Mais Médicos para o Brasil – Críticas e Considerações

medicos1Eu disse que não voltaria a tratar do Programa Mais Médicos aqui no blog, mas hoje recebi um texto muito aprofundado sobre o assunto e escrito por uma pessoa muito qualificada, que, além de médico, também é professor de medicina e já atuou com gestão pública de saúde em todas as esferas de governo. Ou seja, é, até o momento, a pessoa que mais entende do que está em jogo nesse nosso debate. Seu nome é Giovano de Castro Iannotti e já citei aqui no blog outro texto que ele escreveu, quando estava atendendo voluntariamente os feridos dos confrontos com a polícia durante os protestos de junho. (O “de Castro” dele, fui descobrir depois, o coloca entre minhas muitas dezenas de primos, embora eu ainda não o conheça pessoalmente. Família grande demais dá nisso…)

O artigo que Giovano escreveu e fez a gentileza de enviar para publicação neste blog é bastante extenso, mas peço que aproveitem este domingão e o leiam até o fim, com atenção, porque traz elementos maravilhosos e, para mim, alguns até inéditos, para nossa reflexão. Ele não se limita a repetir os argumentos que estão sendo ditos a torto e a direito por jornalistas que nada entendem de saúde pública e por representantes de entidades como o Conselho Federal de Medicina. Traz informações que eu nunca tinha lido antes, mesmo depois de tanta leitura sobre o assunto, e que ele obteve tanto na academia quanto em sua grande experiência na atuação como médico, nos rincões do Brasil e também em outros países do mundo, pelo que li. Ele só se apresenta como “professor de medicina”, mas vocês podem conhecer um pouco mais de quem reuniu tantos dados e experiências AQUI e AQUI.

Bom, vamos ao artigo:

“Prólogo

        No dia 30 de março de 1999 o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, assinou um decreto (3007) revogando um outro decreto, do ditador Ernesto Geisel, (80419) de 27 de setembro de 1977 que promulgava o Decreto Legislativo (DL) 66, aprovado pelo Congresso Nacional. Não houve publicidade sobre o assunto. Contudo, muito estava em jogo ali. Primeiro, uma peculiaridade jurídica do Brasil. O DL 66 aprovara uma Convenção internacional, incorporando-a ao Ordenamento jurídico brasileiro. Como pode um presidente revogar um ato votado pelo Congresso Nacional com uma canetada?
         Segundo, o acordo internacional aprovado pelo Congresso fora a “Convenção Regional Sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos de Diplomas de Ensino Superior na América Latina e Caribe” (Cidade do México, 19 de julho de 1974), havendo o instrumento brasileiro sido depositado junto à UNESCO.
         Um pouco confuso na aparência, mas o importante é saber que sob Fernando Henrique Cardoso e Paulo Renato, a educação brasileira passou a ser, definitivamente, um serviço, um “bem” a ser comercializado no mercado, seguindo regras de mercado. Muitas faculdades privadas foram abertas nesse período, muitas delas ligadas a políticos influentes e a grupos econômicos sem compromisso com a educação. Até multinacional há nesse meio. Quantos bilhões renderam a “canetada” de FHC? Para quem?
         Até ali, vários formados alhures retornaram ao Brasil e foram autorizados a exercer sem maiores problemas. Inclusive os que foram a Cuba.

         1. Tempo de Crises e Premissas

         Da miríade de demandas e assuntos que se misturaram nas últimas manifestações públicas ocorridas no Brasil, um dos mais complicados de se abordar, em um espaço relativamente resumido, é o da abertura para a entrada de médicos formados em universidades de outros países. Várias pessoas têm me perguntado sobre o assunto e vários alunos me escreveram pedindo que me aprofundasse um pouco no tema. Alguns poucos estudantes meus se manifestam convencidamente em favor do projeto do Governo, outros estão apreensivos e inseguros, pensando, talvez, que a profissão que os espera já não mais será a que tinham em mente quando se decidiram por ela. A maioria deles, contudo, aderiu ao discurso das entidades ligadas aos médicos e o repete. A complexidade do tema jaz na variedade de interesses institucionalizados, na jovem história da Academia no Brasil, na consciência de corporação dos médicos e na própria identidade nacional dos brasileiros.

Como se verá, o Governo decidiu drenar um abscesso. As dúvidas são duas. A primeira é se ele será um cirurgião capaz de levar a operação até o final, sem medo de tocar em todos os órgãos afetados ou se ficará na superfície, desperdiçando a chance de tratar devidamente o paciente. A outra é se o paciente tem interesse em se tratar, de ser ativo no seu processo de cura, pois ao médico cabe o papel de auxiliar.

Para analisar o problema com mais objetividade, deve-se fazer um recorte e algumas premissas devem ser aceitas. A primeira é que as pessoas precisam de médicos e a segunda é que os médicos podem contribuir mais para a saúde do que para o adoecimento dessas pessoas. Podem parecer triviais essas afirmações, mas não são. Se se quer saber o motivo, recomendo o estudo de Ivan Illich, Nemesis Medica; Barbara Starfield (professora emérita da Johns Hopkins, consultora da OMS. A Professora Starfield tem um importante livro editado no Brasil pelo Ministério da Saúde, no qual demonstra que os médicos especialistas são terríveis para os sistemas nacionais de saúde. Ela chega à conclusão de que os Estados Unidos têm a pior saúde dentre as nações do primeiro mundo. Tal fato deveria fazer pensar muitos médicos e professores brasileiros que têm os EUA como paradigma de medicina), ela tem vários estudos sobre a incidência de mortes provocadas pelos médicos; Martin Walker, Dirty Medicine; de artigos como o de Francisco Cóppola sobre o conflito de interesses que governa o meio da profissão médica hoje (Rev Med Uruguay 2007; 23: 3-6). Outros artigos mostram diminuição da mortalidade em comunidades afetadas por greves de médicos e a matança causada pela indústria das drogas e dos exames complementares. Iatrogenia é o termo que define o mal causado pelos médicos e, infelizmente, pouco estudado e até desprezado nas universidades brasileiras.

 

2. Argumentos Contrários de Todos os Tipos ao Mais Médicos para o Brasil

         Os críticos do programa dizem que o Governo Federal colocará em risco a saúde e a vida dos brasileiros, porque não controlará a qualidade da formação dos médicos que vierem para o Brasil. Dizem também que o programa é ilegal e que o problema no Brasil não é a falta de médicos, mas a falta de estrutura para atendimento. Segundo os críticos, se houvesse mais “estrutura”, os médicos existentes no Brasil se deslocariam para a periferia e para as regiões mais distantes de grandes centros urbanos.

Particularmente a possibilidade da vinda de médicos cubanos tem causado a ira de uma pequena e barulhenta parte da sociedade. Não somente médicos, neste caso. A direita parece ver nisso a ressuscitação da ameaça vermelha que parecia devidamente exorcizada por 30 anos de ditadura. O CFM foi a Cuba há alguns anos e fez uma matéria que ocupou de forma sensacionalista a capa do jornalzinho do Conselho. Nela se lia que Cuba não forma médicos, mas enfermeiros com conhecimento mais avançado (sic). A conclusão daquela matéria era que os brasileiros que se formavam em Cuba não deveriam poder exercer no Brasil, pela baixa qualidade do ensino na Ilha, ou qualquer coisa do gênero. Alguns militantes da direita têm tomado essas palavras e tentado radicalizar seus argumentos. Dizem que Cuba não exporta médicos, mas guerrilheiros. Esses comunistas viriam para cá fazer o que fizeram na Venezuela. Lá, não fosse pelas táticas de lavagem cerebral que os cubanos usaram contra o povo, Capriles teria vencido as eleições. Aqui, em desespero, o PT usaria a mesma técnica.

Entendo que estes últimos argumentos podem parecer tolos demais para merecer análise séria. Mas, entendo também que eles encerram de forma caricata a visão de parte importante da classe média de direita do Brasil. Não somente isso, eles são levados a sério por certas pessoas. Quando publiquei um comentário favorável à vinda de médicos formados em universidades de fora do Brasil debaixo de uma declaração de um aluno meu na internet, um seu conhecido escreveu terríveis palavras contra mim. Deu-me uns epítetos dos mais vulgares e terminou concluindo que eu era um “esquerdopata comunista safado” e que deveria ser “chutado pra fora da universidade, enjaulado e mandado para Cuba”. Esse é o clima na cabeça de alguns.

 

3. Um pouco de História

         A Presidente Dilma mostra coragem ao pôr a mão em dois vespeiros; o primeiro é a corporação médica, representada (indevidamente) pelo Conselho Federal de Medicina; o segundo, a universidade brasileira que só é do povo (por serem públicas, por terem autorização para funcionarem ou por receberem incentivos vários) na hora de receber recursos governamentais, mas que alija o povo de seus claustros. Todavia, por mais coragem que tenha, o programa não é algo que saiu somente da cabeça do Governo Federal. Há anos os prefeitos do País têm pressionado para que se encontre uma solução para a falta de médicos.

A presente situação começou com a criação do SUS pela Constituição de 1988. É preciso que se saiba a história do Sistema. Ele representa o que de melhor se fez no País, mesmo que ferido e sangrado pela terrível ditadura do capital e dos militares. Dos anos 1960 até 1986 foram realizaras reuniões e conferências de saúde para se discutir a criação e a forma de um sistema nacional de saúde. A VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS) influenciou os rumos da Constituinte e conseguiu plasmar na Carta os princípios hoje universais de acesso integral à saúde e gratuidade. Isso significa que o SUS não foi o projeto de um partido político sozinho e nem de um grupo deles. O SUS é o ideal sonhado e construído por várias cabeças da chamada sociedade civil organizada. É uma conquista do povo, diante dos interesses capitalistas que dominaram a constituinte. O SUS não é administrado diretamente pelo executivo, mas através dos conselhos de saúde que são formados por 50% usuários, 25% trabalhadores, 12,5% fornecedores e 12,5% governo (ou seja, os governos têm somente 1/8 dos votos nos conselhos). As políticas e as diretrizes do Sistema são determinadas pelas conferências de saúde.

Não obstante essa conquista, o SUS não existia de fato. Vários caminhos foram tentados com escasso êxito, até que algumas  prefeituras do Nordeste, governadas por prefeitos de esquerda, decidiram importar o modelo cubano de médico da família. Paralelamente a isso, havia a experiência da colega Zilda Arns, com a pastoral da criança. Sem entrar em detalhes, o Governo Federal de então, segunda metade dos anos 90 (um governo de direita, diga-se), resolveu investir no médico de família e criou o Programa Saúde da Família (PSF), com um modelo nacionalizado e adaptado à realidade brasileira. Como não havia a possibilidade de se fazer como em Cuba, onde um médico de família e um enfermeiro têm sob seus cuidados de 200 a 500 pessoas, usou-se a ideia da pastoral da criança para a construção do PSF. No modelo brasileiro, o saúde da família é feito por uma equipe que, além de enfermeiro e médico, conta com 1 ou 2 técnicos de enfermagem e cerca de 5 agentes comunitários de saúde (ACS). Esses ACS são descendentes dos voluntário da Dr. Arns. Cada equipe no País atende de 2500 a 4000 pessoas, com várias exceções para mais e algumas poucas para menos.

Com a determinação da XII CNS de que a Atenção Primária de Saúde (APS) fosse a coluna vertebral do SUS, consolidou-se a expansão constante do Programa (APS é, em grandes traços, o atendimento realizado mais próximo da residência ou do local de trabalho das pessoas, a um custo tolerável pela sociedade, e a porta de entrada preferencial das pessoas no sistema). O Sistema é único, mas é descentralizado. Cada esfera de poder tem certas funções. Ao Governo Federal cabe o desenho de programas, fiscalização e incentivos financeiros e são as prefeituras, mormente, que prestam o serviço “na rua”. Para receber a verba do Governo Federal, um dos requisitos é ter as equipes completas. E aí começam os problemas.

4. A Realidade do “Mercado de Trabalho”

         Como médico, hoje, sei que posso trabalhar em praticamente qualquer município do Brasil. Não há desemprego para médico (o que é ótimo, oxalá fosse assim para todos). Mesmo as grandes capitais sofrem com a falta de médicos. Mas na prática o problema é ainda mais grave, se levarmos em consideração a complexidade da APS. Um dos fatores pressupostos da atenção primária é a continuidade do trabalho no tempo. Estar na comunidade e “viver” a comunidade. Fazer-se comunidade (“como um”), é uma das funções do médico de família. Mas, no Brasil, quando há médicos, a rotatividade é muito alta. Poucos esquentam a cadeira. Veem-se muitos recém-formados “dando um tempo” nos centros de saúde, enquanto estudam para entrar em um programa de especialidades. Afinal, qual profissão oferece salários entre 8 e 20 mil reais a alguém que acabou de tirar as fraldas? Do outro lado, veem-se médicos “cumprindo tabela” para a aposentadoria. Faltam médicos em geral e faltam médicos que saibam APS. As faculdades daqui privilegiam o pior tipo de medicina que existe. Aquela baseada na indústria das drogas e dos exames. Pouco se estuda e pratica sobre relacionamento médico-paciente. Aliás, medicina se resume nisso: relacionamento médico-paciente. Nada mais.

A visão pervertida de grande parte das faculdades brasileiras é que medicina de família é uma coisa menor, menos complexa. “Qualquer um faz”. Entretanto, não é assim. Trabalhar com um computador, como um ressonador ou um tomógrafo, pode parecer complexo. Mas, é simples. Depois que se aprende a técnica, é simples. Quando se está em um hospital, o trabalho é dividido. Há outros médicos, há laboratórios, há máquinas, há até helicópteros. Quando estamos em uma comunidade periférica a Arte cresce e a técnica diminui. É o médico de frente para a complexidade irrepetível da vida. Cada pessoa é uma pessoa, casa dia, um dia. Nada se repete. Esta realidade da APS é complexa demais. Como regra, os médicos formados no Brasil pedem “estrutura” para enfrentar essa realidade. O que estão pedindo é uma apostila que lhes diga qual botão apertar para entender o que veem, mas não compreendem. A vida.

5. A Tal “Estrutura”

         Há falta de estrutura? Eis uma pergunta que me tem sido feita insistentemente. A resposta é: em geral, não! Não há falta de estrutura. A realidade do SUS não é a que os meios de comunicação mostram de filas e gente meio morta se arrastando qual zumbis. Essas imagens, por forte que sejam e por mais que aconteçam aqui e acolá, em certos municípios até frequentemente, têm o propósito de afastar a classe média do Sistema e fazê-la escrava dos planos e seguradoras privados e de confirmar para os ricos que uma consulta de 600, de 1000 ou 2000 reais são justificáveis (ou para o “pobre” que uma de 40 vale a pena). Pessoalmente, nunca fui “deixado na mão” pelo SUS. Recentemente, em uma urgência familiar, fomos parar no hospital da Unimed de Belo Horizonte. A mocinha que fazia triagem nos disse: “se quiserem, podem até esperar, mas o mínimo é cinco horas”. (Curioso é que ninguém protestava e a Rede Globo e a Rádio Itatiaia não estavam lá noticiando o apocalipse). Como o caso era mesmo urgente, fomos para um hospital do SUS de Betim, quase numa favela, onde fomos muito bem atendidos.

Por outro lado, esperar não deveria ser um espanto, quando não se fala de situações de emergência. No começo do ano estive atendendo em Gibraltar, que pertence ao Reino Unido, e tive que levar um paciente ao hospital (com bastante “estrutura”). Na parede, um papel pregado com durex: “Todos serão atendidos, os pacientes em situação grave, antes. Favor esperar”. Perguntei à enfermeira e ela me disse que o tempo de espera médio era de 8 horas para casos que não fossem de risco de vida. Sem gritos, sem Globo, sem Itatiaia. Um amigo médico, sueco e morando na Suécia, precisava de exames caros de imagens. O tempo de espera, segundo ele, era de 8 meses a 1 ano. Esperas para uma consulta de APS são geralmente menores no SUS do que nos convênios. As filas para especialistas no Sistema são, em grande parte, de responsabilidade dos mal preparados médicos de família que atam no Brasil. Muitos deles são simplesmente encaminhadores. O índice de resolução de problemas de grande parte dos médicos no Brasil é inaceitável.

