGO MAIS DE 30 ANOS DEPOIS DE SUA MORTE FEITO NO IML EM BRASÍLIA, ONDE UM CORTEJO FUNEBRE SINISTRO FOI PATROCINADO PELO GOVERNO PETISTA… BOLA PRA FRENTE, MINHA FILHA… NÃO HÁ TEMPO A PERDER. TRUMP VEM AÍ

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  3. Esse assunto ainda é bem controvertido…
    Carlos Heitor Cony, por exemplo, defende veementemente que o acidente de JK foi tramado.
    Mas parece que a maior parte dos historiadores entende que foi um acidente, mesmo. Por ocasião de sua morte, JK já não tinha mais a força política que tivera outrora.
    De qualquer forma, como se trata de acidente de trânsito ocorrido há tanto tempo, não há como se concluir definitivamente por nenhuma das duas versões, cada um fica com que mais lhe convence… a não ser que alguém confesse que tenha tramado o acidente, algo que certamente não irá acontecer!

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    1. É verdade. Por isso o coronel Affonso, que era tão íntimo do ex-presidente, defendeu em seu livro que é impossível saber a resposta. Mas é importante que os historiadores se debrucem sobre o assunto, na minha opinião. Abraços

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    2. É controvertido sim, cara Elisa. Espero que o próximo livro desse Grupo de Trabalho Juscelino Kubitschek seja mais esclarecedor. Por enquanto, continua valendo o que escreveu o professor Fernando Massote em seu recém-lançado livro “Viagem ao sertão e outras memórias”, sobre o qual pretendo escrever brevemente:

      “A novela da resistência à abertura e publicação dos arquivos da repressão militar é um capítulo revelador do nosso atraso histórico. Até hoje não temos clareza sobre o que ocorreu com as vítimas do golpe [De 1º de abril de 1964, dia em que o autor, então líder estudantil, foi preso em frente à Escola de Direito da UFMG.], que se bateram contra ele e pela democracia. Vivemos, ainda, nos angustos espaços gerados pela anistia recíproca, que impede o país tanto de esclarecer os fatos quanto de punir os que fizeram ‘a lei e a ordem’ durante a ditadura. São fatos que, passados quase 40 aos da redemocratização, permanecem nas primeiras páginas dos jornais como sacrossantas exigências não satisfeitas. Nossa vida institucional é, assim, ainda gravemente tributária do passado. Nossos passos são ainda insuportavelmente vigiados, de muito perto, pelo passado negro que nos acotovela sempre. Seguimos o batido muito tristonho indicado pelo ‘O Gattopardo’, de ‘mudar sempre tudo para não mudar nunca nada'”.

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    1. Tou pra conhecer um sujeito mais chato que você. Tudo é PT, que fixação! Alguém falou em PT em algum momento deste post (além de você)?! Como vc mesmo disse aí embaixo, não há tempo a perder. Então por que perde seu precioso tempo lendo os textos do meu pai e comentando todos eles só pra encher o saco? Meu tempo tb é muito curto, cansei, não sou obrigada.

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    2. Prezado Fernando Lana, um reparo. Muito antes do PT, o mundo parece ter precisado de um defunto para fazer de vítima e chamar de herói. Bem antes de Lula, tivemos Jesus Cristo. Trezentos e noventa e nove anos antes de Cristo, o filósofo grego Sócrates – e, antes e depois dele muitos outros – foi sacrificado pelos poderosos de então.

      Você sabia que logo que assumiu o poder Michel Temer convidou o coronel Affonso Heliodoro para uma visita ao palácio, [http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/noticias/2016/08/temer-recebe-ex-ministro-de-juscelino-kubitschek ] como o único entre os auxiliares vivos de JK? O que ele pretendia com isso? Certamente, ligar a si a imagem de JK, como antes já havia tentado fazer em Minas o governador Aécio Neves.

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