Os prós e contras de viajar de busão e avião

A cada ano as companhias de ônibus perdem mais passageiros e as rodoviárias se esvaziam mais. Por outro lado, o caos aéreo nos aeroportos, especialmente em Congonhas e Cumbica, não precisa mais de feriadão e data especial para acontecer. Não existem mais vôos sem atrasos.

A conta me parece, portanto, muito simples. Temos que incentivar a viagem de ônibus em distâncias não tão longas, de até oito horas. Como de São Paulo para Beagá e vice-versa.

Vou levantar essa bandeira com o mesmo vigor didático com que explico aos paulistanos que aquele queijo frescal sem gosto que eles chamam de “queijo minas” NÃO é queijo minas (o que será assunto de um post algum dia).

Então vamos lá:

VIAGEM DE AVIÃO

Para chegar a Congonhas, é preciso pegar o metrô até o São Judas e depois um táxi até lá, ou pegar um carro pela 23 de Maio, que invariavelmente está engarrafada. De forma otimista e sem trânsito pesado, gasta-se meia hora da região central.

É preciso chegar com 40 minutos de antecedência para embarcar , ou mais, se você não tiver feito check-in pela internet ou se precisar despachar bagagem. Vamos colocar 50 minutos.

Até no dia em que embarquei na hora certa pela primeira vez na vida (anteontem), houve um atraso de 45 minutos para decolar. Ou seja, não existem mais vôos sem atraso.

A viagem leva uma hora.

Mais dez a 15 minutos de espera pelo ônibus que me leva, em uma hora, até o centro de Beagá.

Mais um táxi de dez minutos até em casa.

Resultado: metrô – táxi – avião – ônibus – táxi e tempo mínimo de 4h30*.

Se a saída é de Guarulhos, o cálculo aumenta para mínimo de cinco horas e o trajeto passa a ser: metrô – ônibus – avião – ônibus – táxi. Você não pára, fica circulando de um lado pro outro, cansa mais, não consegue dormir, porque tem que interromper a toda hora o sono para mudar de embarcação.

Se está chovendo, o aeroporto de Confins fecha. Já aconteceu comigo de ter que esperar até o vôo das 15h para embarcar, quando originalmente eu tinha que ter saído às 8h. E já aconteceu de eu embarcar, Confins estar fechado, seguir para Brasília, esperar um tempão lá, voltar, Confins continuar fechado, ficar dando voltas no ar e finalmente pousar. Tempo total nesse dia: nove horas (guardem isso para comparações em breve!).

Não bastasse o tempo e a amolação de mudar de veículo a toda hora:

  • a passagem de avião costuma ser mais cara. Os preços promocionais são sempre em horários impossíveis, você nunca encontra vôo de R$ 80 numa sexta à noite ou sábado de manhã.
  • a poltrona é mais apertada e desconfortável e sempre há uma ou duas pessoas do seu lado.
  • se você tem sinusite ou outro problema do tipo, a descida é um tormento, porque dói, literalmente.
  • se tem que pegar mala, a espera na esteira é lentíssima.
  • corre-se o risco de overbooking, cancelamentos e escalas não avisadas na hora da compra da passagem.
  • se você consegue um vôo num horário bom o suficiente pra aproveitar o fim de semana é sinal de que ou vai dormir às 2h de sábado, exausta, ou vai ter que madrugar às 5h de sábado para ter a ilusão de que vai embarcar no vôo das 7h (que sempre sai às 8h).
  • se o atraso supera o razoável e te dá fome, um pão de queijo de aeroporto custa R$ 5 e não há lugar para sentar. Deita-se no chão, vigiando as malas.

Você jura que nunca mais vai pôr os pés ali e pensa se realmente vale a pena seguir seu direito constitucional de ir e vir.

VIAGEM DE BUSÃO

Para chegar à rodoviária Tietê da região central, gasta-se exatos 25 minutos, de metrô, com duas baldeações. Você pára lá dentro e nada te impede de chegar cinco minutos antes da hora do embarque, porque sua passagem já está comprada, com assento reservado, então não há espera.

Caso não tenha comprado, pode ir a qualquer guichê que nunca me aconteceu de não ter assento à venda, mesmo em alta temporada (porque eles aumentam o número de ônibus).

O tempo de embarque leva, no máximo, com atrasos de feriadão de Carnaval, dez minutos. Na normalidade, não há atrasos.

A viagem leva oito horas, mas você está num só veículo, então pode tentar pegar no sono e, com sorte, dormir. Sem sorte, cochilar ou amolecer o corpo. E sempre há os que apelam para o Dramin, que é eficaz. Então, você pode partir à meia-noite, ter sua noite de sono normal e, sem perceber, chegar ao destino de manhã!

Da rodoviária de Beagá à sua casa, mais dez minutos de carro.

Resultado: apenas metrô – ônibus – carro, num tempo máximo de 8h35. De três a quatro horas a mais do que um avião sem imprevistos (mas mais confortável), e menos horas do que um avião com imprevistos (ainda mais confortável)!

