Depois que ganhou repercussão nacional o caso da menina de 16 anos que foi estuprada por 30 animais, no Rio de Janeiro, veio à tona, de novo, o resultado do levantamento anual feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que traz, entre vários outros dados interessantes sobre a violência no Brasil, a informação de que 47.646 casos de estupros foram notificados às polícias brasileiras no ano de 2014, que é o dado mais recente disponível.
Por isso, você tem lido nos jornais e portais de notícia, nos últimos dias, que uma pessoa é estuprada a cada 11 minutos no Brasil.
Acontece que o mesmo anuário traz uma informação importante, que está sendo ignorada pelos colegas jornalistas: que apenas 7,5% dos casos de estupro são registrados pela polícia (pág. 116). Seja por vergonha, por falta de acesso, ou por medo de retaliação, a maioria esmagadora das vítimas prefere “deixar pra lá”. Por isso, não tivemos apenas cerca de 48 mil casos de estupro no Brasil, em um ano, mas estima-se um número muito maior, de 635 mil casos em um ano.
Isso representa 1.740 casos por dia, 72 por hora, mais de 1 caso por minuto. E não um estupro a cada 11 minutos.
O anuário considera todas as vítimas de estupro, mulheres e homens. Sim, existem homens vítimas de estupro, principalmente vulneráveis. Mas 90% das vítimas são mulheres.
Refazendo a conta, chegamos à estimativa de cerca de 570 mil mulheres estupradas em um ano, no Brasil. O que também dá cerca de um caso de estupro por minuto.
Ou seja: no Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto.
Vou repetir algumas vezes para ver se, martelando a frase, a informação atinge os cérebros que cresceram nesta cultura do estupro que vigora no Brasil, os cérebros que acham que a vítima teve culpa (porque estava com a saia curta demais, porque pediu, porque é assanhada, porque é miniputa, porque qualquer-outra-coisa-idiota-dessas), e causa o devido choque e constrangimento:
No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada minuto.
Deu pra entender?
Isso significa que, enquanto você lia este post, no tempo médio de 130 palavras por minuto, sete mulheres foram estupradas no seu país. Pode ter sido no seu bairro, numa sala de aula vazia, num carro, pode ter sido por um desconhecido ou por um ex-namorado, a agressão pode ter sido acrescida de outras formas de violência, como uso de arma, de faca, de socos. Dessas sete mulheres que foram violentadas em tão curto espaço de tempo, é possível que nenhuma queira dar queixa do caso. Ou seja, a violência desferida contra elas por um criminoso pode simplesmente desaparecer no limbo das estatísticas jamais tornadas públicas.
É como se esses sete estupros jamais tivessem ocorrido.
Por isso, além de lutarmos contra a cultura do estupro no nosso país, também precisamos ensinar às vítimas que elas não precisam e nem devem se esconder. Que é importante registrarem queixa, para que os casos venham à tona, para que a polícia seja exigida, para que o judiciário seja exigido, para que as políticas públicas sejam traçadas, para que os criminosos sejam punidos e para que, com um pouco de esperança, o número de vítimas diminua com o tempo.
Quem está nessa luta comigo?
Leia também:
- Os estupros coletivos de jovens meninas ocorrem bem debaixo do nosso nariz
- “É pelas mulheres que estão me agredindo que eu estou lutando”
- E o movimento “Eu Não Mereço ser estuprada”?
- Foi estuprada? A culpa é sua! [sorrisos doces]
- O Brasil do genocídio, do estupro, do machismo
- Ave, Nafissatou!
- Os ocupantes da Câmara de BH não me representam! Desocuparam tarde!
Kika, além de punição severa e exemplar para estupradores, cultura ética se faz com boa educação. Nossa história é plena de estupros (e golpes!) – estupro é talvez a imagem mais perfeita para descrever a História brasileira em quase tudo -, primeiro dos portugueses com as indígenas e escravas, depois dos senhores de engenho com as escravas e suas filhas. Violências sempre considerando a mulher como pessoa inferior feita para o lar (Veja só!), para a reprodução e para a submissão total. O filme Desmundo talvez ilustre bem isso. Nos comentários acerca da série de O Tempo sobre violência doméstica, um sujeito reacionário (defensor do Cunha como o seu malvado favorito) chegou a sugerir que mulheres são seres inferiores porque, pasme, não havia nenhuma vencedora do prêmio Nobel. Penso que o feminismo é necessário mais do nunca para levar as mulheres a se empoderarem diante do julgo machista. Precisamos é encarar os brucutus, parecem até uma frota de lobos “gentilis” que diz ter QI elevado, a dizerem que é “ideologia de gênero” (ah, vá ladrões de almas) e que precisa ser proibido nas escolas… Uma boçalidade fora do comum vinda da direita zumbi e que ganha popularidade num país cada vez mais insano.
CurtirCurtir
Até sei quem é esse sujeito reacionário…
Concordo contigo.
Um abraço
CurtirCurtir
O que dizer das mulheres europeias que estão sendo estrupadas por “refugiados” APENAS por não cobrirem seus corpos com a sexista burca?
#120db
CurtirCurtir
Um horror
CurtirCurtir