Sobre empréstimos e devoluções — um Conto de Natal inacabado

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Trabalhando em dia de Natal pela segunda vez na vida (geralmente meus plantões caem no Réveillon), não consegui deixar de pensar no clássico de Charles Dickens, “Um Conto de Natal”. Ebenezer Scrooge, o muquirana, economizava até no carvão pra aquecer a salinha onde o pobre Bob Cratchit trabalhava até tarde na véspera de Natal. Claro que no meu caso é bem diferente, uma verdadeira questão de “ossos do ofício”, mas a história — uma das minhas favoritas de todos os tempos — pairou na minha cabeça durante parte do expediente ontem. Decidi: vou chegar em casa e assistir ao meu DVD com uma das mais belas versões do livro.

Já em casa, sofá-cama aberto, pipoca estourada, suco nos copos, fui vorazmente até a estante em busca do meu precioso DVD. E lá estava ele: o buraco, indicando que eu tinha emprestado o filme a alguém, só deus sabe quem.

Imaginem a frustração.

Eu adoro emprestar as coisas (e também pegar emprestado!). Quando eu morava sozinha, sempre fazia questão de entregar uns dez filmes de uma vez aos meus amigos que também moravam sozinhos — vejam este!, muito bom! –, com mil recomendações. Também gosto muito de emprestar livros. Mas depois, se a pessoa não me devolve, eu posso nunca mais revê-los, porque não consigo lembrar de jeito nenhum para quem emprestei.

Quando eu era mais nova, nos tempos do colégio, chegava a fazer uma cadernetinha pra anotar os empréstimos, como fazem as bibliotecas. Fui perdendo a organização com o tempo. E, claro, também e desprendendo mais das coisas. Mas continuo com a mesma frustração quando fico doida para ver um filme e não o encontro.

Como já contei por aqui, adoro separar roupas para doação. Brinquedos e comidas também. Utensílios de casa, sapatos. Me desfaço de certos bens com a maior facilidade e desprendimento. Mas sou muito apegada a meus livros, CDs e DVDs. Meu sonho de criança era ter uma biblioteca e, na falta de imponentes estantes, as caixas de leite faziam as vezes de um depositário de livros. Eu me orgulhava daqueles livros, que deixava debaixo da cama (imaginem a poeira!), em ordem alfabética de autores, e buscava sempre, para reler ou emprestar. Isso deve explicar meu prendimento de hoje.

Por isso, acho que todo mundo que gosta de pegar livros e filmes emprestados (e me incluo nessa) deveria fazer assim: anotar num papelzinho de quem é aquele precioso bem (porque o que pegou emprestado também pode se esquecer), colocar lá dentro do livro, como um marcador, e deixá-lo numa estante especial, para ser livro ou visto logo que possível e devolvido assim que acabado, deixando todos felizes — inclusive o Natal de uma certa jornalista de plantão 🙂

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

7 comentários

      1. Sinto que visualmente ficou melhor. Já não ficou tudo a preto e branco cumprindo o objetivo de sobressair a barra. Talvez o vermelho esteja muito forte e suavizar para um pastel vinho. Eheheh…e aqui estou eu a tecer minha opinião.

        Continuações de um Muito Bom Natal!

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