Manifesto a favor do direito de divergir

Grafite de Leandro Larangeiras.
Grafite de Leandro Larangeiras.

Quando o jornalista Beto Trajano trabalhava em parceria com o Ministério da Cultura, em 2007, ele participou de uma edição da Teia, aqui em Beagá. Com a veia de agitador que ele sempre teve, começou a causar polêmica entre os participantes, ao defender mudanças no modelo das leis de incentivo à cultura, dentre outras questões.

Logo no primeiro dia, ao perceber que tinha virado, involuntariamente, um centro de discórdia, Beto transformou suas ideias num manifesto, ilustrado por seu amigo Leandro Larangeiras, e o distribui a todos.

Resultado: com um texto muito mais sóbrio, e com a temperança necessária, ele fez as pessoas refletirem sobre as diferenças de ideias e a falta que um pouco de tolerância faz. No final, aqueles que o tinham discriminado acabaram virando seus amigos.

O manifesto permanece atual ainda hoje:

Não sou igual a você

Topar de cara com realidades e ideologias diferentes da sua é algo estranho para qualquer pessoa. Nem sempre pode ser bom, mas sempre trará algum benefício. Crescer com as divergências, poder conhecer e aceitar diferentes formas de pensamento, ideologias e costumes é um grande desafio para o ser humano.

Saber que ao seu lado tem uma pessoa que pensa diferente de você e faz coisas que você não faz e vive outras realidades que nada tem a ver com a sua desperta emoções inesperadas em qualquer pessoa. Pode ser alegria, raiva, tristeza, amor etc. Não é possível prever como receberemos uma diferente forma de viver.

O que vale a pena quando o seu grupo entra em choque com outro grupo? Brigar, discutir, partir para a agressão – isso é fácil. Difícil mesmo é aceitar a ideia do outro e saber que, assim como você, o outro tem seus costumes, suas crenças e comportamentos e que ele vai defendê-los, assim como você defende os seus. Difícil é viver em paz com o vizinho totalmente diferente de você.

Se todos fossem iguais, a vida seria muito sem graça. Olhar para o lado e não ver nada diferente seria muito ruim. É um desafio para o ser humano conviver pacificamente com as diferentes formas de viver. Será que você consegue?”

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

6 comentários

  1. Em “Admirável Mundo Novo”, Aldous Huxley criou em 1931 um mundo que parecia ideal. Era o paraíso da igualdade, em que as crianças, praticamente desde o nascimento, viviam em comunidade e gozavam de grande liberdade, principalmente sexual (o sexo entre crianças era normal, não precisavam fingir que brincavam de médicos), sem preconceitos de qualquer espécie. Mas era impossível satisfazer a todos, nesse Éden artificial, criado pela inteligência. Para um desses insatisfeitos, a descoberta de um mundo antigo, num lugar esquecido da periferia (no México, se não me falha a memória), com todas as mazelas que conhecemos bem, foi como a descoberta do Paraíso. Em qualquer dos mundos que vivamos, dificilmente escaparemos, como conjunto de seres humanos, daquilo que disse Shakespeare de nosso mundo: “Cheio de ruído e fúria e sem significado algum”. Parabéns, Beto Trajano, pelo manifesto. Viva a diferença! Ruído e fúria: isso não é mesmo nada bom, mas muito pior é a paz dos cemitérios (de ideias).

    Curtir

  2. Estava pensando em escrever um post listando as coisas que você deve ou não deve fazer de acordo com o senso comum internético (tem um nome feio que se parece com “pagar regras”). Mas já que tocou no assunto, inicio minha lista aqui.

    Você *tem que*:
    -gostar de bacon;
    -gostar de Nutella;

    Você *não deve*:
    -usar Comics Sans em textos e apresentações;
    -tirar fotos em frente ao espelho;
    -pior se tira fotos fazendo biquinho (duck face);

    []s,

    Roberto Takata

    Curtir

  3. Gosto muito de lembrar que democracia, muito mais do que “vitória da maioria” (a maioria não precisa de democracia para vencer e se impor…), é o reconhecimento do direito à DIVERGÊNCIA, da oposição. E respeito à minoria!

    Curtir

Deixar um comentário