Geração Robocop

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“Parem o mundo que eu quero descer!”

Esta foi minha reação, ontem, ao ler matéria que dizia que, se eu fizer um coraçãozinho com as mãos diante de qualquer objeto, os óculos do Google vão imediatamente compartilhar nas redes sociais que eu curti aquele objeto.

Por enquanto, isso existe só na patente do Google Glass, mas essas tecnologias vestíveis estão a um pulo de se tornarem concretas em nosso cotidiano. Imaginem que, há dez anos, era inimaginável a cena de todas as pessoas numa mesa de bar postando tópicos no Facebook, via smartphone, em vez de interagirem com seus amigos. Hoje isso existe em cada esquina. Os smartphones estão cada vez mais rápidos, conectados e inteligentes.

O futuro próximo, de dez anos ou menos, será o seguinte: pessoas com óculos e relógios superinteligentes, tirando fotos com um movimento discreto do corpo e compartilhando as coisas com um gesto de mão. Breguíssimas mãos em formato de corações serão vistas a todo instante. Pior: aplicativos de reconhecimento facial serão banais e será possível identificar seu interlocutor na rua — qualquer que seja ele — apenas olhando em sua direção. Informações que ele possuir na internet serão compiladas pelo computador e catalogadas diante dos seus olhos. Aquelas fotos dele no Facebook aparecerão diante de você, com a data em que ele se casou e a escola onde o filho dele estuda.

Piração? Pelo rumo que as coisas estão tomando, não. Será o fim da privacidade e da possibilidade de ser anônimo no mundo. Parem, eu quero mesmo descer!

Tudo isso nos leva a uma reflexão mais profunda. Quem viverá por mais tempo nesse mundo? Nossos filhos e netos. Então, tudo o que compartilhamos deles, enquanto ainda são crianças e não podem escolher, poderá ser usado contra eles no futuro. A foto fofinha do seu bebê, que você orgulhosamente mostra a seus amigos e parentes no Facebook poderá ser vista por alguém com um “smartglass” quando seu bebê já estiver procurando um emprego. E ele nem terá tido a chance de optar por uma exposição menor, porque seus pais e tios já o terão exposto há décadas.

Ah sim, e todas essas imagens, comentários e informações sobre as pessoas ainda poderão ser livremente usados por grandes empresas em seus anúncios — sem que você e seu filho ganhem nem um tostão por isso.

Foi pensando nisso que Ryan McLaughlin resolveu tomar uma atitude drástica: deletou toda e qualquer imagem de seus filhos de sites públicos. Ele traz vários de seus argumentos e justificativas NESTE ARTIGO, que vale muito a pena ser lido, ao menos para nossa reflexão/piração.

OK, tudo isso é ainda uma grande hipótese sombria que se descortina. Também haverá investimentos bilionários na proteção de dados, porque haverá grande demanda para eles. Mas, ainda assim, acho que estamos caminhando para uma inexorável superexposição de anônimos. Um cenário sombrio, de filme de ficção científica trash. E uma situação em que teremos muito pouco controle sobre nossas próprias imagens. Ah sim, e com mãozinhas em formato de coração, por todos os cantos.

Sério, parem o mundo, eu preciso descer!  :-O

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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