Como sei por onde passam os interesses dos hospitais privados brasileiros e dos médicos que trabalham neles, meu filho nasceu em uma casa de partos financiada pelo SUS. Nunca cogitei que ele nascesse numa maternidade (açougue) privada que vende cesárea, fotos, filmes e serviços de hotelaria. Quando morei em Brasília, fui operado em um hospital do SUS. Não estou dizendo que o SUS seja um sistema pronto, perfeito. Minha única intenção é dizer que o Sistema é bom ou ruim dependendo da situação e muito, do município. Mas, no geral, é bem melhor do que o sistema privado de saúde no País. Qualquer um que estiver no Brasil usa o Sistema. Mesmo sem saber ou admitir. A vigilância sanitária, por exemplo, que cuida da qualidade da lagosta dos restaurantes chiques e da potabilidade da água dos ricões e dos pobretões é um órgão do SUS.

Os problemas da APS não são, em geral, de falta de estrutura. Quando os há, e isso há aos montes, os problemas são majoritariamente de interferência política e de corrupção. Já deixei algumas prefeituras porque não admiti passar os protegidos dos prefeitos e dos vereadores na frente dos outros. Já saí porque me recusei a assinar documentos falsos para conseguir verbas federais para o município. Já mudei de centro de saúde por causa de gerente politiqueira. Já deixei a direção de um hospital porque não compactuei com médicos que roubavam o hospital; operavam desnecessariamente para ganhar dinheiro; faziam cesarianas desnecessárias e até criminosas; trocavam votos por cirurgias; houve até um que colocou no chão uma criança recém-operada e mandou a enfermeira trazer o “próximo rápido” porque ele queria ver o jogo do galo (nenhum deles é cubano, são todos bem brasileiros). A chaga é essa. A corrupção entranhada nos costumes brasileiros. Sejam políticos ou não.

6. Quem São os Médicos no Brasil?

         A situação como está é ótima para os médicos sem consciência humana. Eles podem continuar fazendo chantagem com prefeituras. Podem continuar dando dois, três plantões ao mesmo tempo. Podem continuar assinando por duas equipes PSF (cada um exige 40 horas por semana) em municípios diferentes. Mudam quando querem e pedem o que querem.

A situação como está é ruim para os prefeitos. Eles ficam à mercê dos médicos. Sentem-se impotentes. Oferecem salários que beiram o desrespeito com a população de seus municípios. Quanto mais pobre o município, maior o salário oferecido aos “doutores”. (Somente para exemplificar, como professor de horário integral, com duas especialidades e um doutorado, orientador, revisor de revistas científicas, meu salário líquido é de menos de 5000 reais. E há alunos reclamando que, assim que se formarem serão “escravos” do SUS, ganhando 10.000 reais. O dobro do professor deles e 16 vezes mais que o salário mínimo).

Mas, a situação como está, é péssima para o povo. É a massa que está sendo feita de tola no Brasil. São os milhões de trabalhadores que fornecem a mão de obra para o País andar que deveria se revoltar contra os privilégios. Sejam de quem forem esses privilégios. Não são somente dos políticos, não são somente dos juízes. Os médicos somos privilegiados no Brasil. Isso está errado. Isso tem que acabar. Médico é um profissional como o é o torneiro mecânico, o ator, o faxineiro ou mesmo o juiz e o delegado. Há que se cortar dos de cima para dar aos de baixo.

De onde vêm os médicos brasileiros? Quantos podem, em sua linha genealógica, ascender a um quilombo, uma senzala ou uma tribo indígena? Este é um País que nunca viveu uma revolução social. Quem mandava há 500 anos, ainda manda hoje. De chibata na mão. Os médicos brasileiros somos quase todos brancos, oriundos das classes médias e da alta burguesia. Só se unem em momentos como este, para salvar os anéis. Quase todos se formaram em uma universidade brasileira.

Os médicos brasileiros pertencem quase exclusivamente à classe dominante que sempre fez o que quis do Brasil. Infelizmente, poucos colegas se sacrificam por um mundo melhor. Mas são esses poucos os que me enchem de orgulho e em quem procuro me inspirar. Espero que meus alunos os descubram e sigam seus passos e subam em seus ombros para ver um futuro melhor para todos.

7. A Universidade Brasileira

         De onde vem a universidade brasileira? Da necessidade da “elite” de manter seus privilégios. Até pouco tempo, historicamente falando, a “elite” branca mandava seus filhotes para a Europa. O Brasil foi ter universidade muito tarde. Os países hispânicos as têm há mais de 400 anos. Daniel Caribé escreveu um artigo em 2007, “Universidade Nova: quem ganha com este projeto?”, com o qual acerta no alvo. Ele compara a história da universidade brasileira com a da Universidade de Córdoba, na Argentina (completou 400 anos neste ano). Lá, em 1918, os estudantes tomaram a universidade e a ocuparam (a Argentina acabara com o analfabetismo no final do século anterior). Lançaram uma pérola, dirigida aos “Homens livres da América do Sul”,  infelizmente pouco conhecida no Brasil. O Manifiesto Liminar e o movimento exigiam a estatização completa da universidade, sua gratuidade, o fim das vagas limitadas (isso mesmo!), livre acesso ao povo, liberdade para aprender e liberdade para ensinar. Esse manifesto influenciou o maio de 68 na França, curiosamente mais familiar à Pindorama. Ou seja, exigiram (e conseguiram) que a universidade voltasse a ter o espírito livre dos clérigos vagantes e da goliardia italiana, de 800 anos antes (ainda existente na Itália!). A Argentina investiu na “universidade de massas”. Quem quisesse exclusividade e perfumaria, poderia procurar as privadas. Deu certo. É o País mais erudito das Américas (em que pese a falta de duas gerações de universitários assassinadas pelo capital e pelos militares).

Destarte, a universidade brasileira nasceu pobre para ricos e assim ficou. Uma das universidades mais fechadas para o exterior que conheço. É raro ver professores estrangeiros. Alunos são vistos, mas poucos também. Isso é no mínimo estranho. As universidades que conheço pelo mundo se orgulham de serem abertas, de terem professores de todos os lados, de serem uma rosa dos ventos, um crisol. Por outro lado, no Brasil há os que se assentam em “rankings”. “-Ah, porque esta ou aquela está entre as x melhores”. Mau gosto, cafonice e falta de erudição. Papagaios de estadunidenses! Academia não se mede em “ranking”. Casa de Altos Estudos não é carro de corrida. O que faz uma academia é o sedimento de docentes, discentes e corpo administrativo. Enfim, universidade é tempo.

E esse é o problema. O Brasil não sobeja em boas universidades. Se houvesse, até se poderia escutar o queixume das entidades médicas. Mas não há. (Claro, bons profissionais e bons estudantes existem e são vários. Bons médicos se formam até em más faculdades. Não é uma faculdade que limitaria quem tem vocação. Tenho vários excelentes colegas em quem confio minha saúde. A análise que faço é institucional e não pessoal. Generalizar é sempre um problema, mas não há outro caminho, pois estamos a falar de um “gênero”).

O estudante de medicina do Brasil tipicamente acha que ganhará dinheiro ao se formar. A lógica aqui é pervertida. Quanto mais elitista uma faculdade, mais os estudantes têm esse desejo. E, no Brasil, as universidades “públicas” são mais elitistas. Assim, é comum ver as faculdades privadas dando mais atenção ao SUS do que as públicas. Uma das privadas onde dou aulas, expõe os alunos ao Sistema desde o segundo mês de aulas, até a formatura. O resultado é que esses alunos estão mais inteirados e preparados para o PSF do que os alunos que frequentaram as públicas.

Seja como for, há uma desigualdade considerável entre a realidade de vida do médico e a de seus pacientes pobres. Um dos problemas mais recorrentes quando fui gestor do SUS era a falta de diálogo entre médicos e pacientes. Eles até se falavam, mas não entendiam a língua um do outro. Falavam português, mas os significados eram muito diversos.

Não bastasse o “vestibular”, construído na medida da exclusão dos pobres e da perpetuação dos ricos, o Brasil embarcou noutra canoa furada. E, desta vez, a responsabilidade é de um ex-ministro teoricamente de esquerda. O tal ENEM é um crime de lesa-humanidade. Ele se baseia da Teoria da Resposta ao Item, TRI. Essa TRI é filha da psicometria, parente da eugenia e dos “nazismos”. Parte de falácias conceituais, como a que considera ser possível objetivar a aprendizagem e medir a psiquê. O ENEM é impossível de ser fiscalizado. Você tem que aceitar o resultado e acabou. Um concurso assim deveria ser considerado, no mínimo, ilegal. É um longo assunto.

Em suma, universidade pública tem que ser de massas. Nenhum exame prévio deveria poder excluir uma pessoa de frequentar uma escola pública.

8. A Realidade dos “Estrangeiros”

         Por motivos vários, a gritaria é maior contra os cubanos, como já foi dito, e menor contra espanhóis e portugueses. Aqui respondo a meus alunos e às pessoas que, de boa fé, aderem ao discurso da UDN. Começo pelo seguinte: li o Diário Oficial e não vi referências explícitas a nenhuma nacionalidade estrangeira. Mas, admitamos que o plano seja mesmo atrair ibéricos e cubanos.

Primeiro, os europeus. O CFM é patrocinador de um programa de doutoramento em bioética, em convênio com a Universidade do Porto. Por coincidência, sou coorientador de um aluno – brasileiro – desse programa. O próprio Conselho tem procurado uma maneira de validar automaticamente os títulos da Universidade do Porto. Assim, pegaria mal criticar os portugueses, não é mesmo? Como o sistema universitário europeu hoje é unificado em seus princípios, os espanhóis entram no mesmo saco. Além disso, há um complexo de vira-latas que não deixa os brasileiros criticarem muito a Europa. Afinal, se vem de lá, deve ser bom (e, neste caso, é mesmo). O Governo Federal está em tratativas com seu par Português para assinar um convênio de reconhecimento de títulos. Não tenho visto protestos contra isso. Será pelo doutorado do Porto?

E Cuba? Cuba é um caso sui generis. Por ter a história que tem, desperta paixões de um lado e de outro. Mas aqui interessam os fatos médicos e universitários e para que a conversa continue boa, há que se deixarem as paixões de lado. Cuba é uma Ilha muito pobre no meio do Caribe, assolada por furacões e cercada por tubarões. Faz açúcar, charuto e promove o turismo. Pode uma “coisa” dessas produzir um bom médico? Um médico que serviria para atuar na quinta potência econômica mundial? Teriam os médicos cubanos capacidade de atender bem a população brasileira? Por mais difícil que seja, acredite. A resposta é: sim. Nem por um momento cairei na armadilha de discutir Fidel Castro. Se interessa uma revolução aqui, é a revolução social. Cuba, essa paupérrima ilhota decidiu investir em duas coisas. Educação e saúde. Nessa ordem. Um dos mais pobres países do mundo acabou com o analfabetismo em dois anos. Perdeu a maioria de seus médicos (com perfil social semelhante ao dos brasileiros) para os Estados Unidos depois da revolução e decidiu formar os melhores médicos. O resultado é impressionante. Se você deixar de lado o preconceito, verá um Haiti que virou uma potência da saúde pública, da educação e dos esportes.

Os médicos e os professores universitários formados em Cuba são respeitados pelas academias mundo afora.  Também por governos não amigos. A prova? Foi-me dito na Embaixada da Espanha (uma monarquia de direita com governo de direita) que os títulos de medicina da Argentina e de Cuba eram aceitos no Reino de forma muito mais expedita que os de outros países. Disseram-me, também, que os títulos brasileiros tinham muitas dificuldades. Perguntei o motivo e me disseram: “o Brasil não aceita ninguém, ninguém aceita o Brasil”. Isso eu vivi. Outro fato: há dois anos recebi em casa dois estudantes que cursam medicina em Cuba. Um brasileiro e outra estadunidense. Consegui que frequentassem um Centro de Saúde. A médica do PSF ficou muito impressionada com o desempenho dos dois. Sobretudo a seriedade, a ética e a vontade de estudar. Perguntei numa noite de conversas à estadunidense se ela poderia voltar e exercer nos Estados Unidos. Ela me disse que sem nenhum problema. Que ela, como qualquer estudante dos EUA se submetia anualmente a um exame e que, superando esse exame, teria o registro para o exercício assegurado. Ela me disse ainda, que havia algumas dezenas de estudantes dos EUA em Cuba. Todos estudavam de graça, o que seria impossível no país dela. Perguntei o conceito do qual gozavam os médicos formados em Cuba lá no Norte. Ela me disse, sem pensar: “são considerados ótimos”.

Conheço três médicos que se formaram em Cuba. Eles não precisaram fazer o que hoje se chama Revalida, pois eles entraram na Convenção Regional citada no prólogo. Os três são profissionais de ouro. Sempre se destacam como os melhores em seus trabalhos. Um deles, depois de fazer pediatria, cardiologia pediátrica e mestrado em pedagogia, trabalhou como médico do PSF por anos. Depois se juntou aos Médicos Sem Fronteiras. Curioso. Ele já atuou em mais de 30 países e nunca fez “revalida” em nenhum deles. Mais curioso ainda: atuando em 4 continentes, nas condições mais diversas, nunca se queixou de falta de “estrutura”. Há médicos assim. Especialistas em gente. Sabem de muita coisa, mas sobretudo aprenderam relação médico-paciente, relação humana, amor pelo semelhante. Se alguém está sofrendo, ele vai lá e atende. Depois pensa em si próprio.

 

9. A Formação em Cuba

         Como é a formação em Cuba? Séria. Rigorosa. Diferente da formação clássica europeia que existe na América, por exemplo, na Argentina. Cuba, talvez por ser muito pobre, não pode ter uma universidade de massa. Mas todos têm a mesma chance de entrar na faculdade de medicina, seja filho de médico, seja filho de lixeiro. O número de vagas varia de ano pra ano, de acordo com as necessidades projetadas para o futuro.

O estudante de medicina em Cuba respira universidade 24 horas por dia. Tipicamente o estudante mora na academia. Não se preocupa com outras questões paralelas enquanto estuda. A universidade fornece alojamento, roupas, comida e até os livros. Isso mesmo, um país pobre como Cuba forma seus médicos com livros e não com apostilas ou fotocópias do caderno da colega de letra bonita que copia tudo o que o professor diz. Apesar de haver avaliação escrita, a maioria das provas é oral. As provas finais orais são com banca examinadora (como em grande parte da Europa, como na Argentina). O aluno se senta, sorteia algumas perguntas e é sabatinado pelos professores. Mas há provas praticamente todos os dias. Os alunos nunca sabem quando serão examinados durante as aulas. Têm que saber tudo o tempo todo. A formação tem, além das matérias existentes no Brasil, outras que ajudam a forjar um médico humano, como filosofia, psicologia, sociologia (como acontece na Argentina). Se algum aluno for pego trapaceando, colando, é expulso e proibido de fazer qualquer curso superior na Ilha. O curso dura seis anos e, quando formado, o médico tem que ir trabalhar onde o Estado determinar.

Há também que se dizer o que não se vê em Cuba. Não se veem estudantes publicando frases na internet do tipo “graças a deus hoje não tinha paciente no posto”. Não se veem professores ensinando seus alunos a chamarem pacientes do SUS de “jacaré”. Não se veem universidades chamando professores às falas e até os demitindo por terem reprovado alunos. Não se veem médicos assassinando pacientes para liberar leitos e faturar mais na UTI. Não se veem médicos falsificando as próprias digitais para fraudarem o trabalho. Não se veem estudantes fazendo abaixo-assinado contra professores “difíceis”. Não se veem pais de alunos indo à universidade reclamando porque o filhinho ficou com nota baixa. Não se veem professores esfaqueados por alunos que foram mal avaliados. Não se veem estudantes dando “plantões piratas” sem supervisão em hospitais e médicos que deixam seus carimbos com estudantes enquanto vão dormir. Não se veem estudantes fazendo “esquema” para que parte deles escape dos estágios obrigatórios. Não se veem médicos com duas agendas; uma para “convênios” e outra para “particulares”. Dessas “estruturas” Brasil padece.

Não satisfeitos com suas conquistas internas, Cuba criou uma tradição honrosa de mandar médicos a locais de catástrofe mundo afora. No Haiti quem primeiro chegou após o terremoto e lá permaneceu não foram os estadunidenses ou brasileiros, muito mais ricos e poderosos. Foram os cubanos. Preparados para atuarem em qualquer condição, não tiveram dificuldades para se adaptar. Hoje, além de tabaco e de açúcar, a Ilha oferece seus médicos ao mundo. Tocantins provou noventa deles. Consta que experiência foi excelente, até o CFM conseguir liminar na justiça, expulsando-os, sob a acusação de que eles estavam tirando empregos de brasileiros. Curioso, nunca soube que o CFM tenha mandado médicos “brasileiros” para lá, ou que qualquer diretor do Conselho tenha ido ocupar essas vagas. Da última vez que soube, os lugares atendidos pelos cubanos ainda estavam com as vagas abertas.

10. Dois Anos de Estágio Obrigatório e “Revalida”

         É certo o recém-formado ter que trabalhar onde o Estado mandar? Claro que sim! Medicina não é administração de empresas e nem de herança. Medicina é sacerdócio, é doação. Quem faz medicina para se locupletar ou para ter descanso, faz o curso errado. Não importa se você estuda em universidade pública ou privada, se você tem ProUni, Fies ou se paga 60, 70 mil reais por ano. Ensino e conhecimento não são propriedades. Você não “compra” seu curso ou seu diploma de medicina porque paga para frequentar a universidade. Quando escolhe aprender a Arte, você entra em uma tradição milenar, iniciática. Tradição de serviço. Se rincões amedrontam você, se pobre dá nojo, medicina não é para você. Você não acaba sua formação depois de 6 anos. Depois desse período você deveria estar pronto para começar a se formar. O que forma você é a relação com o paciente, com o mundo, com a dor, com o sofrimento. Quanto mais necessitado o paciente, mais ele forma você.

Fico muito feliz com essa ideia. Anos atrás escrevemos um projeto parecido, usando a obrigação constitucional de serviços militares ou sociais. Apresentamos o projeto ao Exército e ao Ministério da Saúde. Acharam interessante, mas ninguém queria mexer com médicos e estudantes de medicina. Parabéns, Presidente, pela coragem.

Por último, o “Revalida”. A ideia do Revalida não é necessariamente errada. Mas, está no lugar errado. O Brasil não pode se dar a esse luxo. Muitos países do mundo não têm processo de revalidação. Outros têm. Mas, no geral, os países se abrem para médicos já formados. O motivo é óbvio. Formar um médico ficou caríssimo (não tem  que ser necessariamente assim). Aceitar um pronto é muito mais barato. E, num país sem tradição universitária, nem há que se falar em Revalida. Penso que assegurar-se que a universidade de origem seja reconhecida pela ONU, que esteja no Avicenna, já está de bom tamanho.

Somente a título de exemplo, no Reino Unido 40% dos médicos (o sistema de saúde de lá é considerado o melhor do mundo) são formados fora. Facilita-se a entrada de novos médicos sempre que o sistema precise.

Para quem quer mais números, gosta de estatística descritiva e quer pensar um pouco, ei-los:

PIB em bilhões de US$ (2008) Gasto per capita com saúde em US$ (2008) Médicos /1000 habitantes (2005) Mortalidade infantil (/1000) Casos de dengue registrados (2007)
Brasil

2648,9

715

1,64

21,2 (2005)

559,954

Cuba

60,81

584

6,27

5,3 (2007)

28

EUA

14219,3

7760,5

2,25

6,9 (2005)

488

Fontes: OPS, OMS, index mundi, Trading Economics

P.S.: O CFM nunca me perguntou o que eu pensava sobre este assunto, mas, insistentemente diz falar em nome de todos os médicos e tem mandado e-mails pedindo para que eu me junte “à luta”. A lei que criou o CFM diz que ele é uma autarquia que fiscaliza o exercício ético da profissão. Ou seja, deveria estar fiscalizando e punindo os membros inscritos que cometem barbaridades contra pacientes. CFM não tem procuração para falar em nome da categoria. Esse papel, em todo caso, caberia ao sindicato dos médicos. O CFM quer sempre um mercadão com muita demanda. Hoje convoca todos os médicos e estudantes do Brasil. Há pouco tempo não queria aceitar os formados em faculdades privadas, dizendo que eram elas de baixíssima qualidade e que a saúde da população estava em risco. Como fica? São companheiros ou um ameaça os formandos em escolas privadas para o Conselho?

Em todo caso, eu já me juntei à luta, mas foi à luta pela vida, por um mundo melhor, baseado na semelhança. Semelhante cura semelhante. Não sou contra o espírito de corpo. Ele é importante em vários momentos, mas os princípios fundamentais vêm antes. Continuarei lutando, ao lado do povo. E, para o povo, o melhor neste momento é que todos apoiemos o Programa Mais Médicos para o Brasil.”

***

Leia o resto do debate:

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

84 comentários

  1. Muito interessante o artigo, em geral. Traz ótimas informações. Gostei particularmente deste trecho:

    “As faculdades daqui privilegiam o pior tipo de medicina que existe. Aquela baseada na indústria das drogas e dos exames. Pouco se estuda e pratica sobre relacionamento médico-paciente.”

    E é assim que a medicina torna-se uma atividade meramente burocrática.

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    1. Pois é, eu mesma não me lembro de quantos médicos que me atenderam pra valer, conversando comigo, tentando entender o que eu tinha, em vez de apenas pedir um amontoado de exames laboratoriais.
      “Especialistas em gente” estão em falta e não é nem por escassez de vagas no mercado de trabalho, nem por baixos salários para essas vagas.

      Hoje saiu uma matéria interessante na Folha mostrando que os salários oferecidos nas periferias da própria cidade de São Paulo são bem maiores que no centro, mas o número de médicos vem caindo: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1314204-mesmo-com-salario-melhor-periferia-de-sp-perde-medico.shtml

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  2. Excelente artigo. Parabéns. Deu-me bastante embasamento para formular uma melhor opinião a respeito do Programa Mais Médicos. A princípio tenho uma crítica: Cirurgião-Dentista é parte integrante e fundamental da Equipe de Saúde da Família e essa menção foi preterida nessa publicação. Como membro dessa classe, notei a ausência.

    Infra-estrutura para trabalhar no interior geralmente não é um problema. Já trabalhei em dois municípios diferentes no interior do estado do Ceará, com algumas óbvias limitações de infra-estrutura física, mas que não prejudicavam o bom andamento durante os turnos de atendimento. Certa vez, houve um problema no compressor de uma das cadeiras odontológicas de um pequeno posto de saúde numa região serrana do Ceará, há cerca de 130Km da capital Fortaleza. Solução? fiz os atendimentos que eram possíveis de serem feitos sem o uso de canetas de alta e baixa rotação. Quando é do nosso interesse fazer alguma coisa, não há barreiras para tal. Em minha sincera opinião, podemos até melhorar a infra-estrutura para que os médicos trabalhem no interior do país, mas só isso não os motivará, muito menos os altos salários. Quem se propõe a trabalhar no interior necessita de uma série de renúncias, tais como não ter um bom restaurante, opções de lazer, “shopping” center, cinema, entre outras coisas. A motivação deveria partir de uma entrega pessoal, desejo de sentir-se um profissional diferenciado, que sabe enfrentar qualquer situação na vida e está disposto a ir para qualquer lugar para exercer a sua profissão de maneira digna. É óbvio que é fundamental uma boa infra-estrutura em seu local de trabalho e para moradia, mas não é só isso. Também depende de mim.

    Eu ouvi de uma Secretária de Saúde que os municípios estão nas mãos dos médicos. Se eles não aumentam os salários, ficam sem médicos e as equipes de saúde da família são descredenciadas, e como resultado, os municípios perdem o incentivo. Isso não pode continuar dessa forma. Cabe esperar como será o desenvolver do Programa Mais Médicos. Quem sabe não trará uma mudança de mentalidade para a classe médica brasileira. Esperemos.

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  3. Prezada Cris,
    Este artigo é um desserviço ao seu BLOG. É uma deselegante agressão aos médicos pautada em falácias.

    Há flagrante, perigoso e desonesto exagero do autor quando cita a Iatrogenia. Um pouco mais de respeito, por favor. A maior das Revoluções da Humanidade certamente foi a Revolução Farmacológica. Os médicos são aptos a lidar com tais ferramentas e evitar seus danos, balizados pelas informações científicas.

    É irritante a tentativa de pregar pechas de “esquerda” e “direita”.

    Qual é a Faculdade do Professor que pouco ensina da Relação Médico-Paciente? Na minha Escola e em toda minha carreira este é o Norte.

    O Doutor deve denunciar os colegas que cometeram os delitos citados ao CRM sob pena de Prevaricação.

    Que privilégio, Professor, nós temos? Cite-os. Compare os nossos ganhos por hora trabalhada aos dos outros profissionais.

    Desculpe, mas outro factoide. Quando caiu Fulgência Batista, Cuba estava longe de ser um Haiti.

    Onde os médicos cubanos se atualizam? Há Internet?

    Professor, médicos no Brasil assassinam pacientes para liberar leitos? Com que provas o senhor afirma tal barbaridade?

    O Brasil não tem tradição universitária? De onde tirou isso? A maioria dos artigos científicos brasileiros publicados em Revistas Indexadas são da Área Médica.

    Os próprios números que o Professor demonstrou o traem. O Brasil investe per capita quase o mesmo em Saúde do que Cuba!

    Cris, me espanta que tenha gostado.

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    1. Túlio, não gostei: adorei! Acho importante e qualidade fundamental de um bom texto que ele provoque reflexões nos leitores e até indignação ou irritação em parte desses leitores especialmente a parte que é maior alvo de críticas, que, no caso, são os médicos (e vocês está dentro dessa parte).
      Além disso, quando me propus a fazer um debate neste blog sobre um tema tão complexo e que não cabe a mim elucubrar a respeito — já que não sou especialista nesse assunto –, minha ideia não era colocar pessoas que se repetem o tempo todo, mas pessoas que se complementam ou contradizem, para deixar que o leitor, livremente, leia a tudo e tire as próprias conclusões. Fico feliz em ver que isso está dando efeito, porque muitas pessoas que leem o texto do dia também clicam nos links dos posts anteriores, ao pé deste post, e se informam sobre os outros pontos de vista.
      Basta ver pelos outros comentários anteriores ou posteriores a este seu, escritos inclusive por médicos, para ver que muitos concordaram com o texto do dr. Giovano Iannotti, ou fizeram algumas ressalvas que acrescentaram muito ao texto. Eu, que não entendo nada do assunto, posso dizer que gostei muito das informações críticas sobre o meio médico, porque já cansei de ler textos de médicos se autoafagando. Os ganhos por hora dos médicos são, sem dúvida, muito maiores que de 90% da população assalariada. Coloquei um ranking logo no primeiro post, acho que isso não está mais em discussão. Matéria da Folha de ontem mostra que os salários pra trabalhar na periferia de São Paulo chegam a R$ 14.800 — e faltam médicos lá. E não estamos falando do interior de Rondônia. Então a questão extrapola o salário e é sobre isso o nosso debate.
      Por fim, seria desserviço eu colocar este texto no meu blog se viesse de algum lunático que nada entende do assunto. Mas foi escrito por um médico extremamente qualificado, professor universitário na UFMG e Unifenas, doutor, que já atuou em gestão de saúde pública em secretarias municipais, estaduais e no Ministério da Saúde e que já atuou junto a organizações como o Médico Sem Fronteiras. O importante é ele ser qualificado para o debate, e não se você concorda ou não com o que ele diz. Só concordo com você que é ruim essa separação que ele faz a todo momento entre esquerda e direita, porque, no Brasil, isso não existe mais, como comento debaixo do comentário do Gabriel Gouveia. Mas é direito dele ter essa visão e defendê-la.
      Deixo aqui para o caso de ele ou outro leitor querer rebater seus questionamentos. Eu não saberia fazê-lo.
      abraços,

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    2. Prezado Tulio,
      Tenho vontade de travar uma conversa dialetica com voce. Contudo, acho dificil faze-lo com alguem que diz que seu oponente (dialeticamente falando) e falacioso e desonesto. Voce, dizendo isso, corta a possibilidade de comunicacao. Eu, pelo menos, nao vejo chance de conversar com alguem que tenha essas caracteristicas. Alem do mais, nao escrevi o texto contra voce e nem contra ninguem. No proprio texto digo que ha que se entender que se trada de uma analise de genero e nao de casos particulares. Acredito que voce seja uma pessoa boa e um medico etico. Somente se nao o fosse deveria se sentir atingido por minhas analises.
      Dito isso, tentarei ignorar as agressoes pessoais, entendendo que suas palavras foram escritas em momento de tensao emocional. Assim, tentarei dialogar. Peco tambem que desculpe a falta de sinais diacriticos. Culpa do computador que estou a usar.

      > Há flagrante, perigoso e desonesto exagero do autor quando cita a Iatrogenia. Um pouco mais de respeito, por favor. A maior das Revoluções da Humanidade certamente foi a Revolução Farmacológica. Os médicos são aptos a lidar com tais ferramentas e evitar seus danos, balizados pelas informações científicas.
      Algumas evidencias sobre a Iatrogenia ja estao no texto. Posso lhe apresentar outras. Contudo, voce nao publica nada que corrobore sua afirmacao de que a “A maior das Revolucoes… foi a Farmacologica. Seria interessante ver essas evidencias. Eu estudo o assunto desde meu 5º ano de faculdade nao identifiquei essa “Revolucao”. Ha duas “revolucoes” na historia dos povos que merecem ser citadas neste espaco. Uma, chama-se agua tratada. A outra, “soro caseiro”. Passam longe das industrias das drogas. Espero suas evidencias e espero que, como cientista que deve ser, leia as que apresentei, antes de refuta-las a priori.
      > É irritante a tentativa de pregar pechas de “esquerda” e “direita”.
      Sobre a irritacao, pouco posso fazer, pois ela e pessoal. Contudo, o conceito de direita e esquerda pode ser aplicada a fatos politicos muito antigos. Anteriores a Malouet e a Mirabeu. Nada tem a ver com partidos politicos, em principio (apesar de que partidos tendem a ser mais ou menos explicitamente comprometidos com um campo ideologico ou com outro). Os partidos sao construcao recente na Historia. Direita e esquerda (o que cada campo ideologico representa), nao. Os partidos acabarao, eventualmente. Esquerda e direita, nao, enquanto houver relacoes politicas. Basicamente, a esquerda cre na socializacao dos bens e a direita, na (sacralidade da) propriedade privada. (Pode ler que garanto que e muito bom: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=3056077&sid=15217318511530597741037174&k5=243E160F&uid=) Veja que interessante: ha historiadores que explicam o assassinato de Julio Cesar por ele ter defendido uma tese de esquerda e ter contrariado o status quo e o interesse dos poderosos, personificados e representados pelos senadores, quando decretou a reforma agraria. (Vale a pena ler, sobretudo antes de criticar: http://www.libreriauniversitaria.it/giulio-cesare-dittatore-democratico-canfora/libro/9788842081562) Como a historia se repete, nao e mesmo?
      > Qual é a Faculdade do Professor que pouco ensina da Relação Médico-Paciente? Na minha Escola e em toda minha carreira este é o Norte.
      Tomei o cuidado, e o fiz de maneira proposital, de nao citar nomes. Conheco varias faculdades e conheco as diretrizes do MEC. Sei tambem como as faculdades fazem para cumprir na aparencia com o MEC. Afirmo isso com base na minha experiencia e com base em como vejo varios colegas atendendo. Pela reacao das pessoas que nao sao formadas em medicina ao que eu escrevi, parece que os pacientes se sentem desatendidos tambem. Por ultimo, falo com base em dados primarios coletados para pesquisa de doutoramento. Se a sua escola nao e assim, fico muito feliz. E a excecao que confirma a regra.
      > O Doutor deve denunciar os colegas que cometeram os delitos citados ao CRM sob pena de Prevaricação.
      Foi feito. Nao sou covarde. Nao prevaricaria, nao me amedrontaria, nem depois de sofrer ameacas e um atentado apos minhas denuncias. Nao somente ao CRM, mas a autoridades policiais e judiciarias.
      > Que privilégio, Professor, nós temos? Cite-os. Compare os nossos ganhos por hora trabalhada aos dos outros profissionais.
      Sao varios, nao citarei todos. Alguns: 0) cursar estudos superiores 1) desemprego zero; 2) salarios de ate 20.000,00 logo depois da formatura; 3) possibilidade de achar trabalho em qualquer cidade do Brasil; 4) possibildade de trabalhar em quase qualquer lugar do mundo; 5) contar com a confianca dos nossos pacientes; 6) participar da vida intima das pessoas; 7) sofrer junto com as pessoas; 8) sermos “julgados” por nossos pares. Sao muitos. Eu me acho um privilegiado e agraeco a vida por ser medico. Tento retribuir com o pouco que tenho. Agradeco a medicina e aos meus pacientes por fazerem de mim uma pessoa melhor. Espero que um dia tambem possa achar os privilegios e as bencaos em sua vida tambem.
      > Desculpe, mas outro factoide. Quando caiu Fulgência Batista, Cuba estava longe de ser um Haiti.
      Do ponto de vista dos medicos estava longe de ser Haiti mesmo. Do ponto de vista dos miseraveis e prostituidos do grande cassino estadunidense, nao havia diferencas. Eram miseraveis como a maioria dos haitianos. Alias, podemos conversar muito sobre o assunto. Tive uns 30 colegas haitianos.
      > Onde os médicos cubanos se atualizam?
      Nos mesmos lugares que qualquer um de nos. Revistas, jornais, publicacoes eletronicas.
      > Há Internet?
      Sim. Ha dificuldades, por causa do bloqueio. Mas prioritariamente a internet atende as universidades. Mantenho contato com gente em Cuba usando correio eletronico (um dos estudantes que citei), portanto ha internet.
      > Professor, médicos no Brasil assassinam pacientes para liberar leitos? Com que provas o senhor afirma tal barbaridade?
      Eu nao afirmei essa barbaridade. Eu disse que em Cuba nao ha isso. Li nos jornais, como a maioria das pessoas deve ter lido, ou visto na televisao, que no Sul ha uma suposta quadrilha sendo processada por um fato desses. Nunca li sobre algo semelhante em Cuba. Li sobre um caso assim somente no Brasil. Mas, nem podemos afirmar, antes de transitar em julgado, que o caso tenha ocorrido aqui e nem que nao ocorra alhures.
      > O Brasil não tem tradição universitária? De onde tirou isso?
      Tirei da Historia. Gosto de estudar. A primeira universidade brasileira, se nao me falha a memoria, foi a de Manaus, fundada em 1909. As primeiras das Americas, Universidad de Santo Tomas de Aquino, 1538, e a Universidad Mayor de San Marcos, em 1551. A de Cordoba, que cito no texto, foi aberta em 1613. (Alias, se voce gosta de estudar tambem, recomendo que va la em Cordoba. A Biblioteca Mayor mantem livros trazidos na epoca da fundacao pelos jesuitas. Uma delicia! Tenho dessas coisas. Recentemente no Canada, a primeira coisa que fiz foi ir a Universidade, a faculdade de medicina e a biblioteca. Fiquei duas tardes lendo obras raras e antigas de medicina.) Isso comprova o que eu disse. A parte hispanica das Americas se preocupou com a formacao academica muito antes da portuguesa. Alias, que a parte brasileira, porque em 1909 o Brasil ja nao era oficialmente colonia de outra nacao. A universidade no Brasil e jovem. Nao tem tradicao. Reafirmo. A universidade onde curso direito, na Italia, foi fundada em 1290. Imagine a que me refiro, quando digo tradicao.
      > A maioria dos artigos científicos brasileiros publicados em Revistas Indexadas são da Área Médica.
      E?
      > Os próprios números que o Professor demonstrou o traem. O Brasil investe per capita quase o mesmo em Saúde do que Cuba!
      Trem-me? Como? Reafirmam meus conceitos: nao e preciso muito para muito fazer. Com pouco, fazendo bem, muito se faz. Estou dizendo que nao precisamos de “mais verbas” como gostam de cacarejar por ai. Precisamos fazer bem com o que temos. Meu ponto foi justamente esse. Com menos dinheiro que o Brasil e muito menos que os EEUU, Cuba tem a (atualmente) a menor taxa de mortalidade infantil das Americas.
      Estou a sua disposicao para seguir com o dialogo, desde que dentro de certos padroes de civilidade.

      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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      1. Giovano Iannoti, parabéns pela resposta lúcida, clara e civilizada. Estive perto de responder ao Túlio alguns desses pontos, mas, diante do nível intelectual do texto original, achei que nem era necessário.

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      2. Estimado Prof. Giovano,

        Lhe parabenizo pela sobriedade com que criticou a sua própria classe, de uma forma comedida e respeituosa. A verdade é dolorosa, bem sei disso, por isso que o colega Túlio ficou um pouco inflamado. Afirmo mais uma vez que o seu artigo foi importantíssimo para mim, no sentido de ter me dado um pouco mais de embasamento a respeito dessa temática (“Mais Médicos”), que certamente, ainda renderá muitas discussões. Como já havia afirmado em um comentário mais acima, sou Cirurgião-Dentista e em minha curta trajetória até o presente, tenho observado que, de uma maneira geral, os municípios oferecem boas condições de trabalho para os profissionais de saúde. Não posso dizer a mesma coisa dos salários, já que, em média, um Cirurgião-Dentista recebe R$2.200,00. Então, quando o problema não se trata do município, a responsabilidade vem sobre nós para desempenharmos dignamente a nossa profissão. Por isso que jamais vou aceitar certas reclamações de alguns colegas médicos que se queixam do salário.

        Concordo em relação ao seu comentário sobre as nossas universidades. Fiz um Mestrado em Ciências Odontológicas na “Universitat de València” há aproximadamente um ano. Essa insituição é desde 1499. Posso lhe afirmar que fiquei deslumbrado com todo o prestígio e a valorização com que os europeus dão a vida acadêmica. Cada centro tem a sua própria biblioteca. Tenho até hoje acesso, através de uma VPN, a todo o conteúdo da Universidade, inclusive aos conteúdos digitalizados de séculos atrás. As bibliotecas estavam sempre cheias. Nunca vi alunos estudando por cópias de “slides”. Uma realidade bem diferente, que me fez retornar ao Brasil mais crítico em relação as nossas universidades. Mais uma vez parabéns pelo excelente artigo.

        Atenciosamente,

        Eliziário Vitoriano – Cirurgião-Dentista

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      3. Estimado Elizario,

        Obrigado por corroborar o que escrevi. Felicito-o por seu trabalho no SUS. Sua capacidade de continuar trabalhando mesmo quando motivos outros interferiram no caminhar mostra seu compromisso com seus pacientes.
        Espero que as pessoas vejam a absurda diferenca salarial entre os medicos e os outros profissionais. Nada justifica isso, a nao ser uma carencia grande de mao-de-obra de um lado e a falta de vagas de outro.
        Sobre seu primeiro comentario, nao citei os cirurgioes-dentistas no texto, porque eles nao faziam parte das equipes basicas de PSF. Sua incorporacao tem sido feita de maneira paulatina e um pouco lenta.
        Conheco Valencia. Sou inscrito no Ilustre Colegio Oficial de Medicos de la. E um Conselho muito interessante. Muito movido culturalmente, ha sempre eventos ocorrendo. Eles valorizam o esporte tambem. O Colegio tem clube esportivo e atividades de montanha. Ah! E um clube de culinaria. Mas estou me devendo uma visita a universidade. Quando estive la, ate liguei e conversei com alguns professores, mas nao tive tempo. Foram muitas atividades e alguns pacientes.
        Conte-nos mais sobre sua experiencia la. Tenho certeza de que sao historia saborosas.

        Cordialmente,

        Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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      4. Caro Prof. Giovano,

        Agradeço a sua cordial resposta. A experiência que eu tive na Universitat de València foi inesquecível. Tive a oportunidade de ter uma grande aprofundamento na cultura do velho continente, além de ter aprendido a língua nativa deles, o “valencià” ou valenciano, em português. A seriedade dos programas acadêmicos, a abertura aos estrangeiros, o intercâmbio com outras universidades do espaço da união européia são alguns dos atrativos para os alunos de cursos de pós-graduação. É bem verdade que eles estão atravessando um momento difícil e de profunda crise econômica, que acabou por cortar diversos programas de intercâmbio, bem como algumas bolsas de financiamento estudantil. O programa que ainda sobrevivi é o “Erasmus”.

        Estou com meu diploma revalidando no Ministério da Educação e Cultura Espanhol. Curioso que uma colega Boliviano conseguiu rapidamente a revalidação. O mais curioso ainda é que eles me solicitaram uma prova de uma série de disciplinas que eu já tenho, inclusive com mais carga horário. Na época, fiquei sem entender e apresentei um recurso, anexando diversos certificados e programas acadêmicos que comprovam que não necessito da prova. Depois que li o seu artigo, estou começando a pensar que eles dificultam para os Brasileiros porque provavelmente sempre dificultamos para eles também. Reciprocidade, simples assim. Bem, esse recurso ainda não foi respondido, o processo está correndo desde Agosto de 2012, quase há um ano. Outro processo que está correndo, via Universidade Federal do Ceará, é a revalidação do meu diploma de Mestrado da Espanha, que dei entrada em Maio deste ano. R$750,00 só para dar entrada no processo e depois, outros R$750,00 para apostilamento do MEC, ainda com possibilidades de alguma solicitação adicional para obter a revalidação.

        As melhores experiências dentro da faculdade sem dúvida foram nas bibliotecas e nos espaços virtuais exclusivos para os alunos de pós-graduação. Jamais havia visto tal coisa, jamais havia visto tanta seriedade para a propagação do ensino. Diversos programas culturais extraclasse, caminhadas pelo jardim botânica para praticar o “valencià”, possuir exclusividade em diversos estabelecimentos comerciais por possuir o carnê de identificação da faculdade, fazer viagens mais baratas, tanto em trem como em ônibus, descontos na compra de livros, enfim, a temporada que passei por lá em muito acrescentou para minha formação como ser humano. Em relação ao convívio com os colegas, demorou um pouco para eles me aceitarem, até porque é da natureza deles não aceitar tão bem quem vem de fora. Sofri até mesmo pré-conceito por parte de uma professora, quando falei um pouco da realidade da saúde pública do Brasil, de que as vezes necessitamos adequar certas coisas para sermos resolutivos. Ela prontamente me interrompeu e disse que estávamos falando da realidade européia e não de países subdesenvolvidos. Respirei, traguei esse comentário nojento e segui adiante. Não adiantava falar muita coisa, ela iria me avaliar depois.

        Muito embora todas essas maravilhosas experiências, sei que aqui é o meu lugar, tenho as condições de fazer a diferença, pois acredito e vivo que o maior deve servir ao menor. Quanto mais eu tenho, mais sou devedor daquilo que tantos outros jamais terão a oportunidade de ter. Sempre retorno para casa com uma imensa sensação de dever cumprido, pois ofereço tratamento de qualidade a pessoas de distritos rurais do interior do Ceará, que jamais teriam condições de receber tal terapêutica em outro lugar se não fosse aqui, pelo SUS. Por isso acredito tanto na nossa saúde pública, pois tenho percebido que na maioria das vezes, depende de mim. Lamento apenas o fato da remuneração. Poderia ser bem melhor, mas temos esperanças de que teremos, em breve, a lei aprovada do piso salarial de médicos e dentistas em R$7,000 (PL 3734/08)

        Um prazer poder ter esse saudável diálogo com o senhor.

        Atenciosamente,

        Eliziário Vitoriano
        Cirurgião-Dentista – CEO Solonópole, Ceará

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  4. Cris, achei que o colega conseguiu captar muito o bem a questão do perfil de consciência social do médico brasileiro, seus preconceitos de classe, seu comportamento político conservador e sua forma de posicionamento corporativo (digo corporativo no sentido medieval da palavra). Talvez tenha exagerado na sua origem econômica, ao afirmar que o médico é nascido de famílias da “alta burguesia”. Esta classe é tão pequena e frequenta lugares tão distantes dos pobres mortais que às vezes confundimos os que agem como tal com a dita cuja. Eu diria que grande parte dos médicos tem origem pequeno-burguesa e não burguesa. Um filho de burguês com um pouco de miolos preferiria explorar trabalho médico do que ser um. Mas em geral a questão da consciência saiu redonda. Era justamente a parte que eu estava tentando calibrar pro meu texto e que a falta de tempo de um residente dificulta concluir.

    A questão dos médicos estrangeiros realmente ficou muito boa também. Tá me dando nojo como a corporação segue expondo suas aspirações xenófobas, em especial em relação aos médicos cubanos (o que também denota um preconceito classista).

    A perspectiva histórica também foi perfeita. Achei muito bom o resgate das origens da universidade e seu papel hoje.

    No entanto, achei que o colega pesou a mão na questão da APS, não cumprindo talvez o esforço de deixar as paixões de lado. Um sistema de saúde sério, que esteja voltado a cumprir de fato a missão de oferecer uma assistência à saúde de qualidade é baseado na APS e na sua tecnologia de alta complexidade e baixa densidade (baseada em conhecimentos multidisciplinares e trabalho vivo e não em equipamentos complexos). Este não dispensa a atenção especializada secundária, nem mesmo o complexo de atendimento de emergência e a atenção hospitalar. Porém, a assistência à saúde é apenas uma determinação da saúde humana. Não podem ser ignoradas as condições de vida da população, sua situação de classe, de trabalho, de alimentação, de moradia, educação, relações familiares, culturais, ambientais etc que operam 100% do tempo na vida das pessoas e que são os reais determinantes do sucesso de um sistema de saúde ou não. Em outras palavras, não tem sistema de saúde que resolva o problema da miséria, da insalubridade das condições de trabalho e moradia, da exploração à exaustão da força de trabalho, do arrocho salarial, do custo de vida.

    Outro problema de análise é em relação ao SUS e seu papel político. É fato que que não haveria um sistema de saúde público universal no Brasil sem pressão e luta popular e sob esta perspectiva da análise, de fato é uma conquista. Porém, se estamos de acordo com a tese de que nunca houve uma revolução social no país e que as mesmas pessoas mandam no Brasil há 500 anos, o SUS talvez seja favorável à elite nacional. De início, a existência de um sistema público desonera a classe patronal como um todo, permitindo que um dos componentes do salário não precise ser pago. Se o trabalhador tem acesso a um sistema de saúde estatal, não é necessário pagar plano de saúde ou o valor do seu salário não precisa ser elevado o suficiente para que possa pagar despesas médicas particulares. A parte pública do SUS está muito mais ligada à assistência do que ao seu processo de produção. Todos os materiais de trabalho utilizados no SUS são produzidos por empresas privadas – de simples gazinhas e agulhas até equipamentos de intervenção cirúrgica e diagnóstica de ponta – produzidos em todos os lugares do mundo. Mais de 60% dos medicamentos também são produzidos pelo setor privado. Grande parte dos leitos hospitalares, especialmente no interior, são lotados em hospitais privados e “filantrópicos” conveniados com o SUS. Mais recentemente, estão sendo implantadas em diversas cidades a administração terceirizada (privatizada) de hospitais, UPAs, centros de saúde. Ou seja, o SUS e o Estado como um todo é um grande comprador coletivo. A tese de que “O governo do estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa” apenas se reapresenta no papel que o SUS cumpre para a governabilidade capitalista no Brasil. E isto não se anula sob a perspectiva do controle social do SUS. Em que pese que seus conselhos sejam administrados por uma comissão composta de 50% de usuários (geralmente trabalhadores de outros ramos) e apenas 12,5% de membros do governo, estes usuários passam por cursos de capacitação (cooptação) organizados pelo próprio governo com o auxílio dos fornecedores.

    Isto leva à outra problemática do texto do colega Giovano: a relação com o governo. É preciso afirmar categoricamente que o governo do PT, assim como qualquer outro governo que chegue ao poder sob as atuais condições, não é um governo que visa o bem estar do “povo” e muito menos é um governo voltado à necessidades da classe trabalhadora. O papel do Estado é manter a ordem, em particular a ordem capitalista, manter as suas relações fundantes e garantir a reprodução ampliada do capital. O PT já dava sinais de ser um governo de conciliação de classes e de mediação das crises capitalistas desde o fim da década de 1980 e 10 anos de governo federal só demonstraram isto em sua totalidade. São 10 anos de sucateamento das relações de trabalho no funcionalismo público, cooptação do movimento sindical e popular, repressão ao movimento operário (obras do PAC p.e.) e salvamentos heroicos de empresas capitalistas. Há 10 anos serve como ponta de lança das aventuras imperialistas das empresas nacionais (Odebrecht, Votorantim, Gerdau, Vale, Embraer etc), enquanto o Haiti é um grande campo de treinamento de repressão popular. Somente na última crise, 1 milhão de trabalhadores foram demitidos e a CUT não se manifestou. O PT cumpre o papel que tem que cumprir como gestor do Estado capitalista e o cumpre melhor do que qualquer outro. É nessa perspectiva que o programa “Mais Médicos” é anunciado e não em uma vontade política de levar saúde a uma população que por motivos políticos e econômicos citados acima, não tem possibilidades de ter uma vida saudável. O governo e suas propostas precárias de relação de trabalho neste programa são parte crucial do problema também.

    Enoja-me muito a investida reacionária que a elite médica vem armando para cima do governo, mas é preciso apresentar uma alternativa à esquerda da dicotomia governismo x anti-governismo do duelo Governo x Entidades médicas. Para isso, a meu ver, é preciso sair da esfera da saúde. O problema não é o sistema de saúde e sim o sistema como um todo.

    Como afirma Lukacs: “Quando a critica não supera a simples negação de uma parte, quando, pelo menos, não tende para a totalidade, nesse caso ela não pode superar o que nega”

    Abraços!

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    1. Oi, Gabriel, muito obrigada por seu comentário! Complementou muito bem o artigo e enriqueceu muito nosso debate. Gostei especialmente da questão partidária que você colocou. O único problema que eu tinha achado no texto do dr. Giovano, ao lê-lo para postar aqui no blog, foi a dicotomia entre esquerda e direita, que hoje, no Brasil, anda muito fluida. Vejo o PT e o PSDB bastante parecidos entre si e acho que os oito anos de FHC e dez de Lula/Dilma contribuíram para os atuais problemas em saúde pública (e outros) que estamos criticando.
      Mas é a visão dele, então foi mantida e respeitada.

      Espero que ele venha por aqui comentar as outras questões que você apontou.

      Obrigada pela contribuição!
      abraços

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      1. Eu concordo com vc, mas, como os partidos brasileiros, todos eles, tendem a fazer esses deslocamentos a seu bel-prazer (ou quando assumem o poder), e como eles são os representantes das ideologias políticas de esquerda, centro ou direita, elas se tornam fluidas em nosso país. Não sei se me fiz entender. abraços!

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    2. Prezado Gabriel,

      Grande parte do que voce diz e concordante com minha visao. Penso que a diferenca deita na avaliacao de conjuntura. Em outras palavras, e penso que fara todo sentido para voce, por causa de seu vocabulario, voce fez analise estrategica e eu, tatica.
      De qualquer forma, voce enriqueceu a conversa. Obrigado.

      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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  5. No minimo irresponsavel, pra não chamar o autor do texto de leviano e mentiroso, quando faz a seguinte afirmação sobre o SUS: “Há falta de estrutura? Eis uma pergunta que me tem sido feita insistentemente. A resposta é: em geral, não! Não há falta de estrutura”. Esta afirmação è ridiculamente falsa! A saude està um caos, e sò quem usa o SUS sabe!

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    1. Oi, Levi,
      Acho que ele fez essa colocação num contexto de que os hospitais de planos de saúde também estão uma merda, com longas filas, falta de estrutura etc, além de custarem uma fortuna. Ele deu um exemplo sobre isso e deixou claro que usa o SUS.
      Uma pesquisa, aliás, mostra que quem usa o SUS constantemente o avalia melhor do que quem não usa. Faz pensar: http://neveraskedquestions.blogspot.com.br/2013/06/politica-para-vandalos-e-manifestantes_24.html
      abraços

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    2. Lògico que ele usa o SUS e é bem atendido, como conhecedor do sistema ele vai direto e sem fila nos melhores profissionais. Ainda mais incoerente, pois duvido que se tivesse que esperar 4 meses por uma consulta ou exame, ou ficar no banco de uma urgencia lotada e sem perspectiva de atendimento ele continuaria se consultando pelo SUS. E outra, o fato do sistema privado de saude estar horrivel, não justifica o o fato do SUS estar a beira da falencia! Pense nisso…são dois sistemas completamente diferentes. E mais, jà que ele quiz comparar, por que também não colocou na “tabelinha” a comparação com relação ao nosso precario saneamento basico, que nos ultimos 20 anos não melhorou quase nada. A pobrezinha Cuba dà de 10 a zero no Brasil em termos de saneamento. Vc acha que é possivel fazer medicina de qualidade e preventiva em um pais onde 40 MILHOES de brasileiros não tem saneamento?????? onde quase 6 MILHOES nnao tem acesso a agua tratada????? (OMS 2013). Faça- me o favor, se isso é bom, eu quero é estar bem longe daqui!!!!!!!!!!!
      Pra concluir, este rapaz é bem contraditorio mesmo, diz que o SUS funciona benissimo, e por medidas de saude incluem-se as preventivas e de controle de zoonoses, e logo a seguir mostra os numeros alarmantes da epidemia de dengue no governo Lula. O doutor em toda sua arrogancia, tipica das pessoas que se acham detentoras unicas e absolutas do conhecimento, simplesmente perdeu o fio da meada!

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      1. Levi, peço a gentileza de não usar ofensas pessoais para defender seu ponto de vista. Este blog sempre prezou pelo respeito nos comentários — ao contrário de muitos outros blogs, eu sei bem. Aqui as pessoas mantêm um nível elevado ao defenderem suas opiniões, por mais que seja para discordar com veemência de um post. Grata.

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      2. Prezado Levi,
        Eu lhe respondi anteriormente antes de ler este seu ultimo texto. Estou chocado. Nao sei de onde voce tirou que nao enfrento filas e vou aos melhores profissionais. Nao sabia que me conhecia e que me conhecia tao intimamente.
        Penso que deveria reler meu texto, pois vejo que o fez perfunctoriamente ou fui incapaz de ser claro. Nao me lembro de ter falado de zoonoses em meu texto e nem de dizer que o SUS funciona “benissimo”. Eu disse, e digo novamente, que acho o Sistema publico de saude do Brasil melhor que o sistema privado (que nem sistema e).
        Para informar melhor, e preciso dizer que saneamento sao determinantes para o estado de saude da populacao, mas nao podem ser computados com gastos com o setor de saude. O SUS nao gere gastos com saneamento, mas cada real gasto com saneamento economiza o dobro ou o triplo com a saude. Assim, mais uma vez comprovamos que, EM GERAL, nao e preciso mais dinheiro. E preciso fazer melhor com o que ha.
        So me resta, depois dessas suas ultimas palavras, pedir-lhe perdao pelos sentimentos tao negativos que sairam de seu peito. Deve ser terrivel.
        Interrompo minha conversa com voce, por incompatibilidade de nocao de civilidade.
        Cordialmente,
        Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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      3. Acho que ele também tinha feito o segundo comentário antes de sua primeira resposta.
        Fiz um apelo para que ele mantivesse o ótimo nível dos comentaristas que este blog felizmente tem (o que é raro na blogosfera); espero que ele nos atenda.
        abraços

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    3. Prezado Levi,

      Palavras sao um evento grave. Nao se esqueca de que o verbo de vez em quando se faz carne. Penso que podemos criticar sem ofender pessoalmente. Na academia, o que mais exercitamos (ou, deveriamos exercitar) e a capacidade de criticar e de ser criticado. E dificil, mas e um exercicio amoroso, politico e civilizatorio.
      Ignorando as palavras com as quais me desqualifica, respondo o seguinte:
      1) Como esta dito no texto, todo mundo que estiver no Brasil, usa o SUS. O Sistema nao se resume a hospitais e nem a atendimento medico. No meu caso, uso-o como cidadao, como profissional, como paciente e como professor. Parte de minhas licoes sao ministradas em unidades do SUS.
      2) Como esta dito no texto, a parte do SUS que mais aparece e de responsabilidade das prefeituras. Assim, a qualidade percebida pela populacao varia muito de municipio para municipio. Quanto mais incompententes e/ou ladroes forem os administradores municipais, pior sera o SUS naquele lugar. Inversamente, quanto melhores e mais competentes forem, melhor sera. Como quem manda mesmo no Sistema (expliquei isso no texto) e o povo, o SUS somos todos que estamos ou passamos pelo Braisl. Ele e bom ou ruim na mesma proporcao em que as pessoas o forem.
      3) Dizer que algo “esta um caos” nao significa nada. E um conceito vazio para nossa analise. Desculpe-me, eu, pelo menos, nao consigo andar partindo de tal conceito.
      4) Disse e reafirmo que, no geral, para APS nao ha falta de estrututra. Uma das genialidades na concepcao da APS e que ela se adapta a qualquer realidade, a qualquer estrutura. Ate a falta de estrutura.

      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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  6. Giovano, parabéns pelo texto.

    Muitas pessoas, eu próprio, estão decepcionadas com a classe médica. Sempre achei que fossem pessoas vocacionadas, preocupadas com o próximo, de alguma maneira mais sensíveis ao sofrimento humano. Sempre tive a ideia de que, por serem profissionais que acompanham de perto as doenças e as curas, ocupariam uma posição única na luta pela transformação social.

    Hoje percebemos que definitivamente não é bem assim. Nós que sempre acompanhamos a luta pela saúde pública, muitas vezes, ao lado dos médicos, sentimos que perdemos companheiros de luta.

    Dessa forma, acho muito salutar, e até corajoso, aparecerem pessoas como você neste debate para mostrar que ainda há médicos que compreendem a função social da profissão, que estão antenados e focados no princípio da transformação social, que por sinal está definido em lei como sendo o objetivo da nossa nação.

    Nos dá esperança ver que ainda podemos contar com médicos, ainda que neste momento uma minoria deles, na batalha ancestral por um mundo mais justo.

    Um abraço,

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    1. Obrigado a voce, Viktor. Nao saberia viver sem lutar. Ha duas lutas quotidianas. Uma, e para melhorar a comunidade em que estamos. A outra, e para mantermos a coerencia entre nossas crencas e nossas praticas. Ou seja, e para que sejamos nos mesmos melhores. Esta, a luta mais dificil e que mais resultados produz. As vezes nao e facil levantar bandeiras, mas mais dificil e tentar ser uma pessoa melhor nas coisas pequenas.
      Infelizmente, sempre soube que na hora da verdade, a minoria dos colegas estaria disposta ao sacrificio. Como eu disse, para dar a quem nao tem. ha que se tirar de quem tem. E tem muito.
      Abracos.
      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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  7. Finalmente alguém ”do ramo” para tentar abrir os olhos dessa juventude médica (e dos veteranos que não sabem o que é APS). Ótimo texto Dr. (tenho orgulho em poder chamá-lo assim) Giovano!
    Sou farmacêutico (não que a minha profissão tenha influência na minha opinião, mas em tempos de “Ato Médico” é bom se identificar para ver a reação dos demais) e recentemente li um artigo sobre o assunto (segue o link: http://bit.ly/18BQQkr), e o publiquei no meu perfil de uma página de relacionamentos, e um ex-colega do tempo de escola, amigo de infância e agora “doutorando” em medicina (não gosto dessa determinação, mas enfim…) tentou tarjar essa medida do governo como um meio de ”enganar a população, jogando-a contra os médicos e os tornando os vilões da história”.
    Usei justificativas que, em tese, lembram o artigo escrito por você, o que me deixou muito feliz! Eu já convivi em meio a acadêmicos da medicina, e pude perceber que muitos simplesmente não estão nesse barco ”por causa da medicina” (o que remonta à sua fala, Dr. Giovano, de que “Medicina é sacerdócio, é doação”), e essa nova medida vai ser um (merecido!) choque de realidade para estes, além de um aprendizado incontestável para todos! Infelizmente esse é o preço que os bons pagam pelos ruins, e isso não ocorre só na medicina; te garanto por experiência própria!
    Sou contra a abertura de novos cursos (hoje em dia qualquer faculdade de ”fundo de garagem” já se acha no direito de abrir um curso de medicina! Nem laboratório de anatomia tem, mal usufruem de um bom hospital de ensino), e a favor de QUALIFICAÇÃO! Pra comparar, o Uruguai por inteiro tem 4 faculdades de farmácia, e só Porto Alegre (onde esse meu amigo estuda) tem as mesmas 4, e isso me impressiona, pois hoje ainda existem farmacêuticos que se formam e não sabem a diferença entre a prednisona, a prednisolona e a hidrocortisona!
    Sei também que no Brasil há mais médicos que o que a OMS preconiza, mas a questão é a má-distribuição deles. E isso não gira em torno apenas da comparação entre as grandes metrópoles e pequenas cidades, mas entre ESTADOS… REGIÕES! Manaus é maior que Porto Alegre, e lá faltam médicos, por exemplo! E sobre a questão dos R$30mil, se deixam de pagar isso no 2º mês (foi o que meu amigo relatou sobre as cidades com falta de médicos e que oferecem salários monstruosos para contratações imediatas), eu, infelizmente, não posso fazer nada. Mas acredito que em nem todos os lugares isso seja assim. Em Imperatriz-MA (cidade com 250mil habitantes e aeroporto com voos regulares), há uma vaga para pediatra intensivista, com salário de R$30mil, ABERTA HÁ 3 ANOS!
    Em relação à reestruturação dos cursos de medicina, quando se fala em ”2 anos a mais no SUS”, acredito que sejam 2 anos LÁ no ”fim-do-mundo” (não vou citar lugares para não criar eventuais ofensas), onde realmente faltam médicos e também outros profissionais da saúde (afinal, já diz o ditado: uma andorinha só não faz verão), e não em ESFs ou hospitais públicos bem estruturados (por mais que estejam lotados, mas são de fácil acesso) ou mesmo nos próprios hospitais-escola das universidades! E quanto ao “deixa que o médico vai” (ele disse que é assim que profissionais de outras áreas da saúde agem na possibilidade de terem que ir para o ”interior do interior”), isso é uma questão muito peculiar e pessoal, pois tenho certeza que muitos não pensam assim, como eu e muitos colegas meus, já que na faculdade tivemos uma boa formação em relação à saúde pública (ainda bem!). Na minha cidade (Sinimbu/RS – que também é a cidade do meu amigo), por exemplo, ainda não há farmacêutico atuando na Farmácia Municipal. Pois é, a cidade está perto de um importante centro econômico (Santa Cruz do Sul), com um bom acesso aos serviços de saúde, e não tem uma equipe multidisciplinar completa!
    Finalizando, é claro que esse assunto deveria ser mais bem debatido e elaborado, englobando as questões de investimento na saúde pública (onde deveria ser incluída a discussão da remuneração do “Programa Mais Médicos” e dos acadêmicos nesse ”2 anos a mais” em comparação à miséria paga aos mestrandos e doutorandos, da qual sou crítico ferrenho!), a qualificação do ensino, a redistribuição dos cursos, planos de carreira e muitos outros pontos. Mas, enquanto que a Dilma não estiver afim e o “gigante estiver cochilando de novo”, não vamos conquistar muitas vitórias, e o fim dessa história vai ser o que o Governo disser, e caberá a nós tirar um bom proveito disso, por mais difícil que seja!

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    1. Obrigado, Jeferson. E sempre bom somar esforcos por uma vida melhor para todos.
      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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  8. Quando se começa um artigo sapecando o epíteto de ditador num ex-presidente da republica, dá-se para imaginar que lá vem proselitismo político. O artigo é longo e tolo. De forma lamurienta louva uma medicina pública que só existe na cabeça de desarvorados comunistas. Afirmar que não falta estrutura médica no país é uma piada infame. Ainda querer comprovar essa afirmação dizendo “eu nunca fui deixado na mão pelo SUS…” demonstra que o colega não sabe o que significa grau de evidência. A sua experiência querendo avalizar todo um complexo contexto tem tanta validade quanto o sujeito que afirma ter visto um lobisomem. Nos dois casos o grau de evidência é muito suspeito e praticamente nulo. Chamar uma maternidade privada de açougue é um desrespeito absurdo com os colegas que trabalham de forma digna. Para o autor do texto tudo que é privado é ruim. O bom é o público, o estatal e gerenciado de forma social. Para o “colega” a medicina dos EUA é a pior do mundo e a melhor a cubana. O volume de Nobel de medicina premiado aos países capitalistas – especialmente aos americanos – deve fazer parte de um complô burguês-imperialista. Sobrou até para a pobre lagosta dos “restaurantes chiques” – o colega parece ser defensor da culinária tosca para todos – quanto melhor a miséria melhor. Não é a toa que o inferno é a concepção de paraíso dos socialistas – desde claro, que o Belzebu seja ele.
    O médico para o “colega” é um bandido, um facínora imoral que trabalha por dinheiro (!). Esse tipo de comentário me lembra quando Stálin mandou prender os médicos – ele ainda quer chegar a esse ponto! Não vai bastar escravizar – a prisão por desobediência vem após. O autor do texto condena os estudantes de medicina por desejarem ganhar dinheiro ao se formar, como se fosse um pecado mortal desejar algo mais que não o que pode quem sabe, ser dado pelo Estado – um bolsa-comida e uma casinha.
    O senhor nada sabe de liberdade, o que parece importar é a igualdade de todos, nem que para isso sejamos todos medíocres. Leia a “Revolta de Atlas” e veja que a distopia que o senhor deseja já foi desejada por muitos e infelizmente se assentou em montanhas de cadáveres e em milhares de prisioneiros de um Estado policialesco que prende por opinião.
    O senhor parece odiar o mérito, pois condena a mérito. Mais mérito parece ter então os membros do MST que são escolhidos pelo viés ideológico e não pela capacidade. A tal justiça social parece estar acima da liberdade e da capacidade. O futuro desejado pelo senhor é tolher os mais capazes e formar um rebanho de cabeça baixa condenado a ruminar baboseira marxistas.
    Dizer que Cuba era um Haiti é uma mentira grotesca e não resiste aos fatos. Geisel era um ditador e Fidel é o que? Exportador de carne humana, no caso médicos? Cuba receberá dez mil dólares por médico, é esse o preço da carne humana médica, de um espécime?
    Cuba parece ser um paraíso para o senhor – os cem mil mortos eram o que? Gente que não merecia viver de acordo com pensamento de senhores como o senhor?
    Dá-me náuseas ler alguém defender ditadores sanguinários, torcer a realidade, defender a barbaridade e desejar escravizar uma classe que tanta sofre, tanto pena e é tão mal remunerada.

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      1. Essa é a resposta José? É só isso José? E agora José?

        Cadê os argumentos? Mostre a distorção da realidade? Vamos lá?
        Geisel ditador – ficou no poder durante quatro anos e existia oposição com um partido aguerrido. Promoveu a abertura politica.
        Fidel ditador – ficou quase 50 anos no poder e a oposição ou apodreceu na cadeia, ou levou um tiro na testa ou virou papinha de tubarão. Foram cem mil defuntos desarmados.

        E agora José de Souza Castro, quem distorce a realidade?

        Eu sou médico José, mas daqueles que estudam muito, que fez ciência, publicou e atendeu baleados sem luvas, trabalhou com material cheio de gambiarra e viu dezenas de pessoas morrerem porque existem tolos uteis de plantão que acham que a saúde do Brasil é boa, que nada precisa ser feito.

        O médico, José, é um herói. O que ele ganha numa consulta do SUS não paga um pão com mortadela, uma cirurgia abdominal não paga uma marmita e que vive desesperado fazendo plantões para ganhar uma mixórdia.

        Você é médico José? Se for então estudou por dez, onze, doze anos ou mais para poder exercer uma especialidade. O idiota que escreveu o artigo desconhece que para ser especialista o médico tem que fazer um primeira residencia antes – um pneumologista deve ter formação em clinica médica. O especialista José, tem formação generalista sabia? Só depois ele irá fazer mais dois ou três anos de estudo.

        Quantos anos tem a formação de medicina em Cuba José? Você sabe? Quatro anos José?

        Você acha os americanos malvados, o Papa ruim, o capitalismo coisa do capeta e quem estuda e trabalha duro vendidos ao sistema, né?

        Qual o seu problema? Não passou no vestibular? Sua notas são baixas? Não gosta de estudar?

        Então José, se assim for, seja um progressista, entre num partido e busque uma sinecura. Existem milhares como você, junte-se a manada, assim você será forte e não precisará pensar.

        A competência José, é para poucos, mas lembre, se um dia entrar numa emergência chame um médico cubano, afinal cada um deve ter o que merece.

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      2. Meu filho, se você quiser comentar neste blog, tem que manter o nível. Chamar o autor do post de “idiota” não se enquadra. A propósito, ele é tão ou mais médico que você, como você pode ver pelo extenso currículo dele.

        Tratar meu pai como idiota apenas porque ele rebateu seu comentário anterior também não se enquadra.

        Se quiser discutir melhor todo esse assunto, posso te ligar ((6*) 92** 61**, né?) e te explicar como funcionam as regras básicas de cordialidade na internet, mas não admito desrespeito neste espaço.

        Grata.

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    1. Estimado Wagner Meleiros,

      Voce esta certo. Desculpe-me se o ofendi. Por favor, peco-lhe somente uma coisa. Nao agrida tao violentamente as pessoas que generosamente se dispoe a conversar neste espaco que a Cristina criou. Veja, o pai dela diz uma coisa e voce o trata da forma como o tratou? Um senhor? Essa violencia nao combina com o juramento que prestou.
      Facamos assim: se precisar de ajuda neste momento da sua vida, pode me procurar. Se achar que nao posso lhe servir, com prazer indico-lhe um colega que podera lhe ajudar.
      Sei que e dificil, vejo sua “fascies abotagada” mas as vezes temos que passar sobre o orgulho ferido. Todos precisamos de ajuda em algum momento.
      Um TFA, meu colega de profissao.

      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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    1. Voce disse duas verdades, Victor. Obrigado por seus parabens, ainda que me parecam exagerados.
      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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  9. Caro Wagner Malheiros. Se antes eu tinha dúvida, não tenho mais. Talvez, se tivesse feito uma rápida pesquisa sobre mim, não teria perdido tempo com tantas perguntas a este José. Agora fiquei convencido, não estou certo por que motivo, de que seu nível de conhecimento sobre a medicina em Cuba é menor do que a do seu colega. Não cheguei ainda a uma conclusão sobre quem sabe mais de SUS, você ou ele. Continuarei estudando. Aos 69 anos, tenho muito tempo ainda para descobrir. Grande abraço.

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  10. Algumas lições básicas. Significado da palavra idiota = quem diz bobagens, tolo, inculto. Na medicina é quem sofre de idiotia = quem sofre de baixo grau de desenvolvimento intelectual.

    Parece que os “gauche” não aceitam o epiteto de idiota. São luminosos e luminares. Perdão.

    Quanto a postar meu telefone, saiba que está fazendo coisa muito, mas muito feia. É uma ameaça me ligar? Se o fizer a deixarei conversar com minha esposa.

    Não o faça. Dê meu numero aos ciberterroristas, deixe que me liguem – os grunhidos e xingamentos somente comprovam a falta de argumentação dos neolíticos políticos

    Não tenho queda por mulheres de esquerda. Somente a inteligencia me seduz.

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    1. E só pra deixar claro: postei seu telefone [PARCIAL, E BEM DIFÍCIL DE ALGUÉM TE LIGAR SEM DOIS DÍGITOS, mas tirei outros três dígitos, pra não te expor à toa] para te mostrar que tive um mínimo interesse em conhecer meu interlocutor, que chegou aqui no meu blog atacando um autor convidado e o meu pai e, depois, a mim, sem me conhecer ou mesmo procurar fazê-lo.

      Além do seu telefone, já descobri que o sr. atua no hospital Jardim Cuiabá desde janeiro de 2001 e que é graduado pela UERJ, correto? É especialista em pneumologia e atua em broncoscopia flexível. Também li aqui artigos que o sr. escreveu, comentários sobre situações críticas do SUS (muito bons, por sinal; eu concordo com os que li), e tenho até o telefone fixo para marcar uma consulta com o sr., se assim o desejar.

      Tudo isso encontrei fazendo uma simples busca pela internet, no Google mesmo, nada demais. Portanto, não foi nenhuma ameaça. Achei até o rosto (http://m.c.lnkd.licdn.com/media/p/2/000/0bb/1e7/27c8867.jpg) da pessoa que resolveu entrar aqui mais raivoso que racional.

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      1. Você podia ter respondido, mas não possui argumentos. Não adianta tentar remediar, que ao postar meu telefone você tentou me intimidar, como o fazem os sequazes das seitas portadoras da verdade suprema. De um artigo vil, indefensável moralmente, a não ser pelos que carregam o viés do ódio ideológico da esquerda, que amam eliminar o adverso. Você e esse artigo indecoroso, que afronta a dignidade dos médicos, nada mais tem a fazer que é mergulhar mais fundo num fosso sem saída.
        Gostaria que repensasse e lê-se o artigo e veja quanto ódio existe nele. O ódio e desamor carregado pela esquerda somente planta a destruição da virtude, a eliminação da honra e a desculpa que todo ato infame, por pior que seja, pode ser desculpado pela justiça social.
        Não seremos escravos dos da sua estirpe, ainda somos uma democracia, por mais que amem a ditadura e defendam os maiores monstros morais da história. Os cadáveres da infeliz ideologia do autor do artigo somente os afetam quando o fedor lhes sobe as narinas.
        Rezarei por ti.

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      2. Boa reza, virtuoso.
        Não precisa voltar mais, já que se sente tão atingido por tanto ódio imaginário. Há milhares de blogs por aí, que apenas reproduzem as ideias que você já possui e não abrem espaço ao contraditório. Neste meu blog, em seis posts, abri bastante espaço a ideias totalmente divergentes entre si. Nos comentários deste post, idem. Mas seu ódio irracional não é bem-vindo por aqui e não será mais aceito.

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  11. Postou sim, veja só “Se quiser discutir melhor todo esse assunto, posso te ligar ((65) 9276 61**, né?) ” . Só não postou dois números, mas postou.

    E ameaçou me ligar. Um esquerdista me ligando é um atentado, mas deixa pra lá e me diz aí:

    Cem mil defuntos na revolução cubana foi pela justiça social?

    Até agora não me disse nada, cade os argumentos?

    Diz aí..algo assim ” foi uma revolução, saca? Uma coisa pedida pelo povo, a sociedade tinha que sofrer expurgos e então matar cem mil pessoas era importante.”

    Já ouviu falar de Buchenwald? Serviu de exemplo para Cuba. Um campo cheio de livres pensadores morrendo de fome. Mas é pela justiça social, né?

    Quantas milhares de pessoas devemos matar e cercear os direitos em nome da liberdade, n’est ce pas?

    Viva a revolução!

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    1. Eu não disse nada porque não era o alvo dos seus questionamentos e deixo as pessoas comentarem livremente no meu blog, discordando à vontade, inclusive para incentivar uma discussão saudável, baseada em discordâncias de opinião, enriquecimento do debate, novos argumentos, novas trocas de informações.

      O que não admito por aqui é agressão, como esta que o sr. tem feito desde o início. O que sabe de mim, do meu pai ou do autor do post para ficar nos atacando?

      Desde que chegou por aqui, vem apontando a questão da política, deixando de lado as outras questões que são prioritárias neste debate. Pois eu te respondo o seguinte: não sou partidária, não gosto de ser tachada de “esquerdista” (embora menos ainda de “direitista”) e jamais vou concordar com ditaduras, sejam elas quais forem, nem muito menos com mortos políticos e afins. Agora, sobre as questões centrais do artigo, se o sr. as quiser discutir pra valer, faça a gentileza de trazer argumentos, que tenho certeza que o dr. Gianotti terá a maior disposição em respondê-las, como já fez com outros comentaristas. Aliás, recomendo que comece por ler o que eles têm a dizer. Mas se sua ideia de discussão for apenas aparecer por aqui desferindo ofensas contra as pessoas, pode ter certeza de que não será mais bem-vindo. O botão de moderação serve justamente para pessoas como o sr., que felizmente são raras neste blog.

      No mais, boa sorte aos que estiverem tão interessados em encontrá-lo que terão que fazer combinações binárias podendo usar até 10 dígitos diferentes em cada uma! São 100 possibilidades, terão uma trabalheira danada!

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  12. Quando são questionados vocês saem pela tangente e fazem cara de muxoxo e ofendidos. Caluniar toda a classe médica de uma país como uma súcia desvairada por dinheiro e responsável pelo status quo é fácil. O difícil é argumentar com a realidade que se impõe – os fatos. Viver em desvarios utópicos vangloriando o realismo fantástico que só se encontra na cabeça de proselitistas só mesmo em terras ignaras e cheias de ignotos da razão.
    Não me responderam e tampouco argumentaram nada do que escrevi. Para os tão vestais e virtuosos basta o contraditório para se qualificar o maldito. O artigo atacou médicos, estudantes de medicina, deturpou a verdade e torturou a realidade, como se não existissem pessoas esclarecidas para desmenti-las e o mundo aí fora.
    E a mentira esta aí. De contraditor passei a ofensor, de médico desqualificado por exercer essa miserável medicina que o Estado me oferece, ingrato aos que oferecem as benesses do socialismo puro em que Fidel é um democrata e Geisel um ditador. Porque Fidel não o é? Porque o artigo faz proselitismo raso em defesa da medicina estatal-socialista. Porque o artigo ignora solenemente a procedência de todas as vitorias da tecnologia médica oriundas dos países capitalistas e louva soluções tribais como verdadeiras e sábias.
    Já fui esquerdista, mas cresci, estudei e adquiri senso critico e maturidade, o que parece não fazer parte de boa parte dos que envelhecem com o ranço da insatisfação que lhes remói pelo mundo que não os satisfezem – seja na incapacidade ou na inadequabilidade.
    Me responda oras, argumente, mas não corra dando uma de ofendida por ver seus frágeis ponto de vista confrontados.

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    1. Meus pontos de vista não estão em jogo aqui, meu caro, porque, se vc acompanhasse meu blog, ia ver que desde o início tenho colocado médicos para escreverem sobre o assunto neste debate, assumindo que nada sei a respeito. Não vou argumentar e já deixei seu comentário aí para quem quiser fazê-lo, inclusive o autor do post.

      Sobre sua falta de educação, deixo aos leitores que tirem as próprias conclusões a respeito. Basta saber ler e ver que o sr. chegou aqui preferindo os ataques ao interlocutor (idiota, proselitista, desvairado etc) do que a apresentação real de fatos.

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  13. Muito interessante o texto. O autor é extremamente corajoso ao se posicionar contra a opinião corporativa. Mas discordo de vários pontos. Não posso deixar de notar a referência a artigos que demonstrariam a diminuição da mortalidade em comunidades afetadas por greves de médicos. Sem analisar criticamente esses artigos, a mera citação parece o terrorismo típico com o qual a imprensa brasileira trata as questões de saúde pública no Brasil, o qual é justamente um dos motivos pelos quais boa parte da população tem dificuldade em saber onde está o problema. Mesma coisa penso sobre a frase “a matança causada pela indústria das drogas e dos exames complementares”. A matança não é causada pelas drogas ou pelos exames complementares, mas mais precisamente pelo mau uso destes. Medicamentos e métodos diagnósticos modernos salvam vidas também, basta saber usá-los. Me formei médico no Brasil há cerca de 15 anos, há 8 anos trabalho na Inglaterra, para o NHS, o SUS britânico. Várias colegas me perguntam como é o sistema aqui, se é eficiente, se os pacientes ficam satisfeitos. Quando digo que funciona muito bem, que a maioria das pessoas fica satisfeita com a qualidade do serviço e que a maior parte dos médicos tem orgulho de ser “GP” (General Practitioner, o médico de família), todos concluem rapidamente: “claro, num país rico as coisas funcionam”. Entretanto, não é a riqueza do país que faz o sistema de saúde funcionar, mas sim o fato desse sistema ser bem planejado, responsavelmente gerido e baseado em atenção primária a saúde. Mas não basta investir em atenção primária se a gestão for corrupta e incompetente, como no caso do Brasil. Concordo que o SUS funciona razoavelmente em alguns lugares, mas isso é exceção. Também é preciso pagar bem o médico e oferecer condições dignas de trabalho. Aqui somos muito bem pagos, ganhamos mais que a média dos outros profissionais. Os ingleses consideram justa essa remuneração acima da média, na medida em que reconhecem o esforço necessário para a formação, a necessidade de atualização contínua e principalmente o fato de que levamos nossa profissão conosco quando estamos no restaurante, dentro do avião ou na beira da praia, o que, é bom lembrar, não é o caso do torneiro mecânico, do ator ou do faxineiro, para ficar nos exemplos citados no artigo. Acho que o Prof. tem razão ao dizer que a educação superior no Brasil é elitista. Mas mesmo sendo originários de uma minoria privilegiada, a maioria dos colegas com os quais tive a chance de trabalhar enquanto no Brasil eram genuinamente preocupados com pessoas. Acredito que temos um papel dentro do sistema que extrapola a parte técnica e que é necessária uma mudança de postura em parte dos médicos brasileiros (me parece que especialmente os mais jovens), e talvez até a vinda de estrangeiros seja importante para provocar essa mudança. Mas é pelo sacrifício diário dos profissionais sérios, dedicados e competentes, os quais frequentemente dedicam sua própria saúde para a sua profissão e para seus pacientes, que não posso concordar com generalizações que dizem que os médicos são desumanos e gananciosos.

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    1. Estimado Leonardo,

      Obrigado por seus comentarios. Quando ouvi pela primeira vez sobre esses estudos relacionando greve de medicos a queda da mortalidade, fiquei tambem impressionado. Se nao me falha a memoria, um professor meu comentou isso durante a graduacao e essa informacao ficou registrada em algum lugar. Mas, foi num curso que fiz de estatistica durante o doutoramento que o assunto realmente me chamou. Como ja havia lido o livro da Barbara Starfield e estado com ela em um debate em Brasilia, fiquei muito curioso. Posso lhe passar as referencias de alguns desses artigos, se tiver interesse.
      A informacao nos assusta talvez por ser, aparentemente, paradoxal. Sobretudo para nos que fazemos tudo a nosso alcance para ajudar as pessoas que precisam. Contudo, estudando o padrao e relacionando-o aos estudos sobre iatrogenia, ve-se que o fenomeno tem logica
      A iatrogenia nao se refere somente aos erros medicos, ao contrario do que pensam alguns colegas. Ela inclui os erros, omissao, imprudencia e impericia mas inclui os efeitos conhecidos e esperados, todavia julgados aceitaveis por alguns medicos, e os efeitos imprevisiveis. Para ficarmos em exemplos que todos os leitores da Cristina possam compreender. Suponhamos uma senhora com artrite reumatoide (e um caso hipotetico, sem esgotar as centenas de possibilidades de abordagem). Ela vai ao medico e este lhe receita metotrexato e aspirina. Depois de um tempo, a senhora desenvolve uma ulcera e morre. Sem tecer detalhes, aparentemente, nao ha erro nesse tratamento, do ponto de vista da medicina (flexneriana). A causa da morte talvez seja registrada como hemorragia digestiva alta, ulcera gastrica, AR. E bem possivel que seja assim e que assim se forme a estatistica. Contudo, essa tera sido uma morte iatrogenica nao devida a um erro medico, mas a um efeito indesejado e conhecido do tratamento prescrito.
      E ha os efeitos desconhecidos. Esses sao terriveis, poisdificilmente podem ser objetos de pesquisa. Explico-me. Hoje em dia e muito raro ver um paciente com um padecimento cronico usando somente uma droga. A regra parece ser a receita e o uso de uma variedade grande, com combinacoes imprevisiveis. Quantos estudos ha sobre as infinitas possibilidades de combinacoes de drogas? O que sabemos nos sobre o que pode gerar no corpo humano captopril, misturado com amoxilina, mais dipirona, com hidroclorotiazida e diazepam? Voce veja, estou usando um exemplo de drogas comumente receitadas no dia a dia. Nao penso ser dificil achar um paciente em uso contemporaneo desses produtos. Mas o que sabemos nos, cientificamente falando, dessa salada? Nada. Suponhamos que esse paciente morra de derrame, de ataque cardiaco, de insuficiencia dos rins ou do figado (permita-me o uso de terminologia vulgar) ou de qualquer outro diagnostico de doenca. E pouco provavel que se chegue a conclusao de que essa morte tinha relacao com o tratamento. No entanto, e muito razoavel desconfiar que pode haver relacao.
      Tal e o campo de estudos da iatrogenia. O livro do Ivan Illich que indico no texto e muito bom. Vale a leitura, mesmo que para discordar dele. Illich e’ dos autores mais eruditos que a academia ja produziu. O livro da Barbara e osso duro de roer, porque as vezes e muito tecnico. Meus alunos penam quando indico a obra. Mas vale tambem o esforco. Se estiver sem tempo, porque a obra ocupa mais que uma resma, de uma olhadinha no artigo dela que saiu no JAMA (penso que, para este caso, o JAMA seja a publicacao menos suspeita): http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=192908 Se nao conseguir ler o artigo inteiro no JAMA, tente este endereco: http://silver.neep.wisc.edu/~lakes/iatrogenic.pdf No debate em Brasilia do qual participei e do qual falei anteriormente, a Dra. Starfield disse que seus calculos colocavam a iatrogenia como a primeira causa de morte nos EEUU (e provavelmente no ocidente), se fossem computados os casos de morte registrados tando por base outras causas, mas que seriam, se fato, mortes causadas pelos tratamentos medicos. Nao tenho em maos os numeros, mas era coisa de mais de um milhao por ano. E impressionante.
      Agora, isso fala mal da Medicina? Nao! A Medicina e, para mim, a mais bela e nobre das artes. Fala mal de certa pratica medica contemporanea. Nao podemos, uma vez a servico da humanidade, tapar o sol com a peneira. Temos que enfrentar cientificamente o assunto. De peito aberto. Os dados estao ai. Cabe-nos aprender com eles, aceitar as limitacoes e mudar onde for necessario. Talvez mudar ate o paradigna prevalente hoje.
      Mais uma vez, agradeco a chance do dialogo. Academia e’ dialetica E a dialetica e’ o caminho da grandeza, da beleza e do Amor. Assim vejo.

      Cordialmente,

      Giovano Iannotti – Professor de Medicina

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  14. Prezados Cris e Dr. Wagner Malheiros,
    Outrora chamaram aposentados de vagabundos. Vituperaram professores. Agora é nossa vez. Dilma Rousseff e seus asseclas conseguiram seu intento: colocaram a Sociedade contra os Médicos. São ajudados por seus militantes fiéis, que cegos vituperam colegas para defender escabrosos argumentos da esquerda “Vintage”. Só nos resta continuar trabalhando. Talvez seja contraproducente nos defendermos. Virou jogo de futebol. Virou maniqueísmo. Atitudes irresponsáveis tomam ineptos acuados.
    É a vida.

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    1. Túlio, se você discorda dos argumentos, basta discuti-los numa boa. Não gosto é de fla-flu no meu blog, gente que entra aqui pra xingar, usar palavrão, ofender. Isso nunca entrou aqui e não será desta vez. Não sou partidária, nem sou militante de nada, nem muito menos militante cega e nem mesmo tinha opinião pré-formada sobre o assunto, por isso mesmo abri o espaço do meu blog para o debate livre de ideias, que incluiu tanto o texto do Giovano Iannotti quanto o seu. O que não entendo é porque quando alguém defende uma ideia contrária à sua, essa pessoa tem que ser ofendida.
      No mais, nunca vi tantas vezes o verbo “vituperar” num mesmo parágrafo! 😀
      abraços, volte sempre.

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      1. Mostre em meus textos onde está o palavrão. Procure que não vai achar. E se não achar se desculpe. É melhor ser equivocada do que mentirosa. Você não argumentou em nada do que disse, só posou de vítima. Como jornalista dá uma ótima poser.
        Estou esperando que demonstre o tal palavrão.

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      2. Olha só o que você fez, Túlio! Que lástima! Ressuscitou o cara que chamou o dr. Giannotti de idiota, disse que meu pai não gosta de estudar, que deveria se juntar à manada e o tratou como um imbecil em sua resposta, e que agora disse que sou uma ótima jornalista-poser! 😀
        Dr. Wagner: leia os outros artigos que coloquei neste blog. Tem inclusive um escrito pelo Túlio, que estará mais próximo das suas ideias. Não perca seu tempo lendo o que te traz tantas náuseas e tanto ódio no coração, se não se imagina aberto a ideias diferentes das suas. Aproveite pra ler outros que souberam comentar neste espaço, discordando veementemente do que foi dito pelo dr. Giannotti, mas de forma respeitosa tanto comigo quanto com meu pai. Mas não espere que eu vá ter alguma simpatia por alguém como o sr., que prefere atacar com palavras venenosas quem nem conhece, em vez de dialogar. O nível dos comentários deste blog, até o sr. aparecer, sempre foi dos melhores.
        O sr. não é bem-vindo neste blog: eu já tinha dito isso e repito agora. Sugiro que busque outros blogueiros e jornalistas não-posers, que apenas publicam aqueles textos consonantes com suas ideias. Só esses textos, não basta publicá-los junto a outros textos diferentes, num debate que durou uma semana: é preciso ter APENAS textos com uma posição única!
        Mas, enfim, de novo: o sr. não é bem-vindo aqui! Não gaste sua saúde num lugar onde não é bem-vindo! Vai lá rezar por mim, vai lá atender aos seus abençoados pacientes, que muito merecem seu atendimento! Porque “cada um tem o que merece”… Vai lá conversar na rodinha dos gênios iluminados que te cercam! Você será mais feliz e, garanto, eu também ficarei muito mais feliz — afinal, este blog é meu hobby, e não ganho pra ter que ler ataques pessoais de gente que nem conheço.
        Sejamos felizes! Boa semana! 😀
        E repito: não volte não, tá? 😉
        (Túlio, me deve uma cerveja por esta!)

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  15. E por falar em profissionais ruins, deve ser por isso que vc tem esse blog, já que nenhuma fonte séria de jornalismo iria lhe contratar, dada a quantidade de estupidez e alienação que escreveu, porque vc n vai passar 2 anos no interior sendo acessora de prefeito e vereador? Eu creio que nem competência pra isso vc teria

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    1. Ainda bem que você sabe que é piadista, né? 😀
      Não tenho que dar satisfações a alguém que apela a agressões na falta de argumentos, mas meu currículo está aí pra quem quiser ver. Este blog é apenas meu hobby e, para um hobby, me dedico bastante a ele. No mais, uma dica: não é a “fonte” que contrata o jornalista. Evite esta numa próxima agressão gratuita a blogueiros. Uma revisada no português também ajudaria na sua “piadinha” 😉

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      1. Gostaria que você desconsiderasse essas ofensas pessoais de alguns colegas meus de profissão. Deixo pra você um texto (mais curto) e um vídeo com opiniões contrárias às defendidas aqui.

        O crédito dado ao autor do texto principal, apesar de ser médico-professor de medicina, não deve ser considerado, pelo simples fato de ele pertencer ideologicamente ao grupo “beneficiado” pelo programa (médicos estrangeiros). Você precisa de textos de médicos que lutaram a realidade da medicina desde os estudos primários e de preferência em universidades públicas. Com esse critério, somente o Padilha apoia este programa.

        As vezes é bom não ser prolixo porque cansa a leitura, então já me despeço te desejando o melhor. Abaixo as opiniões que representam aproximadamente o que eu penso.

        Texto: http://alexandrecosta.org/post/56790307721/que-venha-o-mais-medicos
        Vídeo: http://youtu.be/YTqyIQRgqGE

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      2. Olá, Victor. Obrigada pela discordância educada. Andava em falta por aqui neste post.

        Acrescentei o artigo que você enviou neste post: https://kikacastro.wordpress.com/2013/07/09/a-polemica-dos-medicos-estrangeiros-parte-2/. Acho que ajuda a enriquecer o debate, que não se trata de certo ou errado. Todo assunto polêmico comporta, em si, vários pontos de vista dissonantes e, às vezes, complementares. Cabe aos leitores inteligentes deste blog lerem tudo e tomarem suas próprias posições no debate.

        Só uma correção com relação ao autor deste post acima: ele é brasileiro, embora tenha se graduado em Córdoba.

        Um abraço.

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  16. Boa a entrevista do governador gaúcho Tasso Genro ao Sul 21 [http://www.sul21.com.br/jornal/2013/07/tarso-genro-nao-sejamos-ingenuos-quem-esta-ganhando-e-o-centrao/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter]. Trechos:

    Dou o exemplo da saúde pública. Quem não sabe que o SUS faz dezenas de milhões de atendimentos às populações mais pobres e que é uma das grandes conquistas do povo trabalhador do país, que salva milhões e milhões de vidas em cada ano? Pois bem, dezenas de reportagens “contra” este sistema público foram feitas precisamente no momento em que os planos privados, que eram apontados como a grande saída pelos neoliberais, entraram numa crise profunda, que ficou totalmente subsumida nos noticiários, pois o “problema”, para esta mídia, era o Estado, não o mundo privado.

    Há luta ideológica sobre a saúde pública

    Ambos, certamente, estavam e estão subfinanciados e o nosso SUS precisa ser muito melhorado. Mas o que foi escondido -nestes ataques ao sistema de saúde pública no Brasil- é que ele é, predominantemente bom para o povo e que o privatismo não resolveu a questão nem para a classe média que paga religiosamente os seus planos. A direita, na verdade, se propôs a uma luta ideológica, sobre a questão da saúde no Brasil, manipulando a informação, e a esquerda e os governos se recusaram a fazê-la. As lideranças de esquerda em geral, com algumas exceções honrosas, manifestaram-se “encantadas” com os movimentos, como se eles fossem uniformemente “autênticos”, não manipulados, o que não é verdade. Basta ver que quando eles saíram da domesticação induzida passaram a ser depreciados.

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  17. Cris, esse editorial de hoje da publicação multimídia Carta Maior [ http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1&home=S ] pode enriquecer este debate:

    “O SALTO NO IDH DAS CIDADES E O ‘MAIS MÉDICOS’
    O padrão de desenvolvimento humano dos 5560 municípios brasileiros avançou de ‘muito baixo’, em 1991, para ‘alto’, em 2010. O período abrange os governos FHC e Lula. Porém, foi no ciclo do PT que se deu o ganho real do salário mínimo de 60% (extensivo à massa dos aposentados) e o Bolsa Família chegou a 12 milhões de lares. Não por acaso, os maiores avanços nesse indicador do PNUD/ONU, que cruza renda, educação e saúde, ocorreram no Norte e Nordeste, onde a incidência dessas políticas foi maior. Se o programa ‘Mais Médicos’ se tornar o novo ‘Bolsa Família’ do país, o salto também será robusto nos próximos anos. Tal perspectiva torna ainda mais constrangedora a evidencia de sabotagem corporativa contra um programa destinado a levar assistência às regiões mais pobres do país: dos 18.500 profissionais inscritos na primeira chamada do Ministério da Saúde, pouco mais de 4,6 mil validaram sua documentação até agora. A adesão maciça de 3.511 municípios, porém, demonstra a pertinência de um novo escopo de política pública, associada às universidades, cujos currículos terão que ser adaptados para essa finalidade. O ‘Mais Médicos’ descortina uma nova família de programas sociais, que exigirá uma reforma do ensino superior brasileiro, de modo a integrá-lo, efetivamente, à luta pelo desenvolvimento. Estamos diante de uma nova e promissora fronteira de integração entre a agenda econômica nacional, a urgência social e a comunidade universitária. É esse horizonte de gigantescas possibilidades políticas que deveria estar sendo discutido hoje. E não o casulo autorreferente do interesse corporativo. Dia 15/o8, o governo abrirá uma nova rodada de inscrições para o programa ‘Mais Médicos’. A demanda inicial dos municípios é superior a 15 mil profissionais.”

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  18. De vez em quando assiste-se na televisão uma reportagem bem feita. É o caso desta:
    30/07/2013 20h29 – Por SBT Online
    Médicos batem ponto sem trabalhar em hospital público de SP
    Alguns médicos da maternidade pública Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo, passam diariamente no hospital apenas para marcar o ponto. Eles foram flagrados entrando pela porta de funcionários e saindo em seguida, após bater o ponto e sem prestar qualquer atendimento. O processo todo não dura mais do que 15 minutos. Reportagem de Fabio Diamante, com produção de Fabio Serapião e imagens de Ronaldo Dias, exibida no telejornal SBT Brasil.

    O vídeo pode ser visto aqui: http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=medicos-batem-ponto-sem-trabalhar-em-hospital-publico-de-sp-04028C983366C4B14326&orderBy=mais-recentes&edFilter=all&time=all&q=medico&originalQuery=m?ico&#assistir.htm?video=find-new-roads-04020E1B3868E4A94326&orderBy=mais-recentes&edFilter=all&time=all&q=medico&originalQuery=m?ico&currentPage=1

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      1. O programa Mais Médicos
        JOSE ALBERTO MORENO comentando o artigo do Ministro do MEC, Ministro da Saúde e Ministro da AGU,

        O PROGRAMA MAIS MÉDICOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

        Em cooperação singular três Ministros da República, MS, MEC e AGU produziram um artigo, em conjunto, justificando a legalidade do Programa Mais Médicos e louvando as suas vantagens que beneficiarão 45,6 milhões de brasileiros

        Como Professor de Homeopatia e como Terapeuta Naturista vejo fragilidades no programa “mais médicos”.