Além disso:

  • você pode viajar na chuva.
  • fora da alta temporada, você vai viajar com a poltrona do lado vazia, e poderá se esticar.
  • você pode inclinar bastante o banco, que é confortável.
  • você sempre vai pagar na faixa dos R$ 85, independente do horário ou da época do ano, com reajustes tabelados e esporádicos (o que os torna justos).
  • sua viagem não será cancelada, mesmo que haja três passageiros no ônibus.
  • assim que você sai do ônibus, um funcionário da companhia abre o porta-malas e retira as malas na sua frente, você não tem que ficar 15 anos esperando na esteira.
  • e o pão de queijo da rodoviária de Beagá custa R$ 1,50 e é um delícia.

P.S. Escrevi este post com base nas minhas experiências. Pode ser que as de outras pessoas tenham sido mais traumáticas de ônibus que de avião, mas falo com alguma “autoridade” de quem mora fora da terra natal há três anos e viaja todo mês.

P.S. 2. Se houver quatro pessoas para rachar combustível e alguém que adore dirigir, como eu, a viagem de carro ainda pode ser uma boa opção.

* Na primeira vez que fiz o cálculo, esqueci de contar a uma hora de viagem de Confins a BH, de ônibus. Portanto, a correção tornou este post ainda mais favorável aos ônibus! 😉

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

31 comentários

  1. Concordo integralmente…
    Fiz esta troca de avião por onibus para ir de SP p/ Curitiba.
    Com avião a experiencia foi terrivel, a viagem demora 40 minutos + a soma de todo tempo gasto + atraso na decolagem transformou a curta viagem em um transtorno de 9 horas, sendo que de ônibus levo apenas 6h30.

    Muito bom o texto, parabéns!
    Ps. Aguardo ansioso pelo post do queijo de minas que não é de minas =)

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    1. Adoro encontrar outras pessoas que concordam que ônibus é melhor! 😀
      Pelo menos pra distâncias como Beagá, Curitiba, Rio, interior… né?
      Volte sempre, logo teremos o post do queijo minas já prometido duas vezes! 😀

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  2. Li em algum lugar sobre uns comedores de pão de queijo que nem voce, que tem um grupo de caronas pra BH, onde todos racham a gasolina e tal.

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  3. faz sentido. o problema é quando há duas ou três pessoas conversando alto dentro do ônibus a viagem inteira. sem falar de crianças chorando no seu ouvido… então, depende muito da viagem… no fundo, a diferença entre as duas situações fica no acaso. na sorte do dia.

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  4. Oi Kika! Concordo 100% com você. Há três anos faço a viagem Petrópolis – BH pelo menos uma vez por mês e nas poucas vezes em que fui de avião me arrependi. Gastei muito tempo antes da viagem (descendo a serra de Petrópolis para o Galeão ou Santos Dumont no Rio) e o aeroporto de Confins ainda é naquela “lonjura”.
    Por mais cansativas que as 6h de ônibus possam parecer, nada como chegar na rodoviária logo ali no centro de BH e em no máximo 20 minutos estar no destino final.
    Acho que avião só vale a pena para longas temporadas.
    Parabéns pelo blog, gosto muito!

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  5. Ei Cris, vi o link para o seu post no Orkut e resolvi comentar. Concordo bastante com o que você escreveu.

    No meu caso, meu trajeto é Macaé – Belo Horizonte, o que equivale a 12 horas de busão. O preço? 140 por passagem.

    Como tenho que ir e voltar para BH toda semana por causa do mestrado (felizmente não agora no período das férias acadêmicas), acaba que fico sonhando com um avião…

    Contudo, quando for transferido para o Rio de Janeiro, a discussão que você lançou volta a tona. Ônibus do Rio para BH são 6 horas e meia de viagem, horários bons e relativamente baratos. Contudo, o meu local de trabalho lá no Rio vai me permitir ir A PÉ até o Santos Dummont e a passagem aérea é, no máximo, 150% do valor da passagem de ônibus.

    Logo, o avião volta a ser atrativo por dois fatores: o gasto de tempo e dinheiro com transporte até o aeroporto fica MENOR do que o gasto até a rodoviária e poder dormir em casa um dia a mais por semana não tem preço ^^.

    Grande abraço.

    P.S: Fiquei sabendo que você lançou livro, é verdade? Meus parabéns!

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  6. uma coisa pra mim inesquecível em viagens de ônibus com mais de 12 h: uma maça comida pela metade indo e voltando dentro do ônibus, embalagens de cheetos e garrafinha de água. Aí uma hora, eu já fula da vida, levanto e cato a maça e a garrafinha. o pacote de cheetos sumiu

