O caminho para a Felicidade é o erro

Para pegar na locadora: BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (Eternal Sunshine of the spotless mind)
Nota 9 – crítica escrita em 06/08/2004

Imagine-se na seguinte situação: você tem um namorado e é muito feliz com ele. A relação vai-se desgastando aos poucos e, decepcionados, vocês brigam e se separam. O que você gostaria de fazer logo depois disso? Nove entre dez pessoas diria que excelente seria esquecer completamente o amor frustrado, simplesmente apagá-lo da memória e partir para outro, sem dores ou mágoas na memória.

Brilho Eterno de uma mente sem lembranças traz este assunto – tão batido, de certa forma – de uma maneira absolutamente original, tanto em seu formato, como no desenvolver da história.

Clementine (muito bem interpretada por Kate Winslet) é uma daquelas mulheres impulsivas, que seguem ao pé da letra a filosofia do Carpe Diem. Quer mais é ser feliz e não se incomoda em tomar alguma atitude precipitada se isso for lhe trazer a almejada felicidade. Conhece Joel (Jim Carrey, sempre ótimo ator, e numa escolha acertada). Gosta dele. Investe nele. E pronto.

Mas um dia, como é normal de acontecer em qualquer relacionamento amoroso, os dois se cansam um do outro. E ela, impulsiva e a fim de seguir em frente, toma mais uma atitude drástica: apaga a existência de Joel da memória, com a técnica avançada do doutor Howard (Tom Wilkinson). E é o que Joel decide fazer, depois de se ver solitário e abandonado até mesmo das lembranças da ex-namorada.

A partir desse ponto, Brilho Eterno… explora a história de amor dos dois em vários desenlances, de acordo com a linearidade do pensamento de Joel. E como memória é a coisa mais ilógica e pouco linear que existe, ainda mais se controlada pela aventura sentimental do cérebro pensante, o roteiro dá saltos no tempo, transfigura rostos, faz trocadilhos e repete passagens sem a menor cerimônia.

É através desse formato inusitado que Kaufman (de Adaptação) nos faz refletir sobre a importância das experiências para a formação do nosso caráter e, principalmente, para nosso desenvolvimento e amadurecimento como seres humanos. Disfarçado em historinha de amor, o filme discute a ética da ciência sobre a verdade da experiência, além de explorar a inevitabilidade de um “destino” (não o destino místico, mas a fatalidade de nos apaixonarmos por uma pessoa sempre pelo mesmo motivo e de isso não fugir à nossa percepção, mesmo sem a prova física de uma lembrança).

A mente sem lembranças tem um brilho eterno, tem aquele frescor de novidade sem remorsos e de futuro límpido pela frente. Mas carece de marcas que só a experiência propicia e que são as únicas responsáveis por uma felicidade completa. Afinal, a vida não é o ponto final de uma jornada, mas a jornada em si, e todos os erros e acertos que enfrentamos no meio do caminho. Ser feliz é curtir esses momentos, tendo a certeza do registro nostálgico que fica perene na memória.

Joel e Clementine erraram ao se conhecerem? Pode ser. Mas acertaram ao permanerem no erro.

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

9 comentários

  1. Oi Cris!
    Obrigado por ter passado lá no blog! Fiquei mto feliz em ver seu comentário.
    By the way, uma vez meu professor da faculdade deu uma aula todinha explicando toda a simbologia dese filme… Tinha visto uma vez e ñ tinha gostado mto, achei confuso.
    Aí sentei pra assistir de novo e mudou toda a minha visão.
    Não é uma historinha boba de romance… Tem uns pontos fortes, reflexivos… Principalmente no final em que eles se ”aceitam”, sabendo dos riscos de um relacionamento etc.
    Vale a pena…
    Ah, ñ deu + uma vez a prova do trainee da FSP. =\ Não consegui ir pra outra fase.
    A gente vai tentando, né…

    Valeu..
    Bjs e volte sempre! =)

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  2. Dois atores extraordinarios (tirando os coadjuvantes que tambem mandaram muito bem) num filme genial, não tinha como não dar certo.
    Jim Carrey sem comentários né… o cara não deve ter ganho um oscar ate hoje pq eu acho que os organizadores do evento conspiram contra ele (é a unica razão que eu consigo pensar pra ele nunca ter ganho uma estatueta).
    E Kate Winslet, bom… até agora eu só tinha assistido Titanic e O Leitor e ja a considerava uma explendida atriz, mas depois de ve Eterno Brilho… eu me apaixonei perdidamente por ela…rsrs… alem de linda é genial.
    Esse filme é um daqueles que consegue te prende do começo ao fim e quando ele esta para acabar, agente não consegue aceitar (quando a Clem fala “Well Joel, this is it come all soon(?)”, da ate um aperto no coraçao…rsrs), pq nao queremos fugir da realidade (ou a falta dela) que o filme nos insere. E isso se traduz no fato de que mesmo depois 7 anos ele é comentado ate hoje como um dos melhores filmes ja feitos.
    É melhor eu termina por aqui se nao eu descrevo o filme inteiro…
    Well, this is it…

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