        1ª. Os médicos cubanos em matéria de terapias naturais estão entre os mais avançados do mundo. Especializaram-se em métodos naturais, que se adéquam ao modelo de autocura. Isto explica o inquestionável sucesso da Terapia Cubana, onde os métodos naturais sobrepujam a sofisticada tecnologia alopática. Com pouco conseque-se muita saúde.

        2º O modelo natural de tratamento previne doenças, mantém as pessoas saudáveis, produtivas. Isto faz o modelo cubano em Cuba, mas no Brasil o “modelo cubano cabloquizado ao sistema alopático”, resultará mais um investimento infrutífero na tentativa de melhorar a saúde do brasileiro.

        3º Lembro apenas, que chegados ao Brasil, o MS não deu aos Médicos cubanos condições de trabalhar como eles trabalham em Cuba, com os mesmos ingredientes naturais da ilha caribemba. Ingressando no SUS brasileiro, em poucos meses, o médico cubano se “cabloquizará aderindo ao modelo alopático”. Passarão a receitar diazepan, somalium. tegretol, atenol, celestone, akneton, zatiden, enuréticos e mais outros milhares de alopáticos, além de passarem a prescrever cirurgias, transplantes, hemodiálises, recursos escassos e raros em Cuba e desnecessários. Se o projeto dos médicos cubanos fosse para ensinar nas Faculdades de Medicina brasileiras o que eles aprendem e aplicam em Cuba, este projeto seria enorme evolução na saúde dos brasileiros. Se o modelo de medicina natural é tão bom, porque o Governo brasileiro não traz os professores de medicina de Cuba para ensinarem nas Faculdades de Medicina brasileiras?

        4º Logo, os orientadores laboratoriais dos médicos brasileiros estarão buzinado sobre as maravilhas dos alopáticos nos ouvidos dos Médicos cubanos. Isto já deve estar acontecendo e o saber naturalista cubano será perdido em pouco tempo.

        5º A falha neste excelente projeto, infelizmente ocorre porque nem o Ministro da Saúde, nem o Ministro da Educação e o da AGU conhecem o modelo Natural de Cura formulado por Hering, as leis de Hahnemann, a hierarquia de Vithoulkas para se saber se pessoa está adoecendo ou se recuperando. Se soubessem, o MS, MEC teriam exigido que os Médicos cubanos tivessem trazido suas valises e mochilas curativas ou um avião da FAB teria ido a Cuba trazer as maravilhas curativas lá produzidas e praticadas pelos Médicos Cubanos. Se os Médicos cubanos tivessem vindo com a incubência de praticar o modelo de terapia Cubano no Brasil, nosso país e a população ganharia muito.

        6º Enquanto, o Modelo de terapias naturais de saúde for proibido de ser ensinado nas Faculdades de Medicina brasileiras, a saúde dos brasileiros continuará declinando, embora os grandes gastos com a saúde, e apesar da boa intenção dos Ministros da Educação, da Saúde e da AGU.

        7º O interesse das multinacionais fornecedoras de medicamentos para o Governo Brasileiro e equipamentos hospitalares é o que tem prevalecido na medicina brasileira.

        8º O Governo brasileiro tem a oportunidade de institucionalizar as terapias naturais, modelo de saúde que ao invés de manter o doente com suas doenças até a morte,

        Íntegra do ARTIGO, MAIS MÉDICOS. AUTORES Antonio Chiori Ministro da Saúde; Humberto Paim, Ministro da Educação e Luís Inácio Lucena Adams Ministro da Advocacia Geral da União. Publicado Estado de Minas 12/04/2014 – Sábado. Pág. 9.

        “As críticas ao Mais Médicos recaem sobre as ações de curto prazo, perdendo de vista que o pilar do programa é a formação de profissionais. O Brasil atingiu, em abril, a meta de 13 mil médicos a mais nas unidades básicas de saúde, consolidando um programa que provocou um vivo debate acerca do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o Mais Médicos, o governo federal, em parceria com estados e municípios, está construindo um modelo aprovado principalmente pelos usuários da rede pública.

        Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 84,3% da população é favorável à iniciativa. Levantamento do Ministério da Saúde aponta aumento de 27,3% do atendimento a pessoas com hipertensão e de 14,4% a pessoas com diabetes. São dados preliminares. O real impacto sobre a saúde e a qualidade de vida dos 45,6 milhões de brasileiros beneficiados será considerável em três anos.

        Nos últimos meses, foram feitos ajustes importantes para uma gestão mais eficiente, como a publicação de regras que tornam mais transparente a responsabilidade dos municípios na oferta de moradia e alimentação aos médicos participantes. Outra ação foi o aumento do valor repassado no Brasil aos médicos cubanos. Eles passaram a receber o equivalente a R$ 3 mil por mês, valor equiparado à bolsa dos residentes de medicina brasileiros.

        Neste momento de reestruturação da atenção básica e do ensino médico no Brasil, está claro que precisamos do reforço de médicos. Os questionamentos sobre o programa deixaram esse viés e migraram para motes legais, sendo o principal deles o formato da contratação dos médicos cooperados.

        Não há irregularidade sobre a cooperação entre o Brasil e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A lei que instituiu o programa autoriza o chamamento de médicos brasileiros e estrangeiros, bem como a celebração de acordos internacionais. As afirmações de que profissionais estariam submetidos a um modelo de relação trabalhista não procedem. A legislação e a jurisprudência afastam essa relação de emprego nos casos em que é preponderante o elemento pedagógico baseado na integração entre ensino e serviço. Isso se aplica para estágio, residência médica e também para os médicos do programa federal.

        Esses profissionais estão inseridos num contexto em que a finalidade é a promoção do aperfeiçoamento profissional na atenção básica de regiões prioritárias para o SUS. O foco do debate tem recaído sobre as ações de curto prazo, fazendo com que elementos estruturantes passem despercebidos. Até 2018, serão 11.447 novas vagas de graduação em medicina e mais 12 mil vagas de residência médica. Essa expansão tem por base inovações para desconcentrar a formação médica.

        Cerca de 30% das novas vagas de graduação serão ofertadas pela rede federal, especialmente pelos novos câmpus do interior do país. Para os cursos privados, somente serão autorizadas vagas em municípios previamente estudados pelo Ministério da Educação. Além disso, o Conselho Nacional de Educação aprovou novas diretrizes curriculares, priorizando o internato na atenção básica e nos serviços de urgência e emergência do SUS como forma de fortalecer a medicina geral de família e comunidade.

        O compromisso do governo federal é pautado pela garantia de um ensino voltado às necessidades sociais de saúde. Esse mesmo compromisso orienta a seleção de médicos brasileiros e estrangeiros para expansão imediata da assistência à população. Ao conjugar, por meio do Mais Médicos, o atendimento da demanda por assistência básica em saúde e a reestruturação da formação de recursos humanos, estamos realizando um grande revolução no ensino médico no Brasil.”

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  19. A maioria sim dos Médicos oriundos das classes mais abastadas já entram deformados na Universidade Pública. Querem só ganhar dinheiro e não pagam diretamente por isso. A população os banca e o retorno é quase zero( só não para si próprios). Arrogância no consultório e mercantilismo ao invés de humanismo.Não sou médico, sou paciente. Algo tem que mudar neste país. Se não querem trabalhar para população deixem os que querem, os que tem uma vocação social e humanista. Tô cansado de ver médico receber e não pisar no plantão( subcontrata um iniciante). Que me desmintam os dedos de silicone !!!!

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  20. Caros Professor e Cris,
    Acabo de oferecer à minha ajudante de todos os dias o texto do professor. Ela, aos 30 anos, está tentado completar seu ciclo de estudos no ensino público. Como usuária do SUS, que infelizmente não sou porque vivo aprisionada pelos planos de saúde classemedianos, espero que ela possa entender e ser crítica ao Mais Médicos, se assim o quiser!!!! Precisamos permitir que essa discussão possa de fato interessar a todos nós…
    Agradeço a vocês pela oportunidade de poder de forma clara e tão bem fundamentada expressar as vozes daqueles que não se sentem ouvidos pelas elites… Já há algum tempo nos perguntávamos: onde estão e quem são a elite no Brasil? Pudemos verificar nesta luta (luta?) dos médicos, aliás, do CFM, onde mesmo ela se encontra.
    Parabenizo ainda a Presidente Dilma, que aliás, comprou outra briga ao VETAR o Ato Médico, como psicóloga vejo com ótimos olhos o VETO!
    Começo a sentir que somos um país do PRESENTE… tantas vezes ouvia na minha infância que seríamos do FUTURO.
    Espero deixar aos meus filhos e netos um lugar, um país mais igual e mais humano.
    Viva o Povo Brasileiro!!!!!
    Abraços de Salvador,
    Taiane De Filippo.

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  21. Sou medico, já trabalhei pelo SUS, o que mais intriga é a incopetência na admistração publica, sai porque não suportei a classe politica a que era subordinado…cada secretário de saude que entrava, deixava o sistema pior, uma verdadeira m… SOU CONTRA A QUALIDADE E QUANTIDADE DE POLITICOS CORRUPTOS QUE AI ESTÃO E NÃO HA PODER QUE OS TIRA!

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  22. O texto é bom! Porém, o autor revela que teve uma formação precária em Psicologia e Psiquiatria! Em psicometria, foi pior ainda. De fato, a formação de médicos não está adequada.

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  23. Excelente texto, traz diversos elementos sobre o trabalho do médico, reconhece os meandros políticos e ressalta muitas das necessidades da área. Destaco também o fato do autor pontuar as questões sociais e raciais. Entretanto, a meu ver, considero-me uma abelhuda nesta questão, em alguns momentos o texto responsabiliza “pessoas” pela má qualidade da saúde pública brasileira em detrimento das instituições. Sim, é verdade que muitos profissionais tiram pequenas vantagens cotidianas e acabam por prejudicar seus pacientes. Também é inegável a necessidade de médicos no Brasil e que os cubanos deveriam ser muito bem vindos uma vez que seria uma estupidez não querer ajuda externa já que precisamos e ponto. Porém é notável também que no Brasil não há um planejamento consistente para melhoria da saúde pública, assim como não há na educação, segurança e outros serviços básicos. Atrair bons médicos requer investimento. Não estou falando apenas de salário, já que este está bem acima da média brasileira, como apontado pelo autor, mas de infraestrutura e plano de carreira adequado. Sim, infraestrutura! Trabalhar por “amor a arte” é uma forma romântica de olhar os problemas que vivemos. O fato é que a rotina é massacrante. Trabalhar dando o máximo de si, tentando fazer o melhor todos os dias, sem recursos e equipamentos básicos e sem perspectiva de melhorias futuras, nadando contra a correnteza, não é nada fácil. Afinal, somos todos humanos! Não estou dizendo que concordo, que apoio as improbidades, acho desprezível a atitude destes médicos que só agem em benefício próprio, só acho que o problema é muito maior, tem raízes na história e na forma como encaramos a corrupção, seja ela pequena, no cotidiano até a que envolve os grandes políticos.

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  24. Parabéns, excelente reflexão. Como enfermeira da ESF compartilho e concordo com as reflexões e angústias da formação médica, da visão do SUS e de sua defesa, do corporativismo da categoria médica, da relação médico-paciente e dos demais problemas apontados. Acredito no fortalecimento do SUS a partir da valorização da Atenção Primária. Texto maravilhoso, vale a pena ler e refletir!

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  25. ….Concordo e acrescento ainda que as filas de espera nas instituições privadas são enormes, porém não divulgadas pela mídia eu já fui vítima desta situação como paciente, quando tive fratura do nariz, por uma queda de bicicleta e procurei o serviço privado, com sangramento intenso pelo nariz necessitando de atenção imediata e a recepcionisata da instuição privada ficou presa a detalhar os preços da tabela caso fosse preciso fazer tumografia, chamar cirurgião bucomaxilofacial, anestessista etc…. Dirigi-me então a uma instituição pública e fui prontamente atendida com todo o respeito e urgência que o caso merecia. Outra situação enfrentada foi quando em passeio de férias com a família, minha filha desidratou por vômitos incoercíveis que não cessava mesmo administrado soro oral lentamente e enfrentei uma fila de longa espera e intensa burocracia para o plano de saude liberar o atendimento, um caso de desidratação infantil, já sem diurese, olhos fundos, apatia e tive que esperar quase 3 horas depois de muita reclamação que fiz, tendo que me identificar como enfermeira e conhecedora da gravidade do caso, para ser atendida e diga-se de antemão que o Hospital Antonio Prudente em Fortaleza-Ce é tido como um dos melhores da rede privada em pediatria, que eu não troco pelo Hospital Infantil Lucídio Portela de Teresina onde trabalho, onde qualquer auxiliar de enfermagem por mais leiga que seja, sabe identificar sinais de desidratação e o perigo da demora no atendimeto. Esta situação na rede privada realmente a mídia não divulga, nem tão pouco as experiências exitosas na rede pública.

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  26. Tantas brigas e discussões… mas na hora em que o indivíduo está sofrendo ou morrendo, ele não se preocupa com celeumas ideológicas. O que interessa ao paciente é que o médico que está diante dele seja o melhor profissional possível. Um ser humano ideal e um médico ideal, tecnicamente falando (o que é muito caro de se formar). Não é à toa que os políticos do PT nunca procuram cubanos, eles vão direto para o Sírio-Libanês. Prezados, o médico é uma pessoa, não uma categoria profissional. Não há como falar desses profissionais de modo tão simplista, como li nas linhas acima. Há Patch Adams, há Semmelweiss, há Dr. House, há Dr. Jekyll, há Mengele, há Che Guevara, há Kervokian. São infinitas índoles, personalidades, objetivos e papeis na realidade. A ética não é coletiva, é do indivíduo e a maioria dos meus colegas é de bem, mas nunca vou elogiar ou atacar uma “categoria” inteira por causa de estereótipos. O que se pode “generalizar”, ou melhor, atribuir como característica da maioria, é o mesmo que se encontra para a maioria das pessoas: os médicos também têm família, amam, estudam, se dedicam, pagam impostos, compram livros. As pessoas que cobram que os médicos façam o bem, porém, não fazem elas próprias bem algum, não são melhores do que os médicos maus ou egoístas. À luz do personalismo, altruísmo excessivo e egoísmo excessivo são, ambos, nocivos para os indivíduos e suas relações. Todos somos iguais em valor, diferentes em nossas características, ocupamos nosso lugar no mundo. Porém, na realidade material, não há médico que salve ou faça bem sem condições adequadas. É ilusão alguém achar que todos podem receber boa medicina, boa educação, boa segurança, boa alimentação, sem terem pago a conta. E o Governo nunca vai pagar a conta. Talvez porque a maioria da nossa população não produza o bastante para cobrir os próprios gastos, algo piorado pela péssima gestão e a onipresente corrupção. Trabalho no SUS da Amazônia e, depois de 10 anos de murros-em-ponta-de-faca, cheguei à triste conclusão de que o SUS não funciona porque é inviável. Por mais que queira fazer o bem, nunca tenho à disposição os materiais que preciso para ajudar de maneira aceitável. Hoje, penso que quando as pessoas cuidarem de si mesmas, estudarem, trabalharem, assumirem a responsabilidade sobre o próprio desenvolvimento, o próprio sustento, o bem da família e da comunidade onde vivem, não será necessário Governo, não haverá essa carga tributária ridícula, não teremos “atravessadores” no governo que ficam com o nosso dinheiro e não se interessam, realmente, pelo bem de cada um de nós. Sou, sim, o que se pode chamar de direita cristã protestante calvinista. Acredito em Deus, no esforço próprio, na responsabilidade, na família e sempre desconfio dos que detêm o poder de Estado. Pago meus 40% de carga tributária, assim como todos, mas pago de novo por educação e saúde da minha família. Sustento também mais de meia-dúzia de famílias, indiretamente, com o meu trabalho. Eu não me acho melhor do que ninguém por isso, mas fico triste quando vejo que a grande parte das pessoas não estuda, não se esforça, não dá valor para a família, para Deus e acha que tudo tem de ser fornecido pelos outros, através do Governo. Se o meu modo de agir for algo ruim, então juro que não sei o que é bom. Só me resta a certeza de que o ideal está longe de ser Cuba, China, Venezuela ou o Norte do Brasil. E nem a escandinávia ou o Canadá, antigos mitos da excelência em saúde pública, estão se salvando, atualmente.

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    1. Boas reflexões! Obrigada por deixar o comentário aqui, Valdemar. Se você estiver certo, esperemos que um dia todos tenhamos chegado a tal nível de evolução que possamos prescindir de governos, com todos os defeitos que possuem. Abraços

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