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  7. Oi Cris.
    Gostei muito da matéria.
    Eu viajo muito de ônibus, principalmente porque ultimamente ando meio cismado com avião…
    Mesmo que assim não fosse, ainda assim acho que o ônibus tem muitas vantagens que devem ser contabilizadas.
    A principal delas é a certeza de que o preço da passagem será sempre o mesmo, seja comprando com um mês de antecedência, seja comprando uma hora antes do embarque. Desse modo, o passageiro terá a liberdade de programar a viagem em “cima da hora”.
    Outra vantagem é que as rodoviárias ficam em sua maioria próximas ao centro das cidades, o que implica no menor gasto com taxi no trajeto “casa-rodoviária, rodoviária-casa”.
    Quanto ao tempo de viagem, no meu caso, que moro em Presidente Pudente (SP) e viajo pra BH, o tempo de ônibus é de 16 horas. Muito tempo, sem dúvida. Mas a viagem de avião fica no mínimo, 6 horas! Explico: faço baldeação em São Paulo, cujo tempo de espere pelo segundo voo pode variar de uma hora e meia até 4 horas.
    Outra vantagem de ônibus é que as viagens saem na parte da noite. Ou seja, pra quem consegue “apagar” no ônibus, ganha-se uma noite com a viagem.
    Beijão

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  8. minha experiência é bastante diferente.
    pra mim, fica praticamente impossível voltar pra casa de ônibus, já que moro em Belém, mais de um dia de viagem de sp.
    outro dia, descobri uma empresa regional ótima, Puma Air, que só faz voos SP-Belém-Macapá. Sai de Cumbica (pra chegar lá faço o esquema metro-onibus convencional) e, como é uma empresa pequena, nunca tem fila no check-in. O voo nunca atrasou, uma vez até chegou antes do previsto.

    Se você pegar o SP-Belém, que sai 13h, eles servem almoço (com sobremesa!) a bordo. O preço da passagem é competitivo: nunca paguei mais de 300 por trecho. Como pouca gente compra, sempre voei com poltronas vazias ao lado.

    Acho bem relativa essa história de que não existem voos sem atrasos. Mesmo viajando de Tam ou Gol só tive problema quando a Tam cancelou um voo ano passado. Devo ser um sortudo. rs

    bjs

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    1. Comigo sempre atrasa! Ontem mesmo embarquei com 20 minutos de atraso e cheguei mais de meia hora depois da previsão inicial, sendo que não havia nenhum problema com o tempo e os aeroportos estavam até relativamente vazios!

      Mas fiz a ressalva no post de que ônibus só rola em curtas distâncias. Realmente, pra Belém não compensa.

      bjos

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  9. Interessante seu comentário. Aqui em Campinas, onde moro, a prefeitura acabou de criar uma área exclusiva para ciclistas em algumas ruas e avenidas importantes. Sintoma de uma conscientização? Pode ser. Mas ainda me parece que o número de carros em circulação está cada vez maior. Não consigo avaliar ainda.

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  10. Na minha primeira viagem de avião, na volta daqui de Vitória para o Rio de Janeiro eu tive uma experiência traumática, algum caminhão derramou óleo na pista e acabou que meu voo que estava marcado pra 10:12 foi cancelado e minha passagem foi remanejada para 17:00. Ainda vim para cá de avião mais um vez, mas ontem, é ruim que eu vim de avião, vim de busão mesmo, e semi-leito (não tinha leito para Vitória =/).

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  11. Com tudo isso, vc esqueceu de comentar qual é o mais perigoso, que é o ônibus, o avião hoje ainda é o mais seguro do mundo, acidente com mortes em onibus vc ve todos os dias, já com avião que a notícia é maior mas não se vê tal notícia de mortes com avião… viajo todos os anos para passar as férias no Ceará, e nunca passei por tudo isso que vc comentou, é só se antecipar… de ônibus o meu trajeto custa 450,00 fora o que eu gastaria pra comer em 3 dias de viagem, , de avião a última eu paguei 349,00 para viajar 5 horas e ainda como e bebo de graça.. sacou..?

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  12. Oi Kika!
    Depois de algum tempo, volto a comentar no teu blog.
    Eu adoro viajar! Nas minhas férias, ou em algum feriado prolongado – não todos -, eu gosto de fazer passeio para fora de Porto Alegre, uma capital com mais de 1,4 milhão de habitantes, só um pouquinho menos que BH… risoss.
    Eu aprecio viagens de avião, de ônibus, de carro, van de excursão, etc.
    Dirigindo meu possante, o mais longe para onde eu já viajei foi Garopaba, em Santa Catarina. Levei minhas filhas caninas junto. Claro que, teve uma parada no meio do caminho para elas fazerem suas necessidades e beberem água.
    Gosto de viajar de ônibus porque dá para olhar a paisagem, tentar descobrir em que cidade a gente está, além de poder reclinar a poltrona um pouco mais (mas sempre cuidando para não incomodar o passageiro de trás), e poder ouvir música no celular, entrar nas redes sociais (isso se a gente tiver bateria suficiente) e também poder dormir um pouco, se a viagem for à noite e levar algumas horas.
    Foram poucas as vezes em que viajei de avião, pois sempre tive poder aquisitivo baixo… Mas, essas vezes valeram a pena! Foram ótimas experiências.
    Ainda pretendo conhecer muuuuuitos lugares deste enorme Brasil! E também visitar outros países, por que não sonhar? Hoje temos uma maravilha chamada Google Tradutor, que pode auxiliar a gente no que diz respeito a outras línguas.
    Abraço,
    Guilherme